Pelas colinas do Chianti


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October 30th 2010
Published: September 9th 2011
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Ainda amanhecia em Firenze quando atravessamos o rio Arno de volta aos arredores da estação Santa Maria Novella, rumo dessa vez à Autostazione Sita. Seguindo as recomendações do doutor, embarcamos no ônibus das 8h rumo ao Chianti, animados com a ideia de poder conhecer um pouco das tradicionais paisagens da Toscana.

Pelas colinas do Chianti


O Chianti, para quem nunca ouviu falar (assim como eu até dias antes dessa viagem), é uma região montanhosa localizada entre Firenze e Siena. É chamada por alguns de “O Coração da Toscana”, não apenas por sua posição central na região, mas também por ser um condensado do que ela oferece de melhor: colinas verdejantes, cidades e vilas pitorescas, estradas rurais e sinuosas, oliveiras e, obviamente, videiras. Trata-se de uma das mais importantes áreas vinicultoras da Itália e, dizem, a primeira AOC do mundo (para saber o que é AOC, veja Introdução aos vinhos do Bordelais) – hoje chamada de Chianti Classico.

Nosso objetivo era ver o que fosse possível do Chianti e fechar o dia passando por Siena, a antiga rival de Firenze na Idade Média e que, em antagonia ao estilo predominantemente renascentista do centro desta, possui um centro histórico característico medieval. Trata-se de um roteiro extenso, mas
Greve in ChiantiGreve in ChiantiGreve in Chianti

Com seu mercado secular na Piazza Giacomo Matteotti
perfeitamente realizável caso se esteja de carro. Já de ônibus... a partir da primeira descida, a sorte estaria lançada. Assim foi: cerca de 1h após a partida, saltamos no que torcemos – e acertamos – ser Greve in Chianti.

Greve é atualmente a principal cidade da região do Chianti, o que não a torna menos bucólica ou pitoresca. No entanto, o motivo maior de termos a escolhido para nossa primeira parada era outro: o contato de um amigo de um colega de estágio do Japa. Não sabíamos o que esperar disso, mas tínhamos a chance de encontrar com alguém local, uma oportunidade que não podia ser desperdiçada... mas que podia aguardar. Afinal, eram apenas 9h da manhã de um sábado, não queríamos bancar os inconvenientes.

Aproveitamos o tempo para tomar café da manhã numa padaria (uns pães recheados e, para beber, meio litro de achocolatado para cada um – haja barriga!) e fazer um reconhecimento na área. A cidade está instalada no fundo de um vale recoberto de parreirais, e seu ponto central é uma praça triangular – a Piazza Giacomo Matteotti, rodeada de pórticos, onde se realiza uma feira secular. Para não quebrar a tradição das manhãs de sábado,
Matteo e mãeMatteo e mãeMatteo e mãe

Com sua barraca no Mercato di Campagna Amica
lá estava ela, com suas inúmeras barraquinhas e grande variedade de ofertas: de produtos da terra (legumes, carnes, vinhos) a roupas, sapatos e acessórios, havia de tudo. Ah, se não tivéssemos acabado de comer!

Em meio a tantas distrações, o tempo passou rápido, e quando vimos – quase 11h – estava o Matteo (o tal contato que tínhamos) ligando para o Japa, preocupado com nosso paradeiro. Foi então que descobrimos que ele estava com a mãe na feira, cuidando da barraca da família, pela qual já havíamos passado. Extremamente simpáticos, eles nos apresentaram os azeites e vinhos fabricados em sua propriedade e, como já havíamos passeado por Greve, Matteo se propôs a nos fazer um pequeno tour da região. Como se não bastasse, ainda nos ofereceram gentilmente uma garrafa de vinho - um ‘Chianti Classico’! Terminasse ali, o dia já teria valido a pena. Mas ele estava apenas começando...

Il Mercato di Campagna Amica – La vendita direta dal produttore al consumatore è garanzia di: origine, sicurezza, qualità, tracciabilità, genuinità, territorialità, stagionalità, convenienza.



