Uma tarde no lago


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November 2nd 2010
Published: November 29th 2011
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Uma tarde no lago



9h da manhã, a janela molhada com a chuva revelava, entre um túnel e outro, a bela paisagem montanhosa dos Apeninos. A cabine estava cheia, mas todos estavam adormecidos – muito provavelmente para eles aquele trajeto não era novidade. Tentei resistir o máximo que pude, mas logo fui vencido pelo sacolejar suave do trem. Fechei os olhos e, quando me dei conta, nossa chegada a “Milano Centrale” era anunciada.

Milão estava longe de ser uma das minhas escolhas de destinos na Itália, mas tornou-se uma escala necessária, pois de lá pegaríamos o vôo de volta à Bordeaux, às 13h do dia seguinte. A idéia de passar 24h perambulando pela “capital da moda” italiana não me causava nenhum frisson, logo rapidamente arrumei um plano B: uma visita ao Lago di Como, 40 km ao norte da cidade.

Para situar brevemente, o estado da Lombardia (do qual Milão é a capital) apresenta, em sua porção norte, os contrafortes alpinos, que se estendem até a fronteira com a Suíça. Esses contrafortes são marcados pela presença de inúmeros lagos, oriundos do derretimento de antigas geleiras. São locais de grande beleza cênica, que atraem tanto italianos quanto pessoas do
Lago di ComoLago di ComoLago di Como

Embarcações variadas, dos ferrys aos pedalinhos coloridos
mundo inteiro.

O Lago di Como é um dos maiores do país, e possui ainda como vantagem sua proximidade e facilidade de acesso a partir de Milão, o que o torna um refúgio perfeito de final de semana para quem quer fugir do agito da grande cidade. Esses aspectos atraem não apenas moradores italianos, mas personalidades do mundo todo. Basta uma rápida olhada em outros blogs publicados sobre Como e vocês logo notarão um nome recorrente: George Clooney. Sim, ele tem uma mansão ali, em algum lugar, e muitas das turistas que passeiam por lá têm, no fundo, aquela pontinha de esperança de tirar uma casquinha do ator.

Nada contra o homem. Pelo contrário, o considero um bom ator (e esperto, por escolher bem o local de sua mansão de férias), mas esse não era, certamente, o motivo do meu interesse no lago, que não deixava também de ser cinematográfico. Quem me conhece sabe que sou fã de Star Wars. Pois bem, o ambiente serviu como inspiração para compor o planeta Naboo, sendo inclusive cenário para algumas filmagens do Episódio II (o refúgio lacustre, para quem souber do que estou falando). Embora eu não fizesse idéia de qual
ComoComoComo

À esquerda o Duomo, e a direita a única torre remanescente do antigo sistema de defesa da cidade
local específico servira como locação¹, só o fato de ver o lago já me deixaria satisfeito. Fã é fã, fazer o que? =D

Essa era a idéia na minha cabeça, mas eu não estava viajando sozinho. Passava um pouco das 12h quando chegamos a Milão, e ainda chovia. Eu e Japa havíamos conseguido uma hospedagem através do couchsurfing, mas que só estaria disponível à noite, e o Fernando também só poderia fazer check-in em seu albergue mais tarde. Estávamos, então, com as nossas mochilas, sem ter onde deixá-las. O senso comum, numa situação dessas, diria provavelmente para fazer hora em lugares cobertos, comer, enfim. Pois bem, devo ter me servido de algum argumento forte, pois logo estávamos os três de acordo em seguir para uma caminhada no lago! Quanto à chuva? Ela não havia nos parado na Toscana, não seria agora que viraria um empecilho. Bravo, bravo!

O Lago di Como possui o formato de um Y de cabeça para baixo, e deve seu nome à cidade homônima, situada “no fundo de sua perna esquerda”. Trata-se da maior cidade da região, com pouco mais de 80 mil habitantes e, embora não seja pitoresca como outros vilarejos lacustres, ela
Mapa da região, para situarMapa da região, para situarMapa da região, para situar

A planície ao sul e os contrafortes alpinos ao norte.
possui diversos atrativos, sendo geralmente recomendada como a porta de entrada para uma exploração da região. No nosso caso, a “exploração” estava restrita a uma tarde, logo seria Como e só.

De Milão para Como há trens regionais da empresa LeNORD (que mais parecem metrôs de longa distância), que partem da estação “Porta Garibaldi” a cada meia hora rumo à estação “Como Nord Lago” (há outras na cidade, mas essa é a estação terminal, a poucos metros do lago). A viagem dura menos de 1h, e custa apenas 3,60€, pechincha!

Mal desembarcamos, a paisagem se descortinou: o lago se estendendo ao longe e se perdendo na curva das montanhas, cujos cumes surgiam e desapareciam por entre as nuvens baixas que passavam. A cidade ocupa principalmente o vale ao sul do lago, mas também se espreme nas encostas laterais, quase como uma favela chique, repleta de casas e prédios de alto padrão, com gruas enormes aqui e ali. No lago, uma calmaria, diversos barcos atracados, apenas alguns cisnes e patos a deixar riscos na água.

