Da Colombia para a Venezuela


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September 25th 2005
Published: December 20th 2005
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01. Terminal de Santa Marta01. Terminal de Santa Marta01. Terminal de Santa Marta

Nada de interessante a referir

Da Colombia para a Venezuela - De Santa Marta até Mérida



- MARACAIBO -

Uma alteração de planos sem razão aparente levou-nos, a mim e à Jo, companheira de viagem, à Venezuela. Mérida era o destino mais interessante devido à proximidade, 16 horas de autocarro. Achei que era demais e por isso partimos a viagem em 2 e ficamos dois dias em Maracaibo, a segunda cidade venezuelana.
Maracaibo, descrita nos guias como “hot as hell and rich with oil” é uma cidade moderna para os padrões sul-americanos, avenidas largas, torres altas mas sem alma e meia dúzia de monumentos coloniais. A cidade cresceu junto ao Lago Maracaibo, o maior da américa do sul até 1914, quando pesquisadores aí encontraram petróleo. Nos anos 20 a Venezuela era o maior exportador de ouro negro do mundo, e Maracaibo a capital deste mineral.
Chegámos a Maracaibo às 21h, o calor era insuportável. A primeira sensação foi de insegurança. Munidos de shot-gun uma série de guardas privados da empresa de transportes asseguravam a segurança dos passageiros na recolha da bagagem e garantiam que todos deixavam a zona em segurança. Como “meio-a-ver-o-que-é-que-se-passa” fui imediatamente abordado por um destes "sujeitos" que, nervosamente, me arranjou
02.  A caminho da Venezuela02.  A caminho da Venezuela02. A caminho da Venezuela

Ainda na Colômbia.
um taxista de confiança da empresa. Peço que me leve a determinado hotel, o mais barato do Lonely Planet, o guia que me acompanha, ao que ele se recusa pela elevada criminalidade na zona. Aceito então o conselho do “amigo da metralhadora”, cada vez mais nervoso e, Hotel Caribe, aí vamos nós. Confesso que não me senti com a mesma confiança com que chego a Roma. De dentro do velho Cadillac Caprice admiro os arredores da cidade em direcção ao centro e oiço a explicação para tal nervosismo dos seguranças. Por vezes existem assaltos relâmpagos neste terminal a passageiros que se esperguiçam depois da longa viagem.
Cansado e nervoso pergunto ao taxista que me leve onde possa comprar uma garrafa de vinho para me acalmar e acompanhar com o jantar. A venda de alcool na Venezuela é permitida somente a estabelecimentos com licença, alguns restaurantes e licorerias. A experiência numa destas foi também engraçada. À porta, os famosos rapazes da shot-gun. Já estava habituado. Trato de discutir que vinho e a compra por uma janela entreaberta, quando alguém de corrida se dirige a mim e ao taxista e nos arrasta por um braço. Começei a ficar farto da tensão. Mas
03. Os famosos Cactos das Caraíbas03. Os famosos Cactos das Caraíbas03. Os famosos Cactos das Caraíbas

Na época seca a vegetação é inexistente. Um autêntico deserto, para além destes enormes cactos.
afinal era a polícia que estava controlar a zona e como a dita licoreria não tinha autorização para vender alcool aquela hora, fomos arrastados para esconder a ilegalidade. A salvo dentro do Caprice o motorista confidencia-me que quando fomos arrastados pelo braço achou que íamos ser assaltados. Que bom!
Chegado ao hotel e depois de um banho preparo-me para o tão desejado jantar acompanhado do vinho. Preocupado por não ter um saca-rolhas à mão, o problema resolve-se quando me apercebi que a garrafa ficou no táxi. Com uma pizza e uma lata de um sucedâneo de Coca-Cola no estômago preparo o dia seguinte. Já que aquí estou vou dar uma volta.

