Pueblos del Sur


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October 10th 2005
Published: November 10th 2005
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Pueblos del Sur




Saíndo de Mérida em direcção a sul, pela Pan-Americana, a cerca de 40 Km saímos para uma estrada secundária onde uma grande estrutura, tipo arco, em ferro sinaliza a entrada da estrada que dá acesso aos Pueblos del Sur. Cerca de 25 aldeias espalhadas pela cordilheira andina, isoladas do tempo, de tudo e de todos.
Partimos à descoberta de uma Venezuela que vive nos Andes e que mantém uma cultura muita própria, forte e acolhedora. O isolamento de algumas destas aldeias, por vezes a 7hrs de carro desde qualquer outro lugar habitado, confere-lhes uma identidade muito própria.
Para além do meio de transporte pessoal ou de uma boleia ocasional, os transportes públicos são escassos, não são assíduos e para alguns dos pueblos só viajam uma vez por semana. Devido à inexistência de estradas asfaltadas e à inclinação de algumas delas, estes transportes são na grande maioria jeeps.
As principais actividades destas aldeias são, sobretudo, a agricultura e a criação de gado, o que lhes permite uma auto-suficiência relativa que não os obriga a depender totalmente de Mérida. Devido à localização geográfica o clima varia, condicionando as principais actividades de cada aldeia.
Os mais novos estudam na
02. Porta de entrada para os Pueblos del Sur02. Porta de entrada para os Pueblos del Sur02. Porta de entrada para os Pueblos del Sur

Aqui passámos para o tejadilho do jeep.
primária e nos tempos livres ajudam na casa, no campo e a recolher e ordenhar gado. Muitos dos adolescentes partiram para Mérida para estudar, enquanto que os que ali ficaram são "homens novos". Casam cedo. Têm um terreno para cuidar, gado para pastar, e uma familia para criar. Muitos deles nem 18 anos têm.
Durante o dia mulheres e crianças dão vida à aldeia, a maioria dos homens está no campo.
O isolamento destes pueblos despertou-me bastante curiosidade, e com a Jo lá parti à descoberta dos Andes e dos andinos.

De Ejido para San José



A primeira aldeia que resolvemos visitar foi la Mesa de los Indios. A meia hora a sul de Mérida situa-se no topo de uma montanha em forma de mesa. Assim que "desembarcamos" o único carro estacionado na única praça da aldeia, tinha música latina moderna no máximo. Foi suficiente para esperar 1 hr. pelo próximo carro e "zarpar" para onde quer que fosse. No por puesto o motorista informa-me que desde Ejido podemos apanhar um jeep para San José. O primeiro dos Pueblos del Sur.
Dito e feito. Ejido é uma cidade aparentemente grande com cerca de 50.000 habitantes. Dali saiem carros
03. Tralha03. Tralha03. Tralha

Agarrado com unhas e dentes, lá fui viciando a vista do "alto" de um Land Cruiser
em direcção aos Andes e às suas aldeias.
Por 4.000 Bl, num velhinho Toyota Land Cruiser lá fomos, apertados, com outras 7 pessoas em direcção a San José. Em conversa com o dono e motorista do carro consegui perceber que assim que saíssemos da Pan-Americana e entrássemos na estrada que dá acesso aos Pueblos podia passar para o tejadilho do carro até chegar a San José. Nem sabia o que me esperava.
Um enorme letreiro sinaliza a entrada para as aldeias. Tal como prometido, passo para o tejadilho. De máquina fotográfica numa mão e agarrado com unhas e dentes às grades do tejadilho, iniciamos a subida. E que subida. Dos 1500 mt de altitude subimos até aos 3.300 mt. Sempre em cima do carro, o que me permitiu apreciar toda a vista. Para ajudar à emoção, a estrada não tem qualquer resgurado entre o carro e precipícios que mais parecem abismos. Esta viagem elevou-me acima das nuvens, levou-me a San José.

San José



A aldeia de San José deve ter cerca de 200 habitantes e 1000 habitantes o concelho. Este concelho é constituído pelas fincas e caserios (pequenos aglomerados de casas) em redor.
Pareceu-me uma enorme coincidência o
04. Mirador04. Mirador04. Mirador

Senti-me num verdadeiro mirador ambulante
facto de o pai do motorista do jeep ser o dono da única licoreria da aldeia, a tia, a cozinheira, o irmão, aluga os cavalos enfim, uma infinita rede de ligações familiares que me pareciam interessar. Quando percebi a dimensão do lugar, a coincidência evaporou-se. Todos são familia.
Em San José, e à primeira vista sou visto como um extraterrestre, aliás como em todas as aldeias que visitarei daqui para a frente.
Em busca de pousada reparamos que estão todas fechadas. É época baixa. Mas, por sorte, o irmão do famoso conductor tem a chave. Claro!
Abra-se a pousada para os turistas. E que bem instalados por apenas 10.000 Bl. (+/- € 3,5) por pessoa. O jantar foi em casa da tia, assim como o pequeno almoço. Tudo por 12.000 Bl. para duas pessoas.
A manhã, mais fria que em Mérida, estava simplesmente azul. Perfeita para uma volta pela aldeia e para a caminhada por vales, rios e montanhas até Acequias. Outro dos Pueblos del Sur.

De San José para Acequias



O caminho para Acequias, segundo locais, dura entre 5 a 7 horas. O tempo não me assusta, mas a dificuldade da caminhada já me faz pensar. Com naturalidade dizem-me que é sempre a descer, só no final é que há uma "subidazita". Estranhamente ninguém faz este percurso. Preferem ir "à volta", de carro, ou em bestia. De mochila às costas lá partimos. Subimos pouco, descemos muito, caminhamos por um vale fresco, junto a um rio, durante 1h30m. E se nos cruzámos com 6 pessoas foi muito. Mas o último individuo com quem falámos, esse, nunca o hei-de esquecer. Um senhor a cavalo. Lembro-me da cara dele quando lhe disse:

- "Vamonos para Acequias"
- "Por la cuesta???????" o tom e a cara assustaram-me
- "Por donde sea, hombre", respondi.
- "Si es por la cuesta."
- "Quantas horas?"
E com pena de nosostros, suspirou:
- "4 horas. Subiendo!" reforçando várias vezes a palavra subiendo.

Até ali já tinhamos caminhado 3h30 sem parar.
Enfrentar la cuesta não me deu gozo nenhum. Mas ao fim de quase 4 horas esse capítulo estava terminado. Para além de realmente muito inclinada, a famosa la cuesta o calor não ajudou. Pela primeira vez na vida queimei a parte de trás das orelhas. Nunca visto.
Do topo levámos 1 hora para chegar a Acequias, sempre a descer.

Acequias



Acequias
06. Rio Chama06. Rio Chama06. Rio Chama

Vale do Chama, um dos rios que atravessa os Andes e passa pela cidade de Mérida.
é a freguesia à qual pertencem várias aldeias, incluíndo San José.
A recepção em Acequias foi muito semelhante à de San José, com a diferença que aqui fomos recebidos pela policia local que imediatamente nos informou que a pousada estava fechada mas que, sem problemas, seria aberta para "tão ilustres" visitantes. Já estávamos habituados.
De um beco saiu a Maria. Com cerca de 27 anos, tímida e muito simpática, abriu a pousada para "os turistas."

- "El dueño está para Ejido y el hijo está trabajando en el campo. No le interessa la posada! Por eso la cierran." Explicou.

Em Acequias não há restaurantes, tal como na maioria das restantes aldeias, mas a Maria prontificou-se a cozinhar e a receber-nos em sua casa para "las comidas". Ficou tão atrapalhada quando lhe perguntei o preço de cada cada refeição que me disse que seriam uma cortesia. Claro que não aceitei, mas, na altura, também não me conseguiu dizer qualquer preço. E com um: "no se assuste que será barato", rematou a conversa.
Cada refeição saiu a 2.500 Bl, menos de € 2. Foi de facto mais barato do que estávamos habituados.
Em Acequias conheci 2/3 dos habitantes, apesar dos 3/3 parecerem conhecer-me. É pequeno e, à semelhança de outros lugares de igual dimensão por onde tenho passado, todos se conhecem. Todos são familia.

las Ruínas



Devido a frequentes terremotos na zona, Acequias, até então conhecida como Pueblo Hermoso, deslocalizou-se por 3 vezes.
A intensidade do terremoto de 1845 "empurrou-a" para o lugar onde se encontra actualmente.
A cerca de 8 Km da "moderna" aldeia, mais ou menos 1h30 a pé, podemos visitar os restos visíveis do ex Pueblo Hermoso, mais conhecido actualmente por las Ruínas.
O irmão da mãe de Maria, Señor Frutuoso, é o unico "(sobre)vivente" e habitante de las Ruínas. Os seus antepassados nunca dalí saíram e ele perpetúa e habita o lugar.
Ali nasceu há 73 anos, e com a mulher, Carmen de 27 anos e dois filhos de 12 e 14 anos, ali vive.
Uma horta, cavalos, galinhas, cabras, as velhas ruínas, uma série de cactos e uma vista deslumbrante, fazem-lhes companhia.
Os papeis que atestam a propriedade do lugar estão meio gastos, mas referem-no, e aos irmãos, como legítimos herdeiros de las Ruínas.
Novamente, pelo cenário andino, caminhámos até tão charmosa aldeia, onde conhecêmos o dito "Señor", mulher e filha, disfrutámos das
08. Pela estrada fora08. Pela estrada fora08. Pela estrada fora

Mal cabe um carro
vistas que rodeiam o lugar e testemunhámos os restos de uma aldeia construída em barro que viveu noutra época, mas que por "teimosia" e amor à terra, ainda se mantém viva, na pessoa do Señor Frutuoso.
Quando chegámos a las Ruínas estranharam-nos, mas no final, à hora da partida, fomos presenteados com uma melancia "crioulla", da terra.
Para além da vontade de ficar em las Ruínas outro obstáculo aos nossos planos diários surgiu. O pecado das vistas.

San Pedro



Planeávamos para o mesmo dia uma visita a San Pedro, outro dos Pueblos del Sur, mas os "excessos visuais" que os Andes proporcionam atrasaram-nos.
Duas vezes por semana passa la linea, vulgo, a carreira, que liga estas remotas aldeias, e a fome visual atrasou-nos 5 minutos pelo que tivemos de recorrer a meios alternativos.
Por vontade de Deus, a ambulância local, que serve as aldeias vizinhas, tinha uma emergência em San Pedro, aproveitámos a boleia. ... e aos "trambulhões" lá fomos...
Os nossos "colegas" de boleia eram duas representantes da vontade politica de Acequias, e o responsável desportivo da mesma aldeia.
As estradas que ligam as povoações são quase mais estreitas que o próprio carro, apesar de raramente se cruzarem com outros veículos, quando isso acontece, o coração fica em pele de galinha!
"Visita de médico" a San Pedro. Deu para conhecer a sala de jogos, com 3 mesas de snooker e onde parece que só "homem entra", conhecer metade da população, fotografar a outra metade e saber ainda algumas curiosidades acerca do pueblo.
De regresso a Acequias, um sem número de "sujeitos de comportamento visivelmente alterado", revelou a actividade "domingueira" preferida pela grande maioria dos homens. A bebedeira. E que bebedeiras.
Numa das ocasiões, 1 corpo deitado na estrada, suscitou risota geral dentro do carro. Passámos pelo que parecia ser um "inanimado" ser humano, a quem o condutor gritou umas quaisquer piadas pessoais, para gaudio dos restantes ocupantes do veículo, e parou depois mais adiante para conversar com o grupo de amigos do pobre coitado. Um dos "amigos" era o filho que ria do estado do pai. Pelo caminho cruzamo-nos ainda com outros adeptos da bebida que, a cavalo, às escuras e apalpadelas punham um final bem torto a um fim de semana que em tudo parece ser semelhante a todos os outros.

