Advertisement
Published: January 19th 2011
Edit Blog Post
Uma Experiência de Trabalho na Câmara Municipal de Bristol
Por
Francisco Sousa Rio, arquitecto do
Departamento de Museus e
Património Cultural da
Câmara Municipal do Porto, onde trabalha na salvaguarda e valorização do património arquitectónico da cidade.
O Programa Leonardo da Vinci A Câmara Municipal do Porto candidatou, com sucesso, um conjunto de mobilidades internacionais (estágios) para os seus trabalhadores, através do Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida – Leonardo da Vinci.
Estes estágios realizados em instituições de referência internacionais, preferencialmente municípios, em áreas consideradas chave para a CMP, pretendem potenciar a aquisição/desenvolvimento de competências, visando a transferência para a CMP de conhecimentos e a partilha de práticas inovadoras.
Porquê Bristol Na perspectiva da conservação e valorização do património cultural, do conjunto de países europeus onde seria possível realizar uma aprendizagem específica, foi seleccionado o
Reino Unido, dada a sua vocação específica para a área da conservação.
O Município de Bristol foi escolhido por ser considerado um pólo de excelência e uma referência internacional no campo da conservação do património, quer de edifícios quer de áreas urbanas e particularmente no desenvolvimento e valorização do carácter da sua cidade.
A experiência de gestão de um ambiente
histórico e patrimonial de tão elevado valor, em que o património histórico é usado como instrumento que confere uma mais-valia económica à cidade no seu todo, irá permitir reflexões sobre os procedimentos de gestão usados na cidade do Porto, bem como possibilitar um tratamento de excelência para os nossos imóveis e conjuntos protegidos.
O facto do Porto e Bristol serem cidades geminadas desde 1984 também influenciou a escolha deste local, tendo o processo começado com a deslocação a Bristol de uma representante do Município do Porto (Marta Barbosa, da Divisão de Relações Internacionais), que apresentou o pedido de estágio directamente ao responsável pelo serviço de desenvolvimento da cidade – Andy Gibbins – tendo desde logo existido o maior empenho em receber esta mobilidade.
Dos contactos estabelecidos com a coordenadora do sector de conservação e projectos de Bristol – Tina Speake – resultou uma proposta de trabalho que foi realizada durante 6 semanas, entre Setembro e Novembro do corrente ano.
Actividade desenvolvida em Bristol No passado dia 27 de Setembro iniciou-se, presencialmente, o trabalho com a equipa de conservação do Município de Bristol, que desempenha tarefas equivalentes às do nosso serviço de Património Cultural.
A principal missão deste estágio
foi a realização do registo dos imóveis classificados que se encontram em risco. Este levantamento é feito bienalmente em Bristol e após a sua aprovação seguir-se-á uma série de procedimentos tendo em vista evitar a perda do valor patrimonial dos mesmos. Esta tarefa permitiu um apurado conhecimento do território da cidade, conseguido através da visita a 80 edifícios dispersos pelo concelho.
A restante actividade desenvolvida relacionou-se com as variadas funções desempenhadas regularmente pela equipa de Bristol, entre as quais:
─ Elaboração de documentos de caracterização das áreas urbanas protegidas;
─ Pareceres de apoio ao licenciamento;
─ Acompanhamento de acções de fiscalização de obras;
─ Gestão e introdução de dados no sistema de partilha de informação do ambiente histórico;
─ Desenvolvimento de esquemas de estacionamento na via pública;
─ Gestão de verbas destinadas a arte pública;
─ Gestão de projectos e concursos em ambiente histórico protegido.
Houve também a preocupação de efectuar outro tipo de actividades, como acompanhar o trabalho de colegas em reuniões com entidades de diferentes graus de relacionamento com o município, por exemplo o English Heritage, a Fundação para a Preservação dos Edifícios de Bristol, o Painel de Aconselhamento em Conservação e ainda o Fórum de Desenho Urbano
de Bristol, local de discussão dos grandes projectos e de novas regras ou políticas urbanas.
