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Published: March 11th 2013
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Templo Pura Bratan
Pura Ulun Danu Bratan, o segundo templo mais importante da ilha Os balineses são um povo sem sobrenome. O batismo se dