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"I love Paris in the springtime..." Paris está diferente, atualizada. Estão todos muito simpáticos e sorridentes com os turistas, todos arranham um inglês. Dá até pra sentir falta da má vontade dos parisienses para entender os visitantes e dos garçons mal humorados dos cafés. Estes ultimos foram substituídos por jovens estudantes, que aceitam trabalhar 12 horas por dia com contrato de estágio. Os velhos cafés perderam as pulgas para dois grandes grupos que compraram e pasteurizaram quase tudo: “FLO” e “Frerès Blanc”.
O tempo porém continua louco: chuva, sol, frio e calor, tudo no mesmo dia. A cidade muito bem organizada em modo ilógico, assaltos no metro, mendigos... isso também não mudou nada.
E é linda, é sempre linda!
Alguns neanderthalianos que visitam Paris costumam dizer:
-“...é um outro mundo”. Ah, mas isso digo eu!
Para conhecer como França e itália abordam o turista, e também a própria vida, basta visitar os sites de promoção turística oficiais de um e de outro. No de Roma, por exemplo, só se fala de datas e da importância dos prédios, monumentos e ruínas; enquanto no de Paris, apesar do seu urbanismo não menos importante, figuram as pessoas, os indivíduos que fizeram a
cidade tão especial.
E foi assim, em busca dos personagens históricos parisienses que comemoramos a semana das nossas “bodas de madeira”.
A viagem pode começar pelo rei Carlos V que construiu a “Bastille”, durante a Guerra dos Cem Anos, para ser o portal de entrada do bairro de “Saint-Antoine”. Reformada e ampliada a partir de 1370 para virar fortaleza de defesa e feita prisão Estadual após a guerra. Foi Luís XIII que começou a mandar prisioneiros para a Bastilha.
Em 14 de julho de 1789, o jornalista e fofoqueiro Camille Desmoulins, plantou-se em frente ao “Palais Royal” e depois saiu pelas ruas, dizendo para uma gente ja' bem de saco-cheio, que as tropas reais estavam por desencadear uma repressão sangrenta sobre o povo de Paris. Assim, a grande prisão do Estado foi invadida.
A multidão dirigiu-se primeiro para o “Hôtel des Invalides” e muniu-se de espingardas e canhões. Correu o boato de que a pólvora estava estocada na fortaleza da Bastilha. A armada massa, de marceneiros, sapateiros, escultores, operários, alfaiates e outros artesãos, correu então para lá e começou um tiroteio que durou 4 horas, culminado pelo incêndio que destruiu tudo. O que resta hoje é só uma
praça vazia, um obelisco, muita história e controvérsias.
Há quem sustente que a Bastilha era a mais pacífica das prisões. Limpa e bem decorada. Que o governador Laynay, nobre e educado, convidava os presos à sua mesa. Era tão pacífica que os carcereiros eram geralmente inválidos de guerra, sem um braço ou com perna de pau. Ninguém pensava em fugir.
Quando foi “traiçoeiramente” invadida, tinha apenas sete prisioneiros: quatro falsários, um tarado sexual (alí por um pedido da família ao Rei), e dois loucos.
Na aproximação dos invasores, o governador desarmou a guarda e os convidou a conversar. Durante as tratativas porém, Launay e seus homens foram trucidados covardemente. Sua cabeça foi feita pirulito na ponta de uma vara e conduzida pelas ruas de Paris. Dois soldados inválidos foram enforcados e outro teve as mãos decepadas, não bastasse a perna de pau. Era a primeira vez que a Bastilha via tanta atrocidade.
Será?
Bom, eu só sei que a partir dalí, os quadros políticos e sociais da França foram alterados, e o povo cansado do “Ancien Régime” e da autoridade do clero e da nobreza tomou o poder. Quem dera hoje aqui pros lados do fim do mundo!
Hotel des Invalides
E sua cupula dourada, vista da Champs Elysèes. Baseada nesse tipo de acontecimentos, tenho uma teoria que poderia explicar o grande orgulho que povos como o francês ou o estadunidense têm de si mesmos, apesar de qualquer mazela: a tomada do poder com as próprias mãos. Coisa que não aconteceu com o Brasil, que por mais que a independência estivesse à beira do inevitável, após diversas revoluções populares e de classes, D. Pedro I nos tirou o gostinho da boca. Subiu no pangaré às margens do Rio Ipiranga e gritou a famosa "Independência ou Morte!". E o desgramado escreveu até o hino, poxa! No fim das contas, os registros históricos atribuem a independência do Brasil a uma só pessoa e não ao seu povo.
Saco!
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Visitamos a casa de um dos meus autores franceses preferidos: Victor Hugo, autor de “Odes”, “Cromwell”,
“Les Misérables”, “Notre-Dame de Paris” (o do corcunda) - que dirigiu o interesse do mundo ao Medioevo -. Ele viveu na “Place des Vosges”, a mais bonita praça européia no mais antigo bairro de Paris.
Politizado, religioso (quem se lembra de "Les Tables Tournantes de Jersey”, não pode dizer que ele seja monoteísta), filósofo humano e social, o pensamento de Victor Hugo pode
parecer complexo e contraditório. É um reformista que deseja mudar a sociedade, mas não mudar de sociedade. Justifica o enriquecimento, mas denuncia a desigualdade social. É contra os ricos que não reinjetam lucros na produção, para o desgosto infinito da elite burguesa. Opõe-se à violência quando aplicada contra um poder democrático, mas a justifica contra um poder ilegítimo. E assim, em 1851, lança um chamado à luta que não é seguido, mas mantém sua posição até 1870, quando começa a Guerra Franco-Prussiana, que Hugo define "guerra de capricho".
O império é deposto em seguida e a guerra continua contra a república, mas a “fraternização” de Victor Hugo resta sem resposta, e em 17 de Setembro publica outro grito à resistência. Os republicanos moderados ficam horrorizados, mas o povo de Paris se mobiliza e lê em peso “Les Châtiments”.
Hugo era um homem coerente, não podia ser comunista:
“Compreendam-me: sou um homem de revolução. Aceito as grandes necessidades, mas somente sob uma condição: que sejam a confirmação dos princípios e não o seu desrespeito. Todo o meu pensamento oscila entre dois pólos: civilização-revolução". Em 1885, de acordo com seu último desejo, seu corpo foi enterrado no Panthéon em
caixão humilde, depois de dias de homenagens de 1 milhão de pessoas sob o Arco do Triunfo.
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(cont.)
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Mirella
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Q lindooo!!! Estava com saudades de ler seu blog. Meus parabens pelas bodas de madeira! Bj grande. Mirella