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Oskar Schindler trabalhava para o serviço secreto alemão anos antes de a II Guerra Mundial, em 1939, estourar. Teria sido ele, inclusive, o responsável por adquirir uniformes militares poloneses, que os alemães usaram para atacar uma estação de rádio germânica e colocar a culpa no vizinho, no que foi o estopim do conflito. Durante a guerra, o personagem que ficou famoso com o filme de Steven Spielberg, "A Lista de Schindler" (1992), adquiriu uma fábrica no bairro judaico de Cracóvia, com o intuito de produzir para o governo nazista. Ao contrário do filme, porém, o "bom moço" não tinha a intenção de salvar judeus de um fim nos campos de concentração. Empresário com histórico mal-sucedido, Schindler queria mesmo era se aproveitar do fato de ter mão-de-obra gratuita enquanto a insânia de Hitler continuasse sem resistência.
Realidade ou mito, as histórias acima foram contadas por um pessoal que entende bem do riscado. Um grupo de jovens resolveu encarar a máfia do turismo em Cracóvia e montou uma empresa, absurdamente popular, que leva os visitantes a lugares um pouco menos famosos da cidade, e com histórias que não constam nos
tours convencionais. Os passeios são temáticos (Cracóvia real, comunista ou herança judaica)
e, o melhor, feitos a pé e gratuitos. Os grupos são grandes (nosso passeio dos judeus tinha mais de 40 pessoas), mas as informações são tão valiosas e divertidas que foram um dos nossos pontos altos na visita à Cracóvia. Passamos por sinagogas, cemitérios, edifícios históricos, a parede que resta do gueto da cidade e terminamos na famosa fábrica de Schindler.
O fim daquela história? Aparentemente a lista de 1,1 mil judeus salvos não foi feita de forma desesperada, do dia para a noite, como mostra o filme. Demorou sete meses para ser finalizada e, dos funcionários da fábrica, apenas 700 nomes constavam na lista. Os outros 400 vieram do Gueto de Cracóvia, mediante o pagamento de uma quantia razoável. Tudo porque, na condição de alto-funcionário do Partido Nazista, Schindler sabia que após a Batalha de Stalingrado a guerra já estava perdida para a Alemanha e, assim, sua carreira iria para o buraco. Ajudar os judeus, explicou Peter, nosso guia, garantiria ao empresário alguns confortos financeiros mais adiante, além de evitar possíveis vinganças por parte de ex-funcionários como a denúncia às autoridades.
Entretanto, se Schindler era um bom ou mau moço, para alguns pouco importa. O próprio guia
acrescentou às suas explicações já ter feito o mesmo passeio com dois netos de judeus que teriam sido salvos pela lista. Teriam declarado que, bem ou mal intencionado, 1,1 mil vidas foram salvas e isso explica o fato de a comunidade judaica bancar um museu em homenagem a esse personagem histórico exatamente no mesmo prédio que um dia abrigou sua fábrica.
Se alguns poucos judeus que estavam na cidade foram preservados, o mesmo não pode ser dito dos que estavam nos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, nos arredores de Cracóvia. Foi aqui que aconteceu o dito maior genocídio do século XX, com entre 1 e 1,5 milhão de pessoas sendo exterminadas nesses dois campos em uma combinação de câmaras de gás, fuzilamento e outras formas bárbaras. Essa história está mais do que contada e vamos às nossas impressões. Tudo está mantido basicamente como foi deixado quando os soviéticos expulsaram os alemães, em 1945. Em Auschwitz os barracões de tijolos cercados por arames farpados foram transformados em museus, cada um contando histórias diferentes (dos judeus da Polônia, da Hungria, etc), e outros mostrando as condições precárias de vida dos prisioneiros. Existem sessões inteiras com malas, potes e até cabelos das
vítimas morbidamente preservadas pelos alemães e expostas atualmente em grandes galerias.
Auschwitz ainda preserva intacta a primeira grande fornalha e uma câmara de gás que não foram destruídas quando dos alemães em fuga. Em Birkenau, a 3 km dali, era onde a maior parte das matanças era executada, mas praticamente tudo foi destruído e hoje o local, patrimônio da UNESCO, serve principalmente como memorial. O passeio é pesado, triste, algo parecido com o que já que tínhamos visto no
Camboja , por exemplo, onde dois milhões de pessoas foram mortas pelo regime comunista do Khmer Vermelho em quatro anos. O acontecimento no reino asiático, entretanto, não tem um décimo da publicidade do Holocausto.
Enfim, Cracóvia Tristeza de lado, falemos da Cracóvia. Capital da realeza polonesa nos áureos tempos e principal destino turístico do país, a cidade é uma pérola. Agitada, cheia de vida e de prédios lindos, históricos, com ruas de paralelepípedos datando do período medieval. Seu centro antigo abriga pelo menos meia dúzia de igrejas que valem uma espiada e o constante fluxo de pessoas dá a sensação de que sempre existe algo acontecendo.
A Rynek Glowny, a maior praça medieval da Europa, com 200 por
200 metros, reúne boa parte dos transeuntes e das igrejas. No meio dela, fica a St. Marys Church, onde a cada hora uma corneta é tocada, como nos tempos medievais. Logo atrás da cidadela antiga está a principal atração desta que é a segunda maior cidade da Polônia: Wawel Hill, um enorme complexo com castelo medieval e uma enorme catedral, datada do século XIV.
Cheia de opções turísticas, Cracóvia também é uma boa cidade para se fazer nada, apenas andar pelas ruas. E, no nosso caso, encontrar algum lugar para assistir aos jogos da Copa. A tarefa não é difícil, mas também não é das mais fáceis. A maioria dos países que visitamos não está na Copa e, quando está, não calhamos de estar por lá (ou porque não chegamos ou porque já fomos embora). Sobram sempre uns bares ou uma TV no albergue. A animação é praticamente zero (alguma semelhança com o time do Brasil?), e assistir futebol com narração em eslovaco, polonês e checo não é exatamente a mais agradável das atividades. Se bem que o time do Dunga, que nos tem feito jogar horas de turismo no lixo, não tem merecido mais do que isso...
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Driks
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Sabe que por várias vezes no começo da viagem reparei nas placas. Uma com a faixa vermelha outra sem. Chegamos na Polônia e as placas já não tinham nome e sim um desenho de cidade com igreja mas ainda sim era: faixa sim, faixa não. Pra quem não "pôs arreparo", a placa sem faixa indica onde começa a cidade e a outra onde termina. ;-)