Durante a estadia em Bristol foi composto um blog, pensado para servir de ponte entre a nossa cidade do Porto e a cidade de Bristol: http://patrimonioembristol.blogspot.com.
Aprendizagem Em Inglaterra a conservação e manutenção dos edifícios é algo que é feito de forma natural, não só por uma questão de embelezamento da paisagem, mas também porque é mais económico manter do que fazer de novo, ao contrário da informação que habitualmente é disseminada pelo lóbi da construção em Portugal.
Esta experiência de trabalho directamente nos serviços públicos locais de Bristol proporcionou uma enorme aprendizagem na área da gestão e desenvolvimento da cidade e, ao mesmo tempo, permite a importação de estratégias, bem como a introdução de novas práticas na conservação e valorização do património arquitectónico.
Resultados O programa do estágio, bastante variado e estimulante, foi previamente delineado com os responsáveis do serviço de Bristol ao longo do último ano, tendo sido rigorosamente cumprido. Para além dos colegas com quem naturalmente foram criadas relações de trabalho nos vários serviços do City Council, conseguiu-se estabelecer contactos com outros técnicos de municípios vizinhos, como Bath,
que tal como o Porto também usufrui do estatuto de Património da Humanidade.
Como foi referido, se por um lado, do estágio efectuado resultarão evidentes ganhos de eficiência, por outro lado sairá concerteza reforçada a capacidade de mobilização do património como alavanca para o desenvolvimento da cidade do Porto, uma vez que, no que diz respeito a Bristol, o património edificado (listed buildings and conservation areas) é usado como elemento-chave no qual está apoiado todo o desenvolvimento da cidade.
Aplicação dos conhecimentos A principal tarefa desenvolvida em Bristol e consequente aquisição de conhecimentos científicos irão permitir a reprodução ou adaptação do sistema de monitorização de risco nos imóveis classificados na cidade do Porto. De igual modo, poder-se-á implementar um sistema de partilha de informação desenhado de acordo com o HER – Historic Environment Record – que em Bristol se encontra em fase de implementação, prevendo-se que o seu lançamento aconteça em Março próximo. A informação recolhida acerca dos estudos de caracterização das áreas urbanas protegidas de Bristol poderá ser aproveitada para, num primeiro passo, realizar o mesmo tipo de análise e descrição nos núcleos históricos identificados no PDM do Porto.
Os responsáveis da equipa de Desenho Urbano e
Conservação de Bristol propuseram-se continuar este relacionamento no âmbito da geminação que une as duas cidades, tendo-se disponibilizado para vir até ao Porto para, num workshop ou algumas sessões de trabalho e visitas aos sítios, juntamente com os responsáveis da autarquia, poderem ser trabalhadas soluções para os problemas existentes, bem como estratégias com vista à afirmação da identidade do Porto.
De facto, Bristol teve um problema de degradação profunda do seu edificado urbano central há cerca de 30 anos. O Porto poderá aprender com todo o processo de reabilitação que foi implementado ao longo deste tempo, evitando cair nos mesmos erros e beneficiando da experiência adquirida neste procedimento, de forma a economicamente poder dar o melhor uso à classificação Património Mundial, estendendo este benefício a toda a cidade.
Conclusão Este trabalho deverá ser encarado como um ponto de partida para uma nova área de cooperação entre as duas cidades geminadas há 26 anos. Ultrapassando o seu âmbito de actuação, esta experiência foi mais um passo na caminhada que Porto e Bristol têm dado, no sentido de estreitar relações e, mais concretamente, de sistematizar procedimentos que têm como objectivo propiciar melhores condições de vida aos respectivos cidadãos.
http://patrimonioembristol.blogspot.com/
Francisco Sousa Rio
13 Dezembro 2010
Advertisement
Tot: 0.056s; Tpl: 0.009s; cc: 6; qc: 24; dbt: 0.021s; 1; m:domysql w:travelblog (10.17.0.13); sld: 1;
; mem: 1.1mb