Parecia que havíamos chegado numa manhã de domingo: havia poucas pessoas nas ruas, o comércio fechado, inclusive a barraquinha de informações turísticas (não
Vila MusaVila MusaVila Musa

Uma dessas eu não acharia ruim
sabíamos, mas pelo que li depois, eles também praticam a sesta, de forma que grande parte do comércio fecha para almoço e só reabre às 15h!). Sendo assim, resolvemos explorar por conta própria e pusemo-nos a caminhar pelas margens. De forma geral, foi o que fizemos durante toda a tarde – caminhar, sem um rumo ou objetivo definido, apenas seguindo nossas vontades de descobrir o que haveria atrás desta ou daquela curva.

No final, andamos em trapiche, subimos uma espécie de trilha no morro, descemos ladeira, passamos por escadarias, de tudo um pouco. A estrada que margeia o lago parece até uma rua de Floripa, já que é estreita, inclinada e mal tem calçadas – se não fosse o naipe das casas e prédios, mal se veria a diferença. Por falar nisso, as construções são um atrativo à parte do passeio. Há mansões de sonho situadas à beira do lago, prédios mais antigos, com estilo neoclássico, pintados nos tradicionais tons pastéis, e construções mais modernas com seus chamarizes peculiares. Uma em particular era uma residência numa encosta, em que os moradores estacionavam na garagem e depois subiam para casa com um funicular privativo (!) – pus uma foto aqui,
O atracadouroO atracadouroO atracadouro

As luzes no morro, ao fundo, são o caminho do funicular para Brunate
para vocês verem como é.

Um dos grandes atrativos do local é o funicular que leva à vila vizinha de Brunate, situada no alto do morro, a 700m de altitude, onde se encontra o Farol Volta. Dele, dizem, tem-se uma vista belíssima da cidade de Como, da porção sul do lago e dos cumes alpinos ao fundo. No entanto, as nuvens estavam tão baixas que o funicular parecia um elevador para os céus, logo presumimos que a visibilidade lá do alto não deveria estar das melhores e abortamos a ideia.

O nome do farol foi dado em homenagem a Alessandro Volta, físico nascido em Como e inventor das pilhas (daí a unidade Volt). Ele é um dos “filhos-prodígio” da cidade, e há inclusive um templo (Tempio Voltiano) dedicado a si em meio aos jardins públicos de Como, uma construção em estilo neoclássico que se destaca às margens do lago.

Em nossas andanças, o tempo passou rápido. Logo já era noite e hora de voltar à Milão, pois tínhamos combinado horário com nosso anfitrião do couchsurfing. Valeu o passeio, mas ficou aquela vontade de quero mais – vontade de embarcar num ferry para conhecer o resto do lago, de seguir para a vizinha Suíça (a fronteira fica a nem 5 km de Como!), entre outras possibilidades.

O feriadão acabara, faltaram dias para tantas idéias (e meias limpas e secas para o Fernando, diga-se de passagem!). Mas imagino ser esse o sinal de uma boa viagem – não ser nunca um fim, mas uma multiplicadora de vontades, que só faz aumentar a curiosidade do viajante e sua sede por descobertas.

Opa, adiantei-me nas reflexões. O feriadão acabara, mas não a nossa viagem – ainda restavam as últimas horas em Milão. A presto, até o próximo post!



PS: Para os que estiverem planejando uma viagem por essas bandas e puderem reservar alguns dias para explorar a região, eis alguns sites que podem ser úteis:


10 motivos para conhecer o Lago (blog de uma brasileira);
Portal turístico do lago;
Portal turístico da cidade de Como.



1 – Caso alguém mais curta o filme, o local que serviu como o refúgio chama-se Villa Del Balbianello, e fica na cidade de Lenno, na margem esquerda do lago. Essa eu fiquei devendo, logo... precisarei voltar!


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Lago di ComoLago di Como
Lago di Como

Perdendo-se na curva das montanhas
Passeio à beira do lagoPasseio à beira do lago
Passeio à beira do lago

Fotos de pessoas com guarda-chuvas estão virando nossa especialidade dessa viagem
ContemplandoContemplando
Contemplando

"Contemplo o lago mudo Que uma brisa estremece Não sei se penso em tudo Ou se tudo me esquece" - Fernando Pessoa
As duas torresAs duas torres
As duas torres

À esquerda o Duomo, e a direita a única torre remanescente do antigo sistema de defesa da cidade
Vista do centro da cidadeVista do centro da cidade
Vista do centro da cidade

Ponto de vista privilegiado após a nossa subida na trilha
Sinal do outonoSinal do outono
Sinal do outono

Folhas tão vermelhas que nem parecem de verdade


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