Dia seguinte, dia de partir. Próximo destino: el Morro. Tivemos ainda tempo de visitar
10. Pousada em San José10. Pousada em San José10. Pousada em San José

Ao lado esquerdo, a pousada.
a Maria na escola em que dá aulas à 1a classe.

El Morro



A pé e pela mesma estrada que nos levára até las Ruínas, seguimos para El Morro, a 4h de distância. O trajecto, desta vez, incluía uma caminhada sob um sol abrasador, uma descida por penhascos, caminhada por um rio seco, travessia de um outro rio mais complicado e rematava com uma "chata e inclinada" subida para El Morro.
Em tudo deslumbrante, novamente, lá derretemos, escorregámos, molhámo-nos e desidratámos.
Nos Andes, habituei-me a que a chuva nos visite diariamente ao final do dia, por vezes acompanhada de tempestades ensurdecedoras.
Se planeio um dia a pé, tenho de contar com a "molha" de final de tarde que me encharca até os ossos. El Morro não é excepção e fomos recebidos pela chuva.
Assim que chegámos oiço alguém gritar o meu nome. Alguém que tinha conhecido fugazmente na sala de snooker em San Pedro, e de quem, admito, não me lembrava. Senti-me bem por ser reconhecido.
Chegados à única pousada da aldeia e muito bem recebidos por Gladis, a proprietária, recuperámos de um dia cansativo.
Na pousada estava também um cubano, Ricardo, que ali dá aulas de ginástica e de baseball, desporto rei na Venezuela. Ricardo vive a tempo inteiro em el Morro, de onde não se pode ausentar, ao abrigo de um acordo entre os dois governos, cubano e venezuelano. O programa do qual faz parte ínclui uma série de outros desportitas/professores, muitos dos quais espalhados pelos remotos Pueblos del Sur, alguns dos quais vim a conhecer mais tarde, e dura cerca de 2 anos.
Em el Morro esperámos por Jason que chegaria de Mérida e preparámo-nos para seguir para los Nevados, uma aldeia já fora dos Pueblos del Sur desde onde se pode caminhar até Mérida.
Como já me habituei, e habituei os que comigo estão, a mudar de planos, ninguém levou a mal que em vez de regressarmos a Mérida, mudássemos o rumo para para direcção oposta. E fomos pelos Andes adentro, em direcção aos mais isolados Pueblos del Sur.
Dois dias bem passados em el Morro e partimos para Aricágua.

Aricágua



A viagem começa com apertos no coração quando se começa a descer em direcção ao rio Chama. Curvas atrás de curvas, onde só passa um carro. A estrada foi rasgada à beira do precípicio e nunca foi pavimentada. Pedra nas rectas e cimentada nas curvas para ajudar a travar. De dentro do jeep não vejo os limites da estrada, só a queda que se lhe segue.
Vencida a primeira etapa, iniciámos uma subida de 62 curvas com um desnível de 700 metros, disse-nos o condutor. Esta fase bem mais constrangedora que a anterior.
Evitando estar atento à condução, passo por alguns sustos.
Apesar de conhecer a estrada como a palma da mão, o condutor não se cansa de mencionar as centenas de vítimas causadas por esta via de comunicação. Facto comprovado pelos inúmeros pequenos altares em homenagem aos mortos. "Mais qu'ás curvas!" Em muitos casos é possível verificar o estado em que ficaram os veículos. Autênticas panquecas.
A subida dura cerca de 45 minutos. Com o jeep sempre a escorregar, nas subidas, devido à falta de aderência.
Bom, lá chegamos ao topo onde a Capilla de San Isidro faz todo o sentido. Rezar pra que nada aconteça na descida e agradecer a stressante subida.
Por mais 15 minutos disfrutamos, do alto, os Andes, e à distância, do outro lado do vale, reconheço algumas das aldeias por onde passámos, San Pedro e las Ruínas.
Se na vertente sul a terra é árida,
13. A primeira refeição típica andina13. A primeira refeição típica andina13. A primeira refeição típica andina

