16 de Abril de 2008; onde a autora conhece as maravilhas do sistema educativo do Reino Unido; as lojas vintage não existem apenas nos filmes; porque a Fnac é um anãozinho insignificante ao pé da HMV e Ravvi; a maravilha de ter lojas a fechar


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September 21st 2008
Published: September 21st 2008
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Queen's UniversityQueen's UniversityQueen's University

Tudor palace... argh
da tarde (segundo senão do RU); as docas de Belfast e porque se gabam eles de terem construído o Titanic; onde se entra num desfile de moda da Emporio sem pagar as 12 pounds de entrada graças ao charme português

No dia seguinte, após uma duríssima noite dormida à pressa (mais da parte da Sónia que da minha, que afinal, estou de férias), tivemos de nos arrancar da cama para eu conhecer as maravilhas do ensino universitário num país desenvolvido. Supostamente a aula era só ao meio-dia, mas - oh - tinha começado antes. Contemporary Irish Theatre, ou qualquer coisa assim? E mal entrei na sala, apercebi-me que pura e simplesmente tinha de abandonar o meu país e ir para outro sítio ter uma educação decente. Sim, mal cruzei a porta.

Primeiro aspecto maravilhoso: a sala em si. Não, nada de cadeiras rijas ou mesas fascistas, numa disposição hierárquica - pura e simplesmente um estúdio, com uma cortina ao meio, alunos em círculo sentados em cadeiras confortáveis, material áudio e outra maquinaria de cena por ali espalhadas, projectores, … ahahahahhahaha….

Depois, o que a aula era: um grupo de 4 alunos a representar uma peça de Brian Friel
Belsfast streetBelsfast streetBelsfast street

A liberdade de comprimento de uniformes...
(Philadelphia, here I come!, se não me engano…), perante os colegas. No fim da representação, os colegas comentaram a coisa, eles responderam a perguntas, explicaram as opções estéticas… foi então que eu reparei que havia um professor na sala, com um cabelo de Einstein e a imagem típica de um intelectual de Bloomsbury, e que eu vim a saber depois se chamava Scott e era americano. Sim, porque nos países desenvolvidos os alunos tratam os professores pelo primeiro nome, e eles existem com a função de os estimular para a aprendizagem. Uau. Como é que eles se lembraram disto? Completamente avant-garde.

Depois da aula o simpático Scott foi falar comigo (e com a Sónia, que esteve toda a minha estadia para lhe mandar um mail… que já tinha enviado, mas entretanto não apareceu, e depois com toda a excitação da minha presença foi complicado aceder à net, etc etc etc) e perguntar-me sobre a minha bela e perturbante presença na sua aula. Oh. Entretanto descobri que ele tinha sido professor de Film Studies nos States e conhecia Kieslowski. E, mais uma vez, apercebi-me da urgência de arranjar o Decálogo para ver. Ouch ouch ouch. Entretanto a Sónia combinou o tema de trabalho (? Combinou mesmo??? Está tudo difuso na minha memória…) com ele, e tiveram uma estimulante conversa sobre a ausência de um movimento feminista real em Portugal. Uau. Era como estar dentro de uma série em Harvard, ou assim.

Depois passeámos alegremente pelos jardins à volta da Queens. Descobri que os alunos irlandeses só usam uniforme até à Universidade, e que os azuis são protestantes, os verdes são católicos. Tirei uma foto lindíssima de um casalinho… Aqui na Irlanda até os casalinhos são queridos… ohhhhh…

A religião está mesmo por toda a parte. Nota assustadora para o cartaz a dizer ‘Jesus is Alive’ em várias delas… aposto que está a viver com o Elvis ao lado da casa do D. Sebastião…

Saímos dali atrasadíssimas e corremos para o Tesco para comprar ovos. É claro que, tendo trocado finalmente os meus euros por librinhas irlandesas, resolvi comprar umas bolachinhas. Havia Maryland, mas resisti (seria a primeira e última vez…) O que vi e resolvi comprar foram waffers da Pink Panter. Que eram, adivinhem… cor-de-rosa. O nosso almoço quase às quatro da tarde - quer dizer, o meu - consistiu nos restos mortais do fish & chips. Foi a primeira vez que não me importei de comer batatas fritas reaquecidas. Magnífico. E mal acabámos de comer, hurray para o consumismo!

Digamos que o pânico começou quando a Sónia me informou (a mim, que vou sempre às compras às 22.50 quase todos os dias, no belíssimo centro comercial de chuto ao lado da residência) que as lojas fechavam quase todas às 6 horas sharp. WTF????? COMO? Bem, isto explica claramente porque são um povo tão produtivo… deuses, o que é que eles fazem para se entreterem depois de saírem do trabalho e antes de jantar? Gosh… (será que é por isso que se reproduzem como coelhos? Talvez, talvez…)

Começámos a ronda pelas lojas género Oxfam e Cancer Research. Comecei a ficar possuída. Na primeira encontrei as VHS da minha vida - Red Dwarf, Blackadder, Abolutely Famous - mas mal vi o Man of Marble do Wajda não hesitei - afinal, aquele trabalho de seminário sobre cinema polaco tem de ser feito de alguma maneira… na segunda loja foi mais difícil conter-me. Acabara de ver pela primeira vez os bargain books. Que pena só poder levar 10 quilos na mochila! Snif snif… mas contra-relógio oblige, não pude
Amori no parqueAmori no parqueAmori no parque

São tão fofinhos, não são?
ficar muito tempo e seguimos para uma das lojas que a Sónia estava mais ansiosa para me mostrar. A seguir passámos por uma loja de roupa ‘normal’ para a Sónia tentar encontrar um vestido para a performance de Beckett.

Eis senão quando entro num cave de tesouros apropriadamente intitulada Rusty Zipper, e que vendia roupa vintage original. Susti a respiração. Não, não foi por causa do pó. Foi porque dei com os olhos numa estupenda colecção de uniformes militares originais. Alemães, ingleses e sei lá mais quê. Dei por mim apaixonada por um com bandages ainda e tudo, num belíssimo verde azulado, por umas míseras 15 libras… ohhhhh…si carino ti quiero… (saliva a escorrer pelo ecrã de cada vez que me lembro disso). Mas a consciência de que 1. A libra é uma moeda forte e eu tinha acabado de trocar o dinheiro… ; 2. Era o meu segundo dia na Irlanda, nos próximos sete podia acontecer muita coisa e 3., passar com aquelas bandages no aeroporto ia ser complicado, fizeram-me arrastar dali para fora.

Depois de uma rápida vistoria pelo andar de cima e por sapatos de plataforma originais (!!!), hurriámos para o meu primeiro contacto com uma megastore da HMV. Sim, aquela loja que vem sempre anunciada na Total Film, com dvds baratíssimos… ahahhhaha. Mas a excitação foi tão grande, eu, miúda pequena na loja de doces, que nem sabia para onde me virar. Little Britain Game? Monty Phyton’s Special Edition (with Dead Parrot)? My Family? AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
Por fim, agarrei desesperadamente nos dois dvds do ‘Decálogo’ (Artificial Eye edition) e corri para a caixa, onde deixei as minhas primeiras 24 libras de contribuição para o chá de sua Majestade (sim, porque todo o dinheiro gasto no UK vai directamente para a Earl Grey, que fornece a senhora. Sim, ela é uma verdadeira viciada.) Ai ai. Mais calma depois, sede consumista saciada…

Entretanto a Sónia achou por bem arrastar-me dali para fora antes que houvesse alguma desgraça (e eu sem cartão internacional de saúde…), não antes sem me mostrar o filme de que ela tinha falado aí umas cem vezes, o Mickyboo & Me, e tentar levar-me a comprar-lo. Sem sucesso, devo dizer. Ela ainda me ameaçou com uma arma branca (uma unha afiadíssima de aspecto letal) mas consegui distraí-la escondendo-me atrás dos dvds musicais. Ufa…

Saídas da HMV, corremos para o centro comercial mais ‘in’ da zona, que fechava à gloriosa hora de 6.30… porquê, porquê, porquê? Victoria Square, que nome poshy. A primeira coisa que vi foi o Forbidden Planet a fechar. Arrhghgrh. Depois corremos e entrámos no Build-a-Bear. Ali as crianças criam o seu ursinho de peluche, desde o tipo de urso, o enchimento (numa máquina tipo algodão doce), e acessórios. Muitos acessórios, estupidamente caros. Ainda pensei em comprar um par de sapatilhas de ursinho, mas depois achei que era demasiado esquisito…

Enfim, saímos da loja e subimos ao primeiro andar, para eu ter o meu primeiro contacto de terceiro grau com o Nando’s, o famoso franchise português que está a fazer sucesso em terras britânicas e, pelos vistos, irlandesas. Ora o que eu queria mesmo era ver as natas. Bem, desilusão. Não só não tinham massa folhada (eram mais a versão francesa da custard pastry), como eram ridiculamente pequenas e caras. E o menu… credo. Desde quando é que ‘frango com peri-peri’ é uma especialidade portuguesa? E claro, não faltavam kebabs, hamburguers, fish & chips, pizza… coitados. Andam a ser enganados. Achei piada à escala de piri-piri ao lado da comida, para avisar do grau de picante dos pratos. Como se nós fossemos o México ou assim… hai hai caramba!

