Qula é sua graça?


Advertisement
Italy's flag
Europe » Italy » Lazio » Rome
May 10th 2009
Published: August 13th 2010
Edit Blog Post

Semana passada um amigo chegou em casa com um pedacinho de papel na mão. Era promoção de um curso de dança latino-americana, muito Carlinhos de Jesus, comum por aqui. Salsa, Rumba, Merengue e Cha cha cha, tudo patrocinado por um casal posado no folheto numa daquelas fotos de coxão levantado embaixo da sainha de franja.

Logo me perguntou se eram brasileiros , mas ja tinha visto de longe, também pelos nomes com “ñ”, que se tratava de oriundos de outras partes da América Latina. E depois de esclarecer pela milésima vez que aqueles não são ritmos brasileiros, meu amigo se defende pelos nomes.
“- Beh, mas é você que sempre diz que o brasileiro pode ter nomes de qualquer parte do mundo!”
“- Mais ou menos isso: eu digo sempre que um brasileiro pode ter o sobrenome de qualquer parte do mundo e ser tão brasileiro quanto os Arantes do Nascimento.” .

Nossa identidade está muito mais ligada ao nome do que ao sobrenome. Nos apresentamos aos outros: - “Isilda, muito prazer!”, e tantas vezes até pelo apelido que gostamos de ser chamados: - “Prazer, Isildinha!”.
Na escola a professora faz a chamada por ordem alfabética de nome e baseada nisso uma amiga paranóica registra os rebentos com nomes iniciados por “A”: “Não quero que meus filhos se sintam os últimos!”.
Nas salas de espera somos chamados Sra. Rita e Sr. Arnaldo, e tantas vezes nos levantamos em mais de um, mas não é um problema.
No Brasil ninguém se lembra de perguntar o sobrenome dos amigos a não ser na hora de fazer a lista de convidados do casamento.
Ninguém sabe muito bem a história dos próprios antepassados, nem se interessa. No Brasil, como em toda a América, mais importante é o individuo, aqui e agora, e o que ele pode projetar para o futuro. Não basta?

Na Ogrolandia a identidade das pessoas está só no sobrenome. Ninguém se esforça em inventar um nome legal pros filhos como “Cleverson Roberto”, “Maicon Prince”, “Excelsa Tereza”... são todos “Giuseppe, Giovanni e Maria”, a familia de Nazaré.
Para eles é o sobrenome que define a sua tão importante “origem”. Por isso, ladrão de sobrenome tradicional por aqui é só meio-ladrão e tem 100 anos de perdão. Ao contrário, os albaneses imigrados, sedentos de integração, batizam seus filhos “Giuseppe, Giovanni e Maria”, mas se o sobrenome continua “Kovaçi”, não são italianos e nunca serão, e sofrerão como todos os outros as consequências de serem estrangeiros - a maior culpa que alguém pode ter aqui.

Aconteceu algumas vezes de me apresentar com um aperto de mão, dizendo somente o nome e perceber que o meu interlocutor não me largava, continuava chacoalhando o braço com cara de interroção. E depois, é claro, chuva de perguntas:
- “De onde vc é?”, - “Por que está aqui?”, - “Desde quando?”.... ...

De uns tempos pra cá arrumei um modo de apagar essas expressões de arrogancia dos rostinhos italicos durante as embaraçantes apresentações, especialmente em eventos sociais formais: me apresento “sobrenome ponto-e-vírgula nome e sobrenome”, olhando bem fundo nos olhos, com voz firme e penetrante:
-“Jones; Kelly Jones.”
No mínimo eles acham que sou parente do James Bond e não me fazem mais perguntas. Vai saber se eu também tenho licença pra matar! rssss

That's all folks!

Advertisement



Tot: 0.069s; Tpl: 0.008s; cc: 9; qc: 23; dbt: 0.0365s; 1; m:domysql w:travelblog (10.17.0.13); sld: 1; ; mem: 1mb