Jantar. Arepa andina, ovo estrelado e queijo ralado.
com cactos, pedras e vegetação rasteira dando cores secas à paisagem, nas vertentes norte, tudo muda. Densa floresta tropical, chuva, neblina e frio, contrastando com os dias quentes e céu azul do lado sul.
Nunca pensei que os opostos pudessem estar tão perto.
E se mudam as condições, mudam os hábitos e costumes das populações. Mais guarda-chuvas e mais rum para aquecer as longas noites (e dias em muitos dos casos) dos habitantes de Aricágua.
Aricágua vive à volta da Plaza Bolivar. Maior que el Morro, parece também mais desenvolvida e mais jovem. Talvez a distância de tudo a tenha feito virar-se para sí mesma, criando infraestruturas para jovens e negócios. Não quero com isto dizer que seja comparável a Tóquio, mas sem dúvida parece mais movimentada que as outras aldeias que visitei.
Com pouco interesse turístico, foi com agrado que visitámos a esquadra da policia, a convite do Sargento Albarran, e a licoreria da esquina onde celebrámos os anos de um nutricionista deslocado de Mérida que aqui ganha o pão e bebe o rum.
A nossa presença por estes lados também não passou despercebida, com filas de gente à porta de onde estivéssemos só para nos ver, os mais
14. Primeira manhã14. Primeira manhã14. Primeira manhã

Que dia para passear pelos Andes. Foto tirada da porta do quarto da pousada.
corajosos arricavam algumas perguntas.
O nutricionista só nos queria passear pela aldeia, enquanto que a dona do estabelecimento se pelava para que ali ficássemos como que a dar fama ao lugar.
O quarto onde dormimos não era de todo o mais confortável, mas baratas na cama e formigas gigantes que apareceram, sabe-se lá de onde, para, literalmente, me comerem a t-shirt fazem parte do périplo de experiências de Aricágua.