LAGUNA DE SINAMAICA



A cerca de 3 horas a norte de Maracaibo, na Laguna de Sinamaica, era interessante ver os Palafitos, casas construídas sobre estacas em cima da água. Diz-se que os navegadores espanhóis quando aí chegaram e devido às sememlhanças com Veneza, resolveram chamar ao lugar Venezuela, “Pequena Veneza”.
Na Venezuela o sistema de transporte público é igualmente criativo. Um Por Puesto é uma espécie de táxi legal privado em que o passageiro partilha a viagem com desconhecidos pagando somente o lugar que ocupa. Levam até 5 pessoas mais condutor.
De Por Puesto até El Moján numa viagem de 1 hora percebi que as regras de trânsito relativamente a ultrapasagens existem para ser violadas. Nem posso dizer que a manobra seja efectuada no limite, é literalmente à base de “os outros desviam-se”, e não é que se desviam mesmo! Pela direita também vale e aí são os vendedores de fruta e as bicicletas que têm de ter cuidado.
Chegados a El Morán outro Por Puesto para Sinamaica. Desta vez sem stress. E finalmente de Sinamaica até à lagoa aproveitei uma boleia. Por 40.000 bolivares tenho direito a uma embarcação que me passeia pela lagoa durante uma hora e meia. É tudo muito bonito mas teria compensado dividir o barco outros passageiros.
De regresso a Maracaibo trocamos os Por Puesto por um autobus. Desta forma a viagem era não só mais barata como directa.
O autocarro de música latina no máximo e apinhado de seres humanos, animais e seres inanimados lá partiu. A velocidade, as ultrapassagens e o pisar das bermas abanavam fortemente os indiferentes passageiros (menos eu), enquanto as mais diversas e estranhas tralhas caiam em cima das pessoas alheias a tudo. Estranho mas divertido. A meio de uma discussão com a Jo sobre a segurança na Venezuela, em que me esforço por explicar que aquí a policia nem sempre nos protege, o autocarro pára numa operação de rotina do DAS (Departamento Administrativo de Seguridad). Todos para fora. Toca a identificar e revistar tudo e todos. Muito erradamente não tinha comigo o original do passaporte, tinha só uma fotocópia “por engomar” da minha identificação e do carimbo da Colômbia, tal como a Jo. Enquanto tento explicar que por ter chegado no dia anterior à Venezuela não tive tempo de fotocopiar o carimbo de entrada, somos arrastados para a “casinha” sob o olhar dos restantes passageiros. Explico, em vão, que o passaporte ficou no hotel por segurança. Começam a aparecer outros oficiais visivelmente “aborrecidos”:
-“Ahora tienes que pagar la multa mi amigo.”
-“E quanto és la multa?”
-“400 dólares”
Eu não sabia se havia de rir ou chorar.
Tinha enrrolado no bolso cerca de 200.000 bolivares, 80 € e estava a ficar intimidado com tudo aquilo. A Jo, num espanhol de 3 palavras e 2 sílabas, e sem perceber nada de nada tentava simpatizar com os agentes da autoridade que nem a queriam ouvir.
06. Paraguachón06. Paraguachón06. Paraguachón

A primeira localidade venezuelana depois da fronteira norte com a Colômbia.

-“400 dólares? Não tenho!”
-“Entonces quanto é que tens?”
Pensei em desenrrolar “artisticamente” as notas do bolso e respondi-lhe.
-“40.000 bolis.”
-“Mete la plata en la mesa!”
Achei que as notas que tinha comigo eram de 20.000 e que conseguiria desenrrolar duas ao mesmo tempo para não mostrar o resto. Quando tiro a primeira sob o olhar atento de dois oficiais, reparo que as notas eram de 10.000. Eu não ia conseguir repetir o mesmo acto em 4 tempos e arrisquei dizer que é tudo, o resto “tiene la chica”. Eu sabia que a Jo tinha notas pequenas, e a primeira coisa que faço por aquí é conhecer bem as notas para não dar 5000 em vez de 500. Quando chegámos à conclusão que tudo o que temos (para dar) não passa de 18.000 bolivares tento explicar que o meu engano se deveu à confusão entre as notas de 5000 e de 500. A história parecia bater certo e eles acreditaram. Mantive sempre a minha posição calma de cooperação, mas mais não podia fazer. Somos ainda levados ao chefe que lá fora ouve com desagrado a notícia de que tudo o que temos são 18.000 bolivares.
07. Calle Carabobo07. Calle Carabobo07. Calle Carabobo