Nossa primeira parada foi a vila de Montefioralle, situada no alto de uma colina vizinha à Greve, e que parece ainda não ter saído da Idade Média, já que permanece confinada dentro de suas históricas muralhas. As ruas são estreitas e sinuosas, e as construções predominantemente em pedra. No passado, ela abrigou famílias importantes, como a Vespucci, o que alimenta a teoria de o famoso cartógrafo Américo Vespúcio (Amerigo Vespucci em italiano) ter aí nascido. Devido à sua posição favorecida, trata-se de um ótimo mirante, com belas vistas do vale de Greve e das colinas vizinhas.

Dali em diante foi uma sucessão de deslumbramentos: percorremos estradas secundárias, sinuosas, margeadas aqui e ali por videiras e ruínas, e com uma vista de colinas e vales se estendendo ao horizonte. O efeito do outono quebrava o predomínio do verde na paisagem, dando alguns toques de amarelo e laranja. O Matteo, bem paciente, parou inúmeras vezes para que pudéssemos tirar fotos ou simplesmente contemplar.

Passamos rapidamente por Panzano in Chianti e sua bela igreja de pedra, por Radda in Chianti com seu centro pitoresco e seguimos até a Badia a Coltibuono, um antigo mosteiro que foi parcialmente convertido a hotel. Esse, no entanto, funciona apenas na temporada (abril a outubro), e já estava fechado quando fomos, mas ainda assim valeu a pena, pois o local é belíssimo.

Dado o avançar da hora e a fome apertando, resolvemos voltar para Panzano, onde o Matteo tinha um restaurante típico a nos apresentar – o Officina dela Bistecca.
Almoço fartoAlmoço fartoAlmoço farto

Tão bom que só lembramos de tirar a foto no final!
Pude perceber a popularidade do lugar logo ao chegarmos, pois mesmo já passando das 14h ele ainda estava bem cheio. Ficamos numa espécie de varanda exterior, onde as mesas eram compridas e comunais, daquelas que incitam ao banquete e à fartura. Para ambos os lados na mesa, pessoas que comiam e conversavam alegremente (gesticulando como bons italianos) só fizeram aumentar meu apetite.

Diante de um menu um tanto quanto enigmático, deixamos o Matteo fazer os pedidos. De entrada, legumes crus (cenoura, cebola roxa, pinocchio e aipo) acompanhados por um molho de azeite com sal e ervas finas; como prato principal, tipos variados de carnes (peixe, porco e gado), como o tonno del Chianti ou o sushi del Chianti, com seus diferentes molhos e acompanhamentos. Tudo acompanhado pelo vinho da casa, obviamente (para não fugir à tradição!). Para completar a refeição temática, fomos ao Caffè Terzani, bem próximo ao restaurante, provar o famoso Limoncello, um digestivo tradicional italiano feito à base de limão, álcool, água e açúcar (falando assim, lembra até caipirinha). “Humm, molto buono!” =D

Findos os deleites gastronômicos, por volta das 16h, o Matteo precisava voltar a Greve para auxiliar sua mãe com o fechamento da barraca. Para eu e o Japa, a vontade era seguir com a ideia original, e rumar para o sul visitar Siena. Diante disso, Matteo nos ofereceu uma carona até Castellina in Chianti, cidade um pouco mais próxima de Siena e a partir da qual deveríamos conseguir um ônibus para terminar o percurso.

Após as despedidas, fomos nos informar dos horários de ônibus. Passara um por volta das 16h, o próximo seria só após as 19h – ou seja, dali mais de 2h30! Até poderíamos usar este tempo para visitar a cidade e seu castelo (daí o nome Castellina), mas isso nos faria chegar muito tarde a Siena. Concordamos, então, que só havia uma alternativa...

