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Published: March 3rd 2012
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Rumo ao desconhecido
A caminho de San Rafael A paisagem árida e plana se estendia a perder de vista, acompanhando os retões intermináveis da Ruta 40. No caminho, algumas passagens por pontes revelavam leitos de rios completamente secos. A Cordilheira dos Andes escondia-se no horizonte por trás de nuvens de poeira, que conseguiam diminuir a visibilidade mesmo naquele dia de céu incrivelmente azul. Achava até difícil de acreditar que estávamos na região de Mendoza, o grande pólo viticultor argentino.
Até o momento, minhas experiências com a Argentina se limitavam ao cenário deslumbrante dos lagos andinos, na região de Bariloche, e ao charme decadente da capital Buenos Aires. Para o restante do país, tinha algumas imagens pré-concebidas na cabeça, baseadas em livros, blogs e em minhas próprias convicções. No entanto, não precisei nem pousar no aeroporto de Mendoza para descobrir o quão erradas estavam minhas suspeitas a respeito do Meio-Oeste.
Ok, sigamos com calma. Adoro introduções, com essa viagem não será diferente. :D
Minha vida carioca foi marcada pela ‘rotina salutar’ das festas de final de ano: refeições natalinas, família toda reunida, ceia de ano novo e fogos na praia - nada mal. No entanto, em 2007 descobri o mundo dos intercâmbios e encantei-me com o meu
O destino da vez
Vôo Rio > Buenos Aires > Mendoza desempenho como viajante independente. A partir de então se seguiram 4 finais de ano atípicos, comemorados à distância, em maior ou menor estilo.
Após tantos anos ‘desgarrado’ e do um ano de intercâmbio na França, o final de 2011 tinha tudo para ser o momento de voltar aos tradicionais encontros familiares. Mas não foi bem assim - dessa vez, por culpa (ou melhor, mérito) dos meus pais - com quem vocês acham que eu aprendi? Passagens em mãos, lá vamos nós – os cinco, rumo a uma nova aventura.
“
Em vez de passar o Natal e o Ano Novo no RJ, reunindo as famílias para confraternizar, dar e receber presentes, estourar o champagne na praia de Copacabana, contar os dez segundos para o Ano Novo e dar os sete pulos no mar de Iemanjá, resolvemos passar esses dois momentos em mais uma viagem inesquecível.”
(Da minha irmã caçula Ana, em suas anotações de viagem)
Incursão ao Meio-Oeste argentino
O destino da vez: a província de Mendoza, na Argentina. Um destino bastante conhecido por ser o berço dos grandes vinhos argentinos – assim como em Bordeaux, na França, não faltam vinícolas, adegas e lojas especializadas nas
Bienvenidos a Mendoza
Vinhedos à frente, Aconcágua ao fundo... basicamente a essência do lugar redondezas. Essa região há muito figurava na ‘lista de viagens’ dos meus pais e, mesmo não sendo uma das prioridades, o apelo enológico ajudava a mantê-la sempre na lista. A capital da província é a cidade homônima, Mendoza, com vasta infra-estrutura hoteleira, utilizada pelos turistas como base para os passeios nas proximidades.
No entanto, a província é bastante grande, e a área da capital e seu entorno corresponde a apenas uma pequena porção. Nosso principal destino se encontrava mais ao sul, no misterioso departamento de San Rafael, e era fruto de mais uma das ofertas conseguidas pelos meus pais através de seu clube de viagens.
Digo misterioso, pois não se trata de um local que figure nos veículos habituais de informações turísticas. Poucas eram as informações sobre os atrativos, e as fotos escassas – restava confiar no site do hotel, com suas promessas de belas paisagens e de inúmeras opções de entretenimento. Sem saber de fato o que nos aguardava, mas atiçados pela curiosidade, cada um de nós formulou para si suas próprias expectativas. Assim embarcamos, na manhã do dia 23, com a única certeza de estarmos prestes a realizar uma viagem “diferente”.
O vôo, minha primeira
Rota até Valle Grande
Ruta 40 > RP 143 > RP 173 experiência com a Aerolíneas Argentinas, foi tranqüilo, embora não exatamente agradável. As aeromoças em geral pareciam tristes e sem vontade de estar ali (elas não precisam estar radiantes, mas nem um sorriso!?), e a escala de mais de 6h no aeroporto de Buenos Aires - Aeroparque fez com que levássemos mais tempo para chegar do que se estivéssemos a caminho dos EUA. O aeroporto em si também não ajudou, pois as opções de alimentação eram poucas e os preços elevados pela qualidade oferecida.
À medida que voávamos na direção de Mendoza, avançando rumo ao Oeste, tive uma inusitada sensação de déjà vu: a paisagem árida da janela, pontuada aqui e ali por plantações; o céu azul, mas a visibilidade reduzida devido à poeira; a cadeia de montanhas observando a cidade, ao longe... Mas não eram os Atlas, e nem Marrakech. Dessa vez, eram os Andes – chegáramos a Mendoza.
A cidade se encontra aos pés da dita pré-cordilheira andina, uma série de picos de altitudes de até 3000 m que antecede os Andes. No entanto, dela já é possível avistar o Monte Aconcágua (do quéchua, Ackon Cahuac - Sentinela de Pedra), que com seus 6962 m é o
pico mais alto das Américas e, para felicidade geral da nação, encontra-se inteiramente em território argentino.
Com a chegada prevista para o fim da tarde, havíamos decidido passar a primeira noite na capital, e assim deixar a viagem de carro de 260 km até o nosso verdadeiro destino para o dia seguinte. Como só escurecia tarde, lá pelas 21h, ainda tivemos tempo de passear um pouco pelas redondezas do hotel, mas deixarei para comentar sobre a cidade num outro momento.
Na manhã seguinte, malas no carro (alugamos um Fiesta) e coordenadas em mãos, partimos rumo ao sul, pela famosa Ruta 40. Essa estrada é conhecida por cortar a Argentina de norte a sul, passando por lugares extremamente desolados e de grande beleza cênica (principalmente nos confins da Patagônia) e, tal como outras estradas notáveis do mundo, como a US 66 (nos EUA), possui toda uma gama de souvenires, como adesivos, ímãs, blusas, chaveiros etc.
À medida que deixávamos a aglomeração urbana para trás, a sensação foi a de estarmos deixando um oásis. O solo rochoso, a vegetação de baixa altura, o sol escaldante brilhando alto – véspera de Natal, e partíamos rumo ao deserto. Mas como pode,
Valle Grande
Vista do nosso chalé - nada mal :) então, essa região árida ser o coração vinícola argentino? Seguíamos pela estrada, cruzando pontes sobre leitos secos de rios, e a pergunta permanecia sem resposta.
Diante da paisagem que víamos, começamos a temer pelo pior. O grande atrativo do nosso hotel era situar-se ao lado de um rio – o rio Atuel – onde se praticam esportes aquáticos, como canoagem e rafting. Se o rio também estivesse seco, já eram essas atividades – teríamos que nos contentar com a piscina.
Foi assim, cheio de temores, que entramos na região do Valle Grande. Mas a vista da primeira curva da estrada já foi reconfortante: o rio corria, cheio e caudaloso, cercado por árvores, uma espetacular paisagem bem guardada pelas paredes rochosas do vale. Na hora enchi-me de satisfação. Lá estávamos nós, desbravando um local que deve ser desconhecido para a maioria das pessoas de fora da Argentina. E a viagem havia apenas começado.
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