Campo Elías



Na manhã seguinte seguimos para Campo Elías, a 5 hrs a pé. O passeio foi feito sem a presença da chuva, o que em muito facilitou, mas um sol abrasador obrigou-nos a fazer das sombras e cascatas, pontos de paragem obrigatórios. Muita água se bebeu neste dia.
Habituados à aridez das vistas nos anteriores trajectos, desta vez regalámo-nos com montanhas que alternam de verde a azul consoante a distância.
A estrada que nos leva a Campo Elías é quase sempre a subir mas apesar de estafante, vencemos as dificuldades e "conquistámos" o último dos Pueblos del Sur. Campo Elías.
Sabiamos de antemão que ali não haviam pousadas e que estavamos dependentes da boa-vontade dos habitantes para nos oferecerem guarida. Tínhamos uma arma, dada pela dona da licoreria de Aricágua que nos recomendava como cidadãos de bem.
Devido ao isolamento de Campo Elías e à pequena dimensão da zona "urbana", 187 habitantes, esta nota serviria para nos apresentarmos na aldeia sem sermos vistos como estranhos e suspeitos.
A recepção foi das mais calorosas.
As crianças que saiam da escola e se dirigiam, ladeira abaixo para as suas casas, mudaram radicalmente a direcção da bússola quando nos viram e, ladeira acima, acompanharam-nos até à entrada da aldeia. Aí um dos comerciantes locais recebeu-nos com espanto, por termos caminhado desde Aricágua, quando nesse dia la línea fazia a ligação. Não entendeu porque raio óptamos por caminhar. O que, confesso, me passou muitas vezes pela cabeça durante esse dia de calor. Já não se ouve falar de pessoas que caminhem de Aricágua, preferem esperar 2 ou 3 dias por boleia.
Com a nota de recomendação fomos levados pela Daniela, guia de 10 anos, a conhecer as várias opções para dormir. Acabámos por cair na graça da avó da Daniela que tinha um quarto livre.
O quarto que nos destina está é ocupado por um agricultor de outro pueblo, mas como este trabalha a meio caminho entre as duas aldeias umas vezes aparece e outras nem por isso.
Um quarto escuro, um velho chapéu de palha, umas botas de borracha, uns jeans coçados, uma vela e a cama é o cenário que tenho pela frente quando me oferece abrigo.
- "Se el hombre no viene hoy, entonces nos quedamos con l'habitacion."
Alerta com os gastos, pergunto-lhe qual será o preço.
- "Cortesia", responde-me.
Recusámos a generosidade e por €1 a dividir pelos 3 ficávamos ali a dormir.
Tudo mudou quando o Jason percebeu que seria impossível chegar a Mérida em menos de 3 dias devido aos transportes. Tinha, nessa mesma noite, a oportunidade de apanhar boleia para Aricágua, com um filho da aldeia que tinha vindo visitar os pais. Na manhã seguinte podia seguir viagem para Mérida com la linea.
Tinha sido convidado, 3 semanas antes, por um casal que lhe deu uma boleia de 5 minutos, para uma festa em Barinas, cidade a 4 horas de Mérida. Não quis faltar e lá se foi. Com ele, a Jo, farta de não ter água quente e roupa lavada, também se pôs em marcha. 3-2=1. Fiquei eu e em nada me arrependo.
Dois dias em que comi como um abade e dormi como um anjo. Fui também o centro das atenções por onde passei, tendo sempre alguém a querer fazer de guia. As refeições não podiam ser mais frescas, nutritivas e abundantes. A dona da casa achou que eu estava muito magro e cozinhou a toda a hora, arepas, ovos mexidos, pisca andina, vários caldos típicos. Não me podia ver que vinha sempre com comida.
Nas manhãs que lá passei ordenhei as vacas com o patrono da familia, a dona da casa e a Daniela. Do balde para a cafeteira, e já está. Leite fresco. Os ovos entravam em casa pela porta dos fundos saindo directamente das "traseiras" das galinhas, a fruta e os vegetais "saltavam" da horta, passando por água e para o prato.
Enfim, uma casa autosuficiente em comida. Uma pequena quinta.
Aqui passei dois belíssimos dias e daqui regressei a Mérida, dormindo novamente em Aricágua e em el Morro, onde nada a assinalar se passou, para além de me sentir um "sujeito conhecido nestas andinas Andaças."




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19. Campesinos 19. Campesinos
19. Campesinos

Descendo la Cuesta
20. La Cuesta20. La Cuesta
20. La Cuesta

A famosa e fatigante subida a caminho de Acequias
21. No topo21. No topo
21. No topo

Nem acreditei que vim desde lá de baixo.


11th November 2005

Gd abraço!
Meu querido Amigo, Inveja é a última palavra dos Lusíadas e por isso, infelizmente, está-nos neste sangue lusitano q nos corre nas veias. No entanto a inveja que sinto qd leio as tuas crónicas e mergulho nas tuas fotografias é uma inveja boa... da tua aventura, da tua disponibilidade e do teu desprendimento que faz com que tu estejas aí e eu aqui... opções... Enfim, lugares comuns...q imagino que estejas sp a receber mas aos quais eu também não escapo... Planos futuros? Grande abraço, P
11th November 2005

Olá!
Que sítios lindos, Salvador!... Que sorte que tu tens em poder andar por aí, em conhecer essa gente e essas culturas. Fico muito feliz por saber que estás bem e que a viagem continua. Beijinhos. Vanessa.
11th November 2005

Que aventura....
Grande Salvador, Lindo!! Estou a adorar as tuas aventuras e que bom que é saber que estás bem e o que vais fazendo através deste teu óptimo blog. Já se tornou um hábito estar a fazer as minhas coisas e pensar “o que andará aquele maluco a fazer”. Já tive uma grande dose de aventuras na minha vida mas esta parece-me ser A Aventura. Estou entusiasmado com cada passo que dás! Parabéns pelas fotos. Fazem na perfeição o seu papel de foto reportagem. Desejo-te como sempre sorte, força e saúde. Vou continuar a viajar contigo... aqui sentado atrás do computador :) Um forte Abraço e boa continuação. Tiago
12th November 2005