É provavelmente a única rua pitoresca da cidade. Ao fundo as torres que caracterizam Maracaibo.
Os gritos dele assustaram-me, e o pior foi a ameaça de nos mandar dali directamente de volta para a Colômbia sem “passar pela casa da partida e sem receber 2 contos”. Enquanto os restantes passageiros sobem para o autocarro, eu só vejo a situação a piorar. Até que o oficial que tinha as fotocópias me as passar para a mão e com um gesto de cabeça deixar-me desertar.
Por fora calmo, por dentro consumido de nervoso, acalmava enquanto os restantes passageiros me perguntavam o que se tinha passado e me tranquilizavam dizendo que dalí até Maracaibo não havia mais daquilo. Claro que ganhei a discussão com a Jo acerca da seriedade de alguns policiais.
Durante a viagem deu ainda para descontrair quando o autocarro, completamente cheio e inconfortable, se fez fila de 10 minutos para abastecer de gasolina, sempre perante a passividade dos utentes e a música no máximo.
2 dias, 2 experiências, a este ritmo isto vai ser bonito.
Chegados ao hotel e enquanto confirmo o dinheiro que tenho, encontro surpreendentemente o número de telefone do taxista que me transportou na primeira noite e que, na expectativa de futuro negócio, me escrevinhou o contacto num papel que guardei distraidamente.
08. Hotel Caribe08. Hotel Caribe08. Hotel Caribe

Entrada do Hotel Caribe em Maracaibo. Os quartos não são tão "exuberantes".
Sim, o taxista que ficou com a garrafa de vinho. Na mesma noite tinhamos a garrafa aberta à nossa frente e planeávamos, agora de forma mais tranquila, os próximos dias.
No dia seguinte um passeio pela cidade, dentro dos limites mais apertados de segurança, revelou-nos uma Maracaibo quente e humanamente intensa. Um mercado colorido, uma igreja colonial, um jardim arejado e estátuas de Simon Bolívar que irei encontrar em todas as cidades, pueblos e pueblitos do país.
De partida no autocarro noturno para Mérida fomos para a terminal com o “famoso amigo” taxista que nos confidenciou acabar de vir de uma reunião em que se planeia legalizar a destituição para mandar abaixo o actual governo de Hugo Chaves.
E num sono profundo viajámos para Mérida, no coração dos Andes.



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09. Basilica Chiquinquirá09. Basilica Chiquinquirá
09. Basilica Chiquinquirá

A direita, Paseo de las Ciencias
10. De por puesto para El Moján10. De por puesto para El Moján
10. De por puesto para El Moján

Este condutor devia ser amarrado na parte da frente do carro dele.
11. Palafitos 11. Palafitos
11. Palafitos

É a este tipo de construção que a Venezuela deve o seu nome. Pequena Veneza.
12. Electricidade12. Electricidade
12. Electricidade

É assim que ela lá chega.
16. Contrastes16. Contrastes
16. Contrastes

Uma das características dos venezuelanos é a relção com a côr.
17. O famoso Por Puesto17. O famoso Por Puesto
17. O famoso Por Puesto

Quase que apanhámos boleia deste. Mas o preço e a vontade de experimentar a viagem de autocarro foi mais forte. Saiu tudo ao contrário com o incidente com a Policia.
18. Dentro do Autocarro18. Dentro do Autocarro
18. Dentro do Autocarro

Dentro do "fatídico" autocarro, depois da "tragédia".
19. Paseo de las Ciencias19. Paseo de las Ciencias
19. Paseo de las Ciencias

Fim de tarde em Maracaibo. Ainda sem passaporte.
20. Paseo de las Ciencias20. Paseo de las Ciencias
20. Paseo de las Ciencias

O céu parece enorme


26th September 2005

Boa
Leste as crónicas do Miguel Cadilhe no Expresso sobre a viagem que ele fez: "Volta ao Mundo por terra e por mar" (mais ou menos assim) Tb tem episódios com polícias e guardas de fronteira do género. Mas mi amigo, cuidado com los policías, antes os gatunos, que por supuesto, son más sérios (não há nada que enganar, uns fingem que vigiam para extorquir, os outros... toda a gente sabe o que querem ("o que tu queres... sei eu!") Um abraço Boa viagem (continuação de b.v.!) t.B.
2nd October 2005

Viver é Bom !!!
Olá Salvador, Estou para além de muito surpreendida, muito feliz por ter noticias suas! Admiro muito a coragem e a ousadia de viver de aventura em aventura ao sabor daquilo que a vida tem para oferecer, desafiando-nos a nós próprios e a conhecermo-nos realmente.Mas que experiência mais enriquecedora.Agarrar a vida com muito Amor!!! é o que me ocorre para melhor expressar a emoção que senti ao ler as suas viagens.Tudo de bom para o resto das Aventuras. E vou ficar atenta à continuação das viagens com certeza. Bjo. Ana Luísa Parreira

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