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Published: April 5th 2014
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A semana vagando entre campos de arroz e templos hindus (
post anterior) tinha sido tão intensa e a experiência em Bali tão intoxicante que simplesmente não sabíamos o que fazer em seguida. Rasgar o roteiro e passar os últimos 15 dias por lá? Metade do cérebro dizia que sim, mas no fundo não perderíamos a chance de conhecer outros destinos, ainda mais tão distantes de casa. O empecilho é que o clima nas ilhas do Sudeste Asiático não andava dos melhores, as monções caíram para valer nesta temporada e o deslocamento para a próxima parada do roteiro - Borneo, na Malásia, paraíso do mergulho - exigiria algumas conexões aéreas que não empolgavam sobretudo quando considerada a perspectiva real de dias nublados/chuvosos adiante.
Isso posto, rasgamos o roteiro escrito e impresso no Brasil e decidimos, então, continuar em Bali, desta vez migrando para aquelas que são a razão de essa ilhota ser tão comentada mundo afora: suas praias. Em termos turísticos, há uma espécie de duopólio em Bali, resumido aos templos e arrozais de Ubud e às praias e a vida noturna de Kuta. Um dos garotos do nosso hotel em Ubud resumiu com propriedade o que encontraríamos pela frente:
"Ubud
Bali
Nusa Dua é Bali. Kuta é Hollywood Bali".
Boa parte das praias de Bali têm areia escura e são mais atraentes para surfistas e suas ondas. Na prática, sobra a parte sul da península, onde estão localizadas Kuta e suas irmãs Legian e Seminyak. Pense em uma orla tomada por hotéis e
resorts caros e uma avenida central lotada de lojas de marca, McDonald's e KFCs, com ruelas lotadas de lojas de DVDs piratas, restaurantes e agências de viagem e praticamente metade da população da Austrália em férias. Difícil entender porque as praias de Bali fazem tanto sucesso assim quando existem opções muitíssimo mais atrativas e até baratas na Tailândia, Malásia e Filipinas.
De qualquer maneira, é divertido caminhar pela região por um ou dois dias. Existem praias bem bacanas escondidas, como a de Nusa Dua, onde Barack Obama se hospeda em suas visitas à ilha. A grande massa de australianos é explicada pelos preços ultra baratos de uma viagem para a Indonésia. De Perth são três horas de avião, em um voo mais curto do que para Sidney, cujo voo para Bali é mais barato do que para Perth. Essa grande concentração de ocidentais em um país muçulmano, ainda
que a própria ilha seja hindu, tornou Bali uma espécie de zona de alerta vermelho para governos ocidentais, sobretudo o da Austrália - que para quem não se lembra, enviou tropas para o Afeganistão e o Iraque.
Os atentados a uma danceteria em 2002, que custaram cerca de 200 vidas, a grande maioria australianos, seguidos de novos ataques em 2005, são lembrados em um memorial no centro de Kuta. As revistas no aeroporto são sérias, com pelo menos três passagens por aparelhos de raio-X (que também buscam detectar drogas, completamente intoleráveis por aqui) e alguns hotéis e restaurantes mais descolados e movimentados contam com detectores de metais na porta. Mesmo no supermercado não é permitido entrar com bolsas ou mochilas. Apesar disso, o clima está bem longe de ser tenso.
Antes de sairmos de Ubud, os colegas do hotel deram o toque apenas para "tomar cuidado" com as pessoas lá embaixo. Não entendemos o recado, a não ser pelo fato de que 100% de nossas compras no restante da viagem pela ilha vieram com troco a menos, notas ou moedas... No restante, achamos os balineses do sul levemente mais urbanizados, mas igualmente simpáticos e prestativos. Até tomamos coragem
Pura Luhur Uluwatu
Templo no topo do penhasco para alugar
scooters e encarar o trânsito insano da ilha. A aventura nos levou a praias bacanas e ao templo de Uluwatu, encravado no topo de uns
cliffs de perder o fôlego. Chegar lá foi uma aventura, do aluguel da moto à direção "com emoção" pelo caminho.
- Quanto custa alugar uma scooter e o que precisamos?
- São US$ 7 e é preciso a carteira internacional de habilitação.
- Putz, não temos.
- OK.
- OK? Mas só temos a brasileira.
- OK. São US$ 7.
- Mas e se a polícia nos parar?
- Vocês pagam.
E lá fomos nós a caminho de alguma praia quando meia hora depois o policial nos dá o sinal para encostarmos as motos. Paramos, nós apreensivos, ele todo sorridente, e fomos encaminhados para uma "salinha". Pediu nossas carteiras de motorista, que obviamente não adiantavam de nada, e já começou com uma conversa que envolvia cifras. Ainda assim puxou conversa, contamos que éramos brasileiros e trocamos umas risadas falsas. Aí veio a pergunta:
- O que vocês fazem no Brasil?
Sem respirar 0,3 segundos, soltamos:
- Somos jornalistas.
Os policiais
trocaram comentários, deram mais sorrisos e qualquer menção sobre propina se esvaiu na hora. Nossa primeira "carteirada" internacional - o jargão que jornalistas utilizam quando conseguem coisas grátis pelo fato de serem da imprensa - surtiu efeito, e o máximo que o policial pediu foi a gentileza de irmos comprar Coca-Cola para ele e seus colegas. Pagamos nossa fiança com 3 latas de refrigerante e um maço de cigarros, que demos de agrado. Antes de sermos liberados de vez, com punhos cruzados, o policial ainda lembrou dos fortes laços que unem Brasil e Indonésia. Acho que nem ele sabe o quanto ele está certo.
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