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Published: November 9th 2009
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Primeiro domingo de novembro, dia de
maratona em Nova York. Uma das mais famosas, se não a mais famosa, maratona do mundo. Claro que eu queria ir. Mas claro que também estava com preguiça. Quem me conhece sabe que estou me tornando mais e mais caseira. Além da conta, além do saudável. Eu sei, eu sei... Mas fui. Ainda bem. Acho que, ao lado da minha experiência na
Abyssinian Church, foi o momento mais emocionante (e feliz) que presenciei aqui so far.
Decidi ficar na 110 st, ponto de chegada dos corredores ao
Central Park. Lá, eles já estariam na fase final. Dos 42 quilômetros da prova, já teriam percorrido cerca de 35 quilômetros. Haja fôlogo. No local, encontrei uma banda de jazz, o que me fez lembrar do maravilhoso show do
Wynton Marsalis na sexta... Cheguei no horário perfeito. Uns 15 minutos antes das mulheres que lideravam a prova passarem - a largada da competição feminina acontece cerca de meia-hora antes da dos homens. Mas antes delas, pouco a pouco, passavam os cadeirantes, que largaram ainda antes. Sem comentários. Foi um tapa na cara ver essa gente forte, feliz, determinada, impossibilitada de andar mas nem por isso se sentindo limitada. E eu que ponho tantos
limites à minha frente...
O melhor da prova, definitivamente, não é ver o pelotão de elite. Os atletas amadores são o grande show. E o público, que não para de incentivar.
Run, run! Good job, you look good! You´re almost there! Go France! Go Julien! Avanti Italia! Go Mexico! Argentina! Go Cindy! Keep running! Goooo Braaziiiiiiiilllll! Lendo a nacionalidade e muitas vezes o próprio nome dos corredores nas camisetas, o público incentiva, gritando ou sussurando, quando eles passam, correndo ou andando, não importa. Lembrei mais de uma vez da minha amiga querida Ana Landi, minha "amiga atleta". Ela participou da maratona no ano passado. No final de 2007, pela viagem do MBA, vivemos ótimos momentos, vários regados a vinho tinto, em Washington, Chicago e nessa cidade maravilhosa também. Quem sabe um dia nós não corremos juntas a prova (ai ai ai, preciso superar o meu sedentarismo)... Por que não? Temos um "projeto conjunto" que mira NY no futuro próximo...
Depois de uma hora vendo pessoas de todas as idades passarem, achei que já era hora de ir embora. Mas como deixar de incentivar aquela gente? Afinal, quanto mais longe do líder da prova, maior a necessidade de incentivo...
Não consegui sair dali. Era como seu eu desrespeitasse aquelas pessoas que eu já admirava tanto. Meus braços, que aplaudiam sem parar, estavam doloridos. Os ombros, rígidos. As pernas também (prova do meu condicionamento zero). Fiquei. Bem depois, comecei a caminhar em sentido contrário, em busca dos últimos que para mim eram os primeiros.
No
Harlem, meu bairro nova-iorquino predileto, encontrei uma dupla cantando black music. Tuuuuuuudo de bom! Aí percebi que ao longo do percurso tinham vários músicos. Um pouco mais à frente, um cantor gospel. Depois, percussionistas com instrumentos africanos, inclusive
djembes (bateu uma saudade das aulas com a Beth Beli...). Keep walking, o número de atletas parecia não ter fim. Àquela altura, praticamente todos apenas andavam. Passou um cara carregando uma réplica (com certeza pesada) da Torre Eiffel. 45 km carregando aquilo. Promessa? Patriotismo? Não tenho a mínima idéia. Passou uma senhora japonesa, com uma sinuosa corcunda, acompanhada por duas mulheres mais jovens, talvez suas filhas. Uma delas carregava um cartaz.
Seiko, 75 anos. Foi mais um tapa na cara. E dona Seiko, com seus pequenos passos, firmes, one by one, com a calma peculiar dos orientais, não demonstrava cansaço, apenas determinação.
Eu não podia
mesmo deixar de prestigiar aquela gente. So, I kept walking. E continuava aplaudindo. Assim fui até encontrar o último participante, uma garota jovem, de cabelos crespos e ruivos, que olhava para as suas mãos, frias, mas aquecidas em algo que parecia uma mini manta. Estávamos na ponte que liga o Bronx a Manhattan. She kept walking. Acredito, sim, que tenha chegado até o final.
Segui a caminho do metrô. Por coincidência, passei em frente à Abyssinian. Como adoro o Harlem... Cheguei em casa e ainda tinha de preparar uma apresentação para o meu curso sobre Politics of International Economic Relations na
NYU. Deu preguiça. Lembrei daquela gente. Concluí o que tinha de fazer sem reclamar. E fui dormir com a sensação de dever cumprido.
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roberta
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Sil, pelo visto vc andou um bocado na contramão da maratona. Então não dá pra falar de preguiça... às vezes acho que vc não é nada preguiçosa, só fica falando isso, palavras ao vento!!!! Se fosse preguiçosa, não tava estudando, fazendo curso... tava tomando sol na praia!! bjim, continue caminhando, faz bem pra alma!