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Gargulas
Notre-Dame. Parede lateral. Os personagens de Paris não são só de carne e osso. Alguns seres de pedra são tão vivos e intrigantes que geram livros, filmes e desenhos animados.
Resolvemos visitar aquilo que é para mim a expressão máxima do gótico (1163 - 1250), no dia do nosso aniversário de casamento. E não à toa, pois Notre-Dame foi palco de vários outros casamentos reais e coroações, incluindo a de Napoleão Bonaparte.
Já na chegada de manhã, tivemos a surpresa de encontrar-la fechada para visitas, por ocasião de uma cerimônia de ordinação de novos sacerdotes. Mas não foi um mal. O evento criou uma atmosfera especial: os sinos que tocavam baixos, lentos, constantes; as caixas de som que emitiam cantos liricos do coro; cheiro de incenso no ar; a multidão de fora acompanhando tudo em silêncio; meu marido que me abraçava forte. Demos a volta com calma, apreciando cada segundo e nos sentamos no jardim posterior à Catedral, naquele momento transcurado pelos turistas concentrados na frente. Impossível não se emocionar, mesmo para uma atéia como eu.
Continuamos o passeio para retornar à tarde, quando a Catedral reabriria.
Depois de visitar suas torres, agradeci Quasímodo outra oportunidade que me deu
Gargulas
zoomorficas e antropomorficas. de entrar em seu universo.
Ver tão de perto as gárgulas e as quimeras justificam a fila e a subida sem trégua de 383 estreitos degraus em espiral.
Na arquitetura, as chamadas gárgulas (mesmo que decoradas por vezes com figuras igualmente quiméricas), tem função prática de escorrimento da água da chuva diretamente para o chão, como uma canaleta, preservando assim as paredes. Um truque conhecido já pelos gregos. As quimeras ou figuras grotescas, por sua vez, têm função puramente decorativa.
Essas impressionantes imagens antropomórficas e zoomórficas de cerca 1 metro cada uma, se popularizaram na Europa Ocidental, principalmente na França e Inglaterra, já com influência de outros povos e culturas, como os celtas e os normandos, e estavam sob o olhar atento da Igreja de Roma. Que duvida!
Sobre a origem de “gárgula”, uns afirmam que a palavra que se refere ao gorgolejar da água quando passa através de um orifício; outros que provém do termo latino “gorgulio”, ou do francês “gargouille”, ambos significando “garganta”. Esta última tese se apóia na Lenda de “La Gargouille”: uma história popular medieval conta, que no século VII, vivia numa gruta na beira do Rio Sena, um dragão chamado “Gargouille” que
saia da toca para engolir barcos e pessoas. Os aldeões locais viviam aterrorizados e todos os anos sacrificavam uma vítima ao dragão, numa tentativa de acalmá-lo. O povo então foi salvo por um padre, que prometeu derrotar o dragão, se alí fosse erguida uma igreja e se todos os habitantes concordassem em ser batizados. Após um combate decisivo o padre arrastou o corpo do monstro para a aldeia e tacou fogo. Porém, a cabeça e pescoço do dragão não queimaram e foram pendurados numa parede da igreja.
Por mais que você fique alí observando aquelas fascinantes figuras, mesmo se parece que são elas que te observam, é dificil decifrar seus intentos. São individulalmente obstinadas em encobrir seus mistérios. Por exemplo, eu me pergunto: por que são ricas de detalhes se eram para ser colocadas naquela altura? O povo não tinha acesso às torres e de baixo os detalhes são imperceptíveis. Elas deveriam então estar mais próximas de Deus do que dos homens?
Alguns pesquisadores defendem a idéia de que a função destes seres grotescos era a de protetores. O aspecto assustador, especialmente de noite, deveria manter à distância dos edifícios (e principalmente das riquezas que continham) as forças
Gargulas
Detalhe da ponta mais alta de uma das torres. do mal e os seus emissários. Sejamos claros: os ladrões!
Outra ainda muito difusa é a de que, numa época em que poucos sabiam ler, era importante ensinar ao povo os preceitos cristãos recorrendo às imagens. E mostravam o que poderia acontecer aos desviados dos caminhos da fé, pois as deformidades físicas eram tomadas (e por aqui ainda são) como castigos divinos.
Há quem pense que é pouco provável porém, que se consigam extrair ensinamentos religiosos de muitas das figuras, especialmente das antropomórficas, realizadas já no final do período gótico. Nestas sobressaem caretas e posturas corporais mais ridículas do que assustadoras, motivo pelo qual se julga que seriam uma forma de crítica social, dos personagens ou dos costumes da época.
A minha idéia, é a de que as carrancas não pretenderiam assustar, mas humilhar. Seriam suas expressões após terem flagrado algo de sinistro, feio e/ou ruim do lado de fora. Entendamos, dentro é a casa do Senhor, e só a casa do Senhor é perfeita. Quem está dentro é salvo, quem está fora é uma coisinha desprezível que dá até medo. Talvez isso explique porque tantas figuras estão mostrando a língua.
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Mirella
non-member comment
Adorei seu texto sobre a Notre Dame. Estive là na noite de Natal e nao tive a oportunidade de subir para ver o panorama. Q fotos lindas! Fiquei com vontade de voltar...