Polegar estendido e sorriso na cara, fomos para a beira da estrada. Nenhum de nós era caroneiro experiente (Mari, cadê você nessas horas?), então confesso tivemos algumas dificuldades logísticas: “ali logo depois da curva não, pois não dá tempo de nos verem”; “mas ali no retão também não, pois eles vêm com muita velocidade”; “tem que ser perto de um lugar em que eles possam encostar”, e por aí vai... Descobrimos que posicionar-se para pedir carona é uma verdadeira arte! Como se não bastasse nossas dificuldades de
Radda in ChiantiRadda in ChiantiRadda in Chianti

Centro histórico
principiantes, a grande maioria dos carros que passavam era de nível bom, por assim dizer, conduzidos por pessoas de idade. Num caso desses, quem é que iria parar para dois sujeitos na estrada (com protótipos de bigode por fazer, ainda por cima!)?? Pior, estava escurecendo... Para ajudar um pouco nosso lado, ainda fizemos uma placa com papel dizendo “SIENA”, mas estava difícil. Boa parte nos ignorava, alguns respondiam que iam a outras direções, enfim. Persistimos... e após quase 1h fomos recompensados – conseguimos! o/

No carro, uma família – ela italiana, ele mexicano descendente de japoneses (da mesma região que os avôs do Japa!) e uma menina pequena na cadeirinha, que foi conosco no banco de trás. Bastante simpáticos, fomos conversando a viagem toda (em inglês). Não apenas eles nos deram carona, como desviaram um pouco de seu caminho para nos deixar ao lado de um dos acessos à colina onde fica o centro medieval – melhor impossível!

Para subir, nada de ladeiras ou escadarias, mas sim uma série de escadas rolantes cobertas (viva a modernidade). Desembocamos em uma ruela estreita e logo encontramos as duas praças que tínhamos vindo ver: a do Duomo e a del Campo.
SienaSienaSiena

Piazza del Campo, com o Palazzo Pubblico e parte da Torre del Mangia ao fundo
Na primeira, como o nome indica, encontra-se a Catedral de Siena (Duomo) , belíssima, com sua fachada ricamente decorada, segundo o estilo gótico italiano. Já a Piazza del Campo é o ponto mais turístico da cidade, uma enorme praça em forma de concha onde os fotógrafos se batem com suas lentes na tentativa de enquadrar ao mesmo tempo a praça e os 87m da Torre del Mangia (nós não conseguimos, como vocês podem ver nas fotos). Nela é disputada, duas vezes ao ano, a famosa corrida de cavalos conhecida como ‘Palio’, uma tradição que vem desde a Idade Média (e que já apareceu em alguns filmes, como no último 007 – Quantum of Solace).

Demos mais algumas voltas pelas ruas do centro (repletas de turistas, ao contrário do Chianti), e logo já era hora de partir – afinal, ainda precisávamos voltar a Firenze. Siena merecia uma visita mais demorada, assim como poderíamos tranquilamente ter passado dias a mais pelo Chianti. Mas, dentro de nossas limitações, fizéramos muito mais do que o esperado. A beleza do cenário, o passeio com o Matteo, as emoções de pedir carona, o vinho de souvenir... não faltariam belas memórias desse dia passado pelas colinas do Chianti.
😊



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Roteiro do diaRoteiro do dia
Roteiro do dia

De Firenze a Siena, conseguimos!
Greve in ChiantiGreve in Chianti
Greve in Chianti

Fazendo hora antes de procurar o Matteo
Greve in ChiantiGreve in Chianti
Greve in Chianti

Japa e o achocolatado vitaminado do café da manhã
Greve in ChiantiGreve in Chianti
Greve in Chianti

Uma bucólica manhã de outono
Greve in ChiantiGreve in Chianti
Greve in Chianti

Agradável, não?
Greve in ChiantiGreve in Chianti
Greve in Chianti

Piazza Giacomo Matteotti e sua feira
Greve in ChiantiGreve in Chianti
Greve in Chianti

Direto dos produtores, com direito a beterrabas gigantes
MontefioralleMontefioralle
Montefioralle

Vila onde nasceu Américo Vespúcio
Panzano in ChiantiPanzano in Chianti
Panzano in Chianti

A cidade vista da estrada
Panzano in ChiantiPanzano in Chianti
Panzano in Chianti

Igreja de Santa Maria Assunta


25th September 2011

Que linda viagem !
Luis, adorei ler o seu blog ! Muito bem escrito, tive a sensação de fazer parte das belezas descritas. Meu maior desejo é conhecer a Italia e Toscana faz parte deste meu sonho. Obrigada pela oportunidade ! Beijos

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