A grande duna


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Europe » France » Aquitaine » Arcachon
August 26th 2010
Published: September 8th 2010
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1: A descida - "pas capable d'arrêter" 37 secs
A minha chegada a Bordeaux me lembrou, em muito, os meus desembarques no Rio após voltar das viagens de inverno: eu ali de manga comprida e todos no aeroporto de bermudas e chinelo. Tudo bem, afinal eram 15h de um típico dia de verão europeu, com sol e céu azul. O resultado: calor! A noite não foi diferente: o quarto do albergue parecia uma estufa, quente e abafado, mesmo com a janela aberta. Passei a noite toda com uma ideia apenas na cabeça: praia! Na manhã seguinte, quando vi o sol despontando em um céu sem nuvens, não tive dúvidas de qual seria o meu destino do dia: Arcachon.

Talvez alguém esteja se perguntando: ok, mas por que Arcachon? O que há de tão especial lá? Afinal, praia por praia, há inúmeras na região, tanto de mar aberto (como Lacanau, a mais famosa daqui, que todo ano sedia inúmeros campeonatos de surfe) quanto de águas calmas, nos inúmeros lagos que há aqui por perto. Sim, é bem verdade, mas eu tinha o meu motivo - sem contar que o acesso por trem facilita bastante.

Sem poder pesquisar na internet para me informar dos horários do trem, arrumei a mochila e fui na confiança para a Gare Saint-Jean, estação de trens de Bordeaux. Cheguei às 9h e tive a felicidade de descobrir que perdera a última viagem por 20 minutos - a próxima seria só às 10h40! Tudo bem, resolvi esperar - “eu vou a Arcachon”, já estava decidido. A passagem de ida e volta saiu por 20 euros, mas podia ter sido a metade do preço se eu tivesse conseguido fazer a ‘carte jeune’. Paciência.



Carte jeune: documento que permite às pessoas com idade entre 12 e 25 anos viajar a preços reduzidos: 25%!d(MISSING)e desconto em horários de pico (das 6h às 8h e das 17h às 19h) e 50%!n(MISSING)os demais. A carta tem duração de um ano e é válida em toda a França (tanto nos TGVs quanto nos trens regionais), e para fazê-la basta apresentar um documento de identidade e pagar a taxa de 49 euros. Nessa hora o meu cartão não passou, e como não tinha dinheiro vivo suficiente, tive que deixar para um outro momento. 😞



Como se não bastasse ter esperado mais de 1h30 pelo trem, quase o perdi! Uns 20 minutos antes da partida, os televisores da estação indicam a plataforma de embarque. Olhei rapidamente, plataforma 8, ok, fui logo ao local para esperar. O tempo passava e nada do trem chegar... estranhei, mas como era marinheiro de primeira viagem fiquei por ali mesmo. A cinco minutos da partida uma bendita senhora vem falar comigo e me informa que o trem para Arcachon sai da plataforma B, do outro lado da estação! Putz! Fora dada a largada para a prova de 800 m com obstáculos!

Com a adrenalina a mil, após desviar de inúmeras pessoas e bagagens, pulei logo no primeiro vagão, poucos instantes antes do fechamento das portas. ‘Ufa, agora é procurar um lugar para sentar e aproveitar os 50 min de viagem.’, pensei. Que nada: o trem era pequeno (apenas 2 vagões) e parte significativa era dedicada à primeira classe. Os demais que se entendessem no resto do espaço - pessoas com suas malas, bolsas de praia, bicicletas, enfim. Fui de pé, cuidando com o equilíbrio e também para não dar mochilada em ninguém. Acho que eram tantas emoções que a viagem me pareceu passar incrivelmente rápido, e logo o condutor anunciava nossa chegada ao destino.



Arcachon é uma pequena cidade balneária situada ao sul da Baía homônima e que por muito tempo foi um simples reduto de pescadores e criadores de ostras. No final do século XIX, no entanto, com a criação da via férrea ligando a baía à Bordeaux, ela começou a atrair a burguesia bordelesa (neologismo?), que viu ali uma perfeita estação de veraneio. Assim, iniciou-se o desenvolvimento do local, atualmente um popular destino de férias francês por aliar beleza natural e arquitetônica ao chamado ‘turismo saudável’, com inúmeras opções para a prática de esportes e para cuidados do corpo (spas e afins).

A Gare d’Arcachon situa-se a alguns quarteirões da praia, na região central da cidade, que é dividida em quatro bairros, cada um com o nome de uma estação do ano: as Villes d’Été, d’Automne, d’Hiver e de Printemps. Como já era mais de 11h30, resolvi passear por ali e procurar um lugar para almoçar antes de seguir adiante em minha busca. A cidade é bonita e agradável de se caminhar, repleta de árvores, jardins e belas construções. Para variar, logo estava à beira-mar, numa promenade em frente à praia de Arcachon (sim, tudo aqui tem esse nome, difícil não repetir). Almocei por ali mesmo, num dos restaurantes do calçadão - almoço bem servido, suco e sobremesa por 11 euros, em frente ao mar ainda, maravilha!

