Sob a Chuva da Toscana


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October 31st 2010
Published: October 13th 2011
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“Triste e deprimida após se divorciar de seu marido, a escritora Frances Mayes leva um susto quando sua melhor amiga a aconselha a sair de São Francisco e lhe presenteia com uma viagem para a Toscana. Ao chegar, ela impulsivamente compra uma vila quase em ruínas, e acaba vivendo uma aventura repleta de surpresas, amizades e romances que mudarão sua vida para sempre.”

Isso, talvez alguns tenham reconhecido, é a sinopse de uma comédia romântica light chamada “Sob o sol da Toscana”, estrelando Diane Lane. Lançado em 2003 (2004 no Brasil), o filme ajudou a difundir mundo afora as imagens pitorescas que vêem à mente quando se pensa nesse estado italiano: paisagens pastorais ou mesmo urbanas, um céu azul e o sol... ah, o sol da Toscana. Sempre uma figura de destaque, seja conduzindo os campos de girassóis ou se pondo no vale do Rio Arno, em Firenze, para deleite dos turistas que, da Piazzale Michelangelo, contemplam o espetáculo.

Confesso vi, certa vez, na capa de uma revista de viagens, uma foto desse pôr do sol – era tão bonita que aquilo me marcou. Desde então, tinha na cabeça o inconsciente desejo de estar lá, e curtir esse momento. Como se já não
Escolha suas armasEscolha suas armasEscolha suas armas

Cada um com seu apetrecho para se proteger da chuva
bastassem as outras inúmeras boas razões (arte, arquitetura, culinária...), agora mais do que nunca eu queria conhecer Firenze.


Sob a Chuva da Toscana




Em busca de um sonhado pôr do sol, um estudante de intercâmbio resolve viajar para Firenze. Ao chegar, no entanto, seu desejo se vê ameaçado pelo avanço de uma poderosa tempestade. Mas, nessa cidade de criação e arte, os planos se reinventam e, em companhia de seus amigos, ele descobre que sua viagem estava longe de ser arruinada – ainda que sob a chuva da Toscana.

Não, não se trata de nenhum novo grande lançamento hollywoodiano, menos ainda da mais nova jóia do circuito alternativo. Ainda assim, é uma história baseada em fatos reais e, posso afirmar, repleta de cenas memoráveis. Caso alguém tenha perdido a introdução a Firenze (Florença, Florence, whatever...), sugiro que veja Ciao Firenze!. Após a bela, ainda que nebulosa, visita da campanha (o Chianti), agora era hora de conhecermos a capital.

Se de Bordeaux eu saí apenas com o Japa, em Firenze nós ganhamos mais uma companhia. O Fernando, que partira na quarta-feira rumo à Veneza e Bologna e tinha planos de ficar pelo norte da Itália, acabou mudando de idéia e veio se juntar ao grupo. Encontramo-lo na noite do dia 30, após voltarmos do Chianti, e felizmente havia vagas para aquela noite em nosso albergue. Como na noite anterior, resolvemos sair para comer e já aproveitar para mostrar um pouco da cidade ao recém-chegado. O tempo estava estável, e nos dava esperanças de que as previsões de chuva para os dias seguintes não fossem se concretizar.

Após algumas rodadas, resolvemos parar numa pizzaria que oferecia, além do serviço no restaurante, pizzas e calzones para viagem. A idéia era pegarmos ali e ir sentar em alguma praça, para ver o movimento (já tinha ouvido que isso é algo bastante comum na Itália), mas, como a casa não estava cheia e o garçom “gentilmente” propôs que nos sentássemos, aceitamos. Pedi uma pizza, o Japa um calzone e o Fernando, que já havia comido, só ficou de companhia. Como era de se esperar, a comida estava boa; considerando a porção e o ambiente, o preço estava bem razoável. Tudo estava bem até recebermos a conta e descobrirmos a “taxa para sentar”. Na hora entendi porque comer nas praças é tão popular. Tudo bem, não era nada absurdo, algo
O DuomoO DuomoO Duomo

Parte de cima da fachada
como 3,00€. Mas não tínhamos visto nenhum aviso, e o restaurante estava vazio ainda por cima! O Fernando, mesmo, pagou só para sorrir lá dentro... depois dessa, começamos a reparar nos cardápios dos restaurantes e vimos que de fato, em letras mais ou menos miúdas, todos indicavam essa “taxa do assento”. Humpft, lição aprendida!

Depois do passeio voltamos ao albergue, já o segundo da viagem. O Santa Monaca, um antigo convento convertido em hostel, era simpático, mas bem simples e sem café da manhã (conseguimos escapar do dormitório de 32 camas!). Em todo o caso, já era bem melhor que o lar dos desabrigados. Só dormimos ali, pois voltamos tarde e cedo na manhã seguinte saímos rumo ao nosso terceiro hostel, interessados no café da manhã. Felizmente, a qualidade da hospedagem foi melhorando, e esse último, o Archi Rossi¹, era bem completo, simpático, bem localizado – e ainda tinha café da manhã! Recomendo!

Barriga cheia após o primeiro café da manhã decente da viagem, era hora de bater perna e ter o nosso dia de turista em Firenze. No percurso, a Piazza Del Duomo, a Piazza della Signoria, a Ponte Vecchio, entre inúmeras outras piazzas, igrejas, vias, pontes e
O DuomoO DuomoO Duomo

Agora a parte de baixo
ruelas menos famosas, mas nem por isso menos memoráveis. O centro da cidade é bem compacto, as atrações são próximas, e as ruas cheias de charme, então simplesmente andar (ou melhor, perder-se) é um ótimo programa. As construções, não apenas as igrejas, são belas e grandiosas, e refletem os ideais artísticos renascentistas – a busca pela perfeição, a simetria, a opulência. Uma ótima aula de campo para quem já teve oportunidade de estudar a História da Arte.

Por falar nisso, lembro-me claramente das aulas no colégio. Ao estudarmos o Renascimento, os olhos do professor brilhavam ao mencionar o Duomo (Igreja de Santa Maria Del Fiore) e a incrível cúpula projetada por Brunelleschi. Ao me deparar com ele, compreendi o porquê – a construção é simplesmente magnífica. Gigantesca, como tudo na cidade, sua fachada em mármore rosado e verde ricamente adornada, e a cúpula monumental, um enorme desafio e inovação arquitetônica para a época em que foi construída (a obra foi concluída em 1436). Atualmente, há três visitas possíveis de serem feitas: apenas a área comum da igreja; subir no Duomo (de onde se pode apreciar de perto a pintura interna da cúpula); ou subir a torre do sino, para
SúplicaSúplicaSúplica

Torre do Palazzo Vecchio ao fundo
uma vista da cidade. No entanto, nesse dia, não sei bem porque, a igreja estava fechada, era possível unicamente subir a torre (6€). Diante da grande fila e do tempo ruim (a visibilidade não estaria muito boa), acabamos deixando de lado.

Se Firenze tem fama de cidade-museu, a Piazza della Signoria é com certeza a seção das esculturas. A praça, onde ficam o imponente Palazzo Vecchio e sua torre de 94m, é recheada de enormes estátuas, como a réplica do Davi de Michelangelo, a fonte de Netuno, Perseu com a cabeça de Medusa e várias outras. Todas expostas assim, na maior naturalidade, tão acessíveis quanto um poste ou um banco de praça qualquer. O Palazzo Vecchio, antiga residência da família Medici, é a atual prefeitura da cidade, e abriga também um museu. Seu nome (= ‘Palácio Velho’) foi dado quando os Medici resolveram se mudar, pois queriam um palácio maior(!). É possível visitar gratuitamente seu pátio térreo, com paredes pintadas e colunas decoradas.

Um pouco adiante se encontra outro símbolo de Firenze, a Ponte Vecchio (sim, tudo é velho por aqui, mas bom, estamos no centro histórico de uma cidade européia!). Ela foi construída no ponto onde o
The Golden RiverThe Golden RiverThe Golden River

As brilhantes vitrines da Ponte Vecchio
Rio Arno é mais estreito, e desde o início abrigava mercadores, que expunham suas mercadorias como numa grande feira. Os negócios prosperaram, as mesas viraram lojas, de forma que vemos hoje uma ponte atípica, toda construída, brilhante com seu comércio de jóias, relógios e outros artigos luxuosos e reluzentes. Uma história curiosa é que, durante a 2ª Guerra Mundial, o próprio Hitler teria ordenado para que a ponte ficasse intocada, de forma que ela foi a única das pontes da cidade a não ser bombardeada na guerra. Como se vê, já não é de hoje que se trata de um local com prestígio.

Atravessando a ponte chega-se à Região do Oltrarno, onde se situa o Palazzo Pitti, um palácio gigantesco que virou a nova morada dos Medici. Ele é sem dúvida bem maior que o Vecchio, mas, pessoalmente, acho o antigo muito mais bonito. Mas gosto é gosto, quem sou eu para desmerecer as escolhas do duque!