Vai vai vai!
Que s´tios lindos! Abraço e boas viagens!;)
16th November 2005

As imagens dizem tudo...
Salvador, lembro-me muitas vezes de ti, por onde andarás nesse momento, com que emoções, pessoas, riscos, etc. Aproveita bem, acho que a melhor sensação de viajar é poder descobrir!! O Duarte Maria está quase a nescer, eu depois dou notícias. Um abraço cheio de saudade
20th November 2005

AVENTURA
Olá Salvador, fico fascinada com os sitios por onde viaja....Atrevo-me a dizer que vou viajando consigo através do computador! Continue a perseguir esse sonho e a seguir o caminho que o faz feliz! Eu fico muito feliz de o "sentir" realizado...Um beijinho da amiga Nicas
25th November 2005

Olá Salvador
Só desejo que continue tudo bem e que nos continue a dar a conhecer esses sítios fantásticos, gosto muito de ler as aventuras, porque mais do que aventuras são experiências de vidas que se vão cruzando com outras vidas e são uma grande parte daquilo que somos.A forma como nos «tocam», faz-nos ir mudando ao longo do tempo.Primeiro estranha-se e depois entranha-se!Adoro as fotos!! Beijo.
27th November 2005

Pueblos del Sur - Grandes fotografias e grandes "passeios"
É Salvador Grandes fotografias e grandes "passeios", aplica-se completametne à tua viagem! Parabéns! Por esse andar andino vais ficar a conhecer os Andes (e a América do Sul) como poucos! Continua com uma BOA viagem e Grandes fotografias e grandes "passeios". Um grande abraço t.Betú
28th November 2005

Saudades
Querido Salvador, ha quanto tempo não o vejo.... fico fascinada com as suas fotografias, os seus textos, a sua coragem ... espero que esteja tudo a correr bem e que volte cheio de saude! um grande beijinho cheio de saudades da prima Catarina***
30th November 2005

¡Hola!
Olá Salvador. Continuo a adorar as tuas "aventuras" e queria agradecer-te o facto de teres feito do blog o teu diario de viagem. Assim podes partilhar as tuas vivências e sobrevivências (rsrsrs) em tempo quase real. Um bj grande e continuação!
2nd December 2005

"A passagem das horas"
2nd December 2005

"A passagem das horas"
"Sair para fora de todas as casas de todas as lógicas...e ir selvagem entre arvores e esquecimentos."(Alvaro de campos) Nem te digo o que acho de tudo o que por aqui deixas,todos que passam te dizem o quanto os encantas...por todos os poros!Sabes que sim,faz parte dum estilo...selvagem,muito proprio! Boas passagens e um Abraço dado
6th December 2005

Lindo!!!
Primo, Adorei as tuas fotografias,os comentários, e a descrição pormenorizada de tudo!!...realmente as pessoas qd viajam nunca pensam em descobrir novas culturas, civilizações mas sim no cómodo e civilizado. Adorei, assim conheço os sítios e vejo novas realidades aqui sentada.Bjs Maf BOA VIAJEM
22nd December 2005

Porra Salvador
A primeira vez so passei os olhos por alto....mas agora olhei com atenção e li com mais atençao ainda...Tens grandes fotos e os txt levam-nos contigo nessa viagem. Parabens. E boa viagem (quando chegas? vais ter que fazer uma expo disso...temos que falar)
29th December 2005

amigos
sou namorada do bruno mascarenhas não me conheces mas eu adorava conhececer-te adoro as tuas irmas.diz qualquer coisa
5th April 2006

parabéns
Por acaso, navegando aleatoriamente, estou tendo acesso ao seu texto maravilhoso que reproduz em mim as sensações desta suas viagens, eu quase que sinto como tivesse visitado estes lugares e conhecido estas pessoas, mesmo estando tão distante e no universo tão diverso e contrario de uma grande cidade como São Paulo. Obrigado por tornar meu final de noite melhor e reacender uma chama de aventura que estava um pouco apagada dentro de mim.

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