A tradicional preguiça pós-almoço e o sol inclemente me fizeram correr atrás de uma sombra. Felizmente, o passeio à beira da praia era bem arborizado e bem servido de bancos - logo encontrei um disponível e dei-me de presente uns 30 minutos de sesta. Ao acordar, percebi que uma senhora havia sentado ao meu lado e degustava tranquilamente seu almoço-piquenique. A cena que se passava em nosso banco repetia-se em inúmeros outros: uns enchiam a barriga, outros descansavam de barriga cheia, mas todos aproveitavam a sombra e o belo visual dado pelos movimentos dos barcos que passeavam pela baía.

Chegara a hora de tomar uma decisão: voltar para a estação de trem, de onde saía uma linha de ônibus cujo ponto final era o local que eu queria visitar, ou seguir adiante a caminhada pela beira-mar até lá. Não fazia ideia da distância, mas sabia que era algo realizável. Como vocês devem ter imaginado, segui adiante, acompanhando o traçado da costa. No caminho, uma sucessão de praias, parques, e uma bela vista da entrada da baía de Arcachon, delimitada no outro lado pelo promontório arenoso do Cabo Ferret (Cap Ferret ). Há mais de um píer na cidade de onde partem barcos que realizam essa travessia, entre outros trajetos.

Uma curva no litoral e voilà, eis que ela surge no horizonte! Eu bem imaginava que 60 milhões de metros cúbicos de areia não poderiam se esconder na paisagem por mais muito tempo! Situada na entrada da Baía de Arcachon, a Duna do Pilat é a maior duna do continente europeu e extende-se por cerca de 500 m de leste a oeste e 3 km de norte a sul, entre o mar e a floresta de pinheiros. Duna marítima móvel, está em constante movimento devido à ação dos ventos, e sua altura, variável, oscila em torno dos 110 m. Empurrada para o interior pelos ventos marinhos, ela se desloca a uma velocidade de 4,5 m por ano (segundo o guia “Discover France”, da Lonely Planet) e já engoliu árvores, algumas casas e parte de uma estrada.

Hoje uma área protegida, a duna se situa em um parque regional, e o acesso ao seu topo pode ser realizado de duas maneiras: a fácil, por meio de uma escadaria situada no ‘lado floresta’, e a difícil, escalando a duna. O ‘lado floresta’ é bem mais inclinado que o ‘lado mar’, mas independente do lado escolhido, subir 100 m de uma duna de areia não é uma tarefa fácil. Já tinha feito uma boa caminhada para chegar até ali, então optei pela escada - 108 ou 118 degraus, contou um menino que subiu na minha frente.

De repente, a fila indiana de visitantes que subia a escada se acabou, chegáramos ao topo. A vista era magnífica e a sensação indescritível. Ali, todos não passavam de meros pontos diante do colosso arenoso; o panorama se expandiu e o horizonte, distante, se coloriu de azul, verde e amarelo. Aquietei-me ali, contemplativo, enquanto deixava a mente voar longe.

« La dune du Pilat est superlative, jamais monotone, totalement exotique, suffisamment puissante pour nous transporter à l’autre bout du monde. »
(Jean-Joël Le Fur, fotógrafo)



Há diversas discussões sobre o nome da duna (du Pylat, o nome tido como original, ou du Pyla, já que ela se situa no distrito de Pyla-sur-Mer) e sobre sua altura (cada fonte apresenta sua versão, variando de 104 e 117 m - mais sábias são aquelas que admitem que, já que se trata de uma duna, isso é bem passível de mudanças), mas, uma vez que se chega ao topo, percebe-se que pouco importam esses detalhes. O que importa é que esse gigante de areia, que surge inesperadamente entre o mar e a floresta, está em constante mutação, mas nunca deixará de surpreender e maravilhar os visitantes.

Para minha visita ficar completa, só faltava um banho de mar. Tomado por aquela sensação boa de liberdade que nos propiciam os grandes espaços, iniciei a minha descida em desabalada correria em direção ao oceano (como podem conferir no emocionante vídeo). Poucos minutos mais tarde, ali na praia de la Corniche, situada aos pés da duna, mergulhei pela primeira vez no Atlântico Norte.

Missão completa! Agora era só voltar para a estação em tempo para não perder o trem da volta - dessa vez, no entanto, eu resolvi pegar o ônibus! 😄



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15th June 2011

Otima ideia
Meu querido, que boa ideia escrever para a gente saber de vc e das coisas diversas que vc esta passando. Terei o maior pazer e curiosidade para ler as suas aventuras sempre. Obrigada por partilhar essa experiencia com a gente. Grande beijao Lucy

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