Apesar do palácio, nosso interesse nessa região era outro: a Igreja de San Miniato Al Monte. Ela, além de ser um belo exemplo de arquitetura românica, ainda se situa no alto de um dos morros mais altos da cidade, um ótimo
Contemplando a cidadeContemplando a cidadeContemplando a cidade

Vista de San Miniato al Monte
ponto panorâmico e que não é freqüentado pela maioria dos turistas – ótimo! Se até o momento a chuva, que alternava umas pancadas mais fortes com momentos de calmaria, não chegara a incomodar (muito), nessa hora ela resolveu mostrar presença. Em plena subida da colina, começou o maior temporal, e não tínhamos onde nos esconder; a solução foi correr morro acima para buscar refúgio dentro da basílica.

A sensação foi quase a de estar vivenciando um episódio de Scooby-Doo: em plena tempestade, correndo para o casarão no alto da montanha. Só faltou a porta ranger e um mordomo suspeito vir nos receber – o interior da basílica é bastante escuro (os templos românicos são bem mais sombrios, ainda mal se utilizavam os vitrais que foram popularizados no período gótico), e enorme. Se pela fachada a idéia que eu tive era de uma igrejinha simples e pequena, ao entrar ela se revelou bem comprida, e com 3 andares diferentes, um dos quais subterrâneo, onde há as criptas... tudo isso fracamente iluminado, e com o barulho da chuva caindo lá fora – “Scooby-Doo, cadê você!?”.

Ficamos mais de meia hora ali, deixando a tempestade cair. Felizmente (ou infelizmente), não surgiu
Vista da Piazzale MichelangeloVista da Piazzale MichelangeloVista da Piazzale Michelangelo

Sem pôr-do-sol para mim
nenhum mistério para resolvermos, e assim que a chuva diminuiu, saímos para enfim contemplar o visual. O dia não estava dos melhores (vocês podem imaginar), mas mesmo assim a vista era linda – um belo panorama do centro da cidade, com o Duomo e a torre do Palazzo Vecchio se destacando na paisagem.

Descemos depois para a Piazzale Michelangelo, o mirante que os turistas conhecem. Essa praça fica bem mais baixa que a igreja, mas vale a passagem, pois permite, além do panorama do centro, uma vista do rio Arno e da ponte Vecchio. Era dali, de fato, a foto que eu vira do famoso pôr do sol. O horário era propício, final de tarde. Mas a chuva continuava, não haveria jeito de o sol aparecer. O céu mudou de cinza-esbranquiçado para um cinza-escuro e depois para um azul escuro... as luzes da cidade se acenderam, já era noite. Tudo bem, nem tudo sai sempre como a gente gostaria. Felizmente. Como havíamos visto a previsão do tempo, eu e Japa resolvemos vir preparados: trouxemos nossos óculos de natação! Vestimo-los ainda em San Miniato Al Monte, e ficamos andando por aí com eles – foi bem divertido observar as reações
Yeah, nós temos óculos!Yeah, nós temos óculos!Yeah, nós temos óculos!

Viemos preparados para o temporal
das pessoas que passavam por nós. Valeu o banho de chuva! =D

Nossa fantasia, no entanto, em breve deixou de ser o destaque das ruas. Era a noite de 31 de outubro, e pelo que constatamos o Halloween é bastante popular entre os italianos - o centro foi tomado por pessoas com fantasias, roupas pretas, e rostos maquiados. Voltamos à rua de bares pela qual passáramos na primeira noite, e ela estava cheia de personagens curiosos - vimos desde uma garota vestida de abóbora até um grupo de “caça-fantasmas” perseguindo um carro, bem engraçado. Somado a isso, a música dos bares estava bem eclética, alternando sons mais comerciais mundialmente conhecidos com músicas italianas, as quais as pessoas dançavam e cantavam empolgadas. O hit da noite – que virou a música da viagem – foi uma nova versão de ‘Tanti Aguri’, de Raffaela Carrà, um clássico de 1978 (quem tiver curiosidade pode procurar no youtube)!

O dia 1º de novembro amanheceu chuvoso, para variar. Ainda assim, saímos para andar por outras partes da cidade que ainda não havíamos explorado, e com a esperança (eu, pelo menos) de subir no Duomo. No entanto, era feriado, e boa parte das atrações estava fechada – o que ficara aberto estava com filas gigantescas (ok, saímos tarde também). Diante disso, optamos por pegar um trem e visitar a torre mais famosa do país (como vocês verão no próximo post).