Mal saímos corri para o Macdonalds para comparar a qualidade dos cheeseburgers entre os dois países. Sim, arrastei a Sónia, a Vegetariana, atrás de mim. Foram nove dias de sofrimento para ela, claramente, já que eu sou da família das Drosophyllum lusitanicum (Google it!). Afinal há uma diferença subtil no queijo, mas nada que obrigue a uma intervenção armada. É claro que depois disto a Sónia teve a ideia peregrina de nos enfiarmos no elevador para irmos ao topo. Bem, isto foi uma má ideia porque:

1. A Sónia tem vertigens;
2. O elevador era daqueles panorâmicos, com vidro para vermos a subida
3. O topo era muito mais alto do que ela (e eu,aliás) imaginava
4. O elevador andou quase à idade da luz. Eu rejuvenesci umas boas horas com aquela viagem. A sério.

Bem, conseguimos voltar para baixo muito devagarinho pelas escadas. Eu sofro um bocadinho de atracção das alturas, mas nada de muito grave, e além disso desatarmos as duas a gritar de medo no topo ia dar muito má imagem de Portugal. Pensando bem, devíamos tê-lo feito…

Voltámos então para casa para comermos bacalhau fresco. Sim, leram bem. Os irlandeses são ainda mais loucos do que parecem. Ora, bacalhau fresco consegue ser ainda mais aborrecido do que pescada, só para terem uma ideia… Depois saímos e fomos para as docas. Infelizmente a parva (que sou eu) tinha-se esquecido de carregar a máquina fotográfica, por isso não há fotos do monumento big fish (feito para comemorar o regresso do salmão a Belfast - hum, salmão é tãããõ melhor que bacalhau fresco), vimos a Thanksgiving Statue (também conhecida por Hola-Hupa Girl, porque parece… adivinhem), e olhámos para as Titanic Tours. Ora bem, porque raio é que Belfast se orgulha de ter construído um barco supostamente indestrutível e que não aguentou três dias de viagem? Reparo agora na coincidência de datas: o Titanic afundou-se de 14 para 15 de Abril, exactamente há 96 anos e um dia. Titanic Tours? Já agora, Pompea Hot Places e Ike goes to Ikea? (esta última é ao mesmo tempo tão fora e tão genial que abri a boca de admiração mal a escrevi).

Outra coisa giríssima das docas é um chão que dá música, e o Albert Square e o Albert Clock, este último também conhecido como Little Ben (duh) ou… a Torre de Pizza de Belfast? Deuses, está mesmo torto… esta gente daqui não sabe construir nada em condições????

Entretanto esgueirámo-nos para o Waterfront Hall, atraídas pelo ruído de multidão e possibilidade de bolinhos grátis. Estavam no intervalo da La Traviatta. Ouch, eles vestem-se bem para caraças para estas coisas. Não havia bolinhos grátis, nem bebidas. Eles tinham todos um copo de champanhe na mão, mas não conseguimos descobrir de onde aquilo vinha… Deixámo-nos ficar depois de irem todos para dentro e ouvimos perfeitamente o início do Segundo Acto. Ahhh, vida boa…

Arrancámos dali para o frio intenso exterior e, sabe-se lá porquê, resolvemos passar pelo St. George’s Market, na minha cabeça a única hipótese (se fosse lá de manhã) de apanhar fruta decente a um preço decente. Mas eis o nosso enorme espanto quando reparámos que se passava qualquer coisa lá dentro… hum…

Aquilo tinha ar de coisa em grande e bem paga, mas eu e a Sónia, sabendo que podíamos usar o trunfo ‘stupid foreigners’ a qualquer momento que nos sentíssemos em apuros, resolvemos arriscar e passar pelo guarda, que olhou para nós e nem disse nada (‘good evening’, talvez, ou estou outra vez a romancear? Hum… ) Mal entramos e demos connosco… num desfile de moda. Ou, como eles dizem, um catwalk. Ahahhahaha. Senti-me dentro do Fashion Channel. Por alguns minutos julgámos que aquilo era ‘só’ uma mostra de alunos da escola de Moda lá do sítio, mas então vimos na parede aparecer a palavra ‘Emporio’ e entrámos em histeria. Importava arranjar provas, provas, provas!!! Ninguém ia acreditar naquilo!! Ainda consegui acender a máquina - yeyyhhh - e tirar umas míseras três fotos até aquilo morrer de vez, mas não apanhei em nenhuma a palavra inteira. Mas se se esforçarem, e virem na parede atrás, reparem na terminação -porio na parede. Ah pois é !

(mais tarde, a folhear um dos inúmeros guias género ‘time out’ que Belfast tem, absolutamente gratuitos, reparo no nome do evento - Fall for Fashion - e no preço de entrada - 12 libras. Brutal. Welcome to the Land of the Freebies)

Fomos para casa cansadíssimas, caímos na cama, e ressonámos até o outro dia. Emporio catwalk, he he he…



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