Antes, no entanto, paramos para comer uma iguaria Fiorentina que o Matteo (do Chianti) nos havia recomendado: panino con lampredotto. Lampredotto é o quarto estômago dos bovinos e, por mais que possa parecer nojento, esse sanduíche é uma das ‘comidas de rua’ mais populares da cidade, podendo ser encontrado em diversas barraquinhas especializadas. A consistência da carne é um tanto quanto peculiar (principalmente para nós, que não somos habituados a comer tripas), mas o panino, servido com uma salsa verde à base de ervas, é extremamente saboroso. Para os viajantes gastronômicos, vale a experiência!

A noite, após o passeio, foi tranqüila, com direito a janta no hostel acompanhado pelo nosso vinho do Chianti. Na manhã seguinte embarcaríamos no trem rumo à Milão, deixando a Toscana para trás.

Fazendo um breve balanço sobre Firenze, é curioso perceber que, apesar de todos os atrativos que a cidade possui, ela não é um destino turístico principal como Roma ou Veneza. Os turistas estão lá, sim, mas
Igreja de Santa CroceIgreja de Santa CroceIgreja de Santa Croce

Fora do triângulo principal
geralmente de passagem em suas excursões (“Se hoje é quarta então isso deve ser Florença”), e se concentram em lugares-chaves, como o triângulo formado entre as Piazzas do Duomo, de la Signoria e a Ponte Vecchio. Ali, as ruas são cheias e os preços exorbitantes. Mas basta andar um quarteirão para fora dessa zona e pronto, vê-se a verdadeira Firenze, com seus moradores, seus hábitos (e seus bares com karaokê!).

No final, acabamos não visitando ‘atrações obrigatórias’ da cidade como o Uffizi ou o Duomo, não comemos a renomada bistecca Fiorentina, nem tampouco conseguimos ver aquele meu sonhado pôr-do-sol. Saímos, no entanto, com a certeza de ter conhecido Firenze, e de ter aproveitado intensamente esses dias de viagem. Quanto às ‘atrações obrigatórias’? Ficam para uma próxima vez, quando voltar à região (e voltarei, segundo o Porcellino!), com a esperança de um tempo melhor, afinal ainda não desisti do meu pôr-do-sol! No entanto, o tempo é apenas um detalhe – afinal, como dizem no tal filme “Sob o Sol da Toscana”:

How can you say no to Tuscany"



😊





1. Ostello Archi Rossi – localizado a duas quadras da estação Santa Maria Novella, é um albergue bastante agradável e bem-conservado. Se por um
Archi RossiArchi RossiArchi Rossi

O albergue das duas últimas noites
lado ele não é dos mais baratos (pagamos 26€ uma noite e 22€ a outra), há algumas facilidades que fazem valer a pena, como café da manhã, vários computadores com acesso à internet, tours gratuitos da cidade e possibilidade de jantar por apenas 2,50€ (e, para nossa sorte, em novembro, eles estavam com uma promoção, e todas as diárias já davam direito à janta)! Os corredores que dão acesso aos quartos têm as paredes brancas, e os hóspedes são incentivados a deixar suas mensagens, bem interessante. Foi, sem dúvida, o melhor dos 3 albergues da viagem – fica a dica 😉


Additional photos below
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Os protagonistas do filmeOs protagonistas do filme
Os protagonistas do filme

Japa, eu e Fernando
Piazza della SignoriaPiazza della Signoria
Piazza della Signoria

Dividida entre estátuas e turistas
Davi e o Leão dos MediciDavi e o Leão dos Medici
Davi e o Leão dos Medici

Piazza della Signoria
Fonte de NetunoFonte de Netuno
Fonte de Netuno

Piazza della Signoria


26th October 2011

AAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH AAAAAAAAANIMAAAAL!!!! Cara, continue escrevendo!!! Demais ler e relembrar esses momentos!!!!! :DDD Abraço Luis!!! Tu devia virar escritor de alguma revista ou blog, ja pensou nisso ?
26th October 2011

Valeu pelo incentivo! Me divirto bastante escrevendo também. Só está meio tenso agora com todos os trabalhos e o TCC por fazer, mas... devagar e sempre, vamos que vamos. Como eu disse uma vez, até eu me aposentar eu consigo terminar! Bom que é um baita exercício para a memória, ou seja, combatendo o Alzheimer! Hahahaha Só não entendi tua pergunta. Como assim se eu já pensei virar escritor de blog? Isso que eu faço é o que ué? Hahaha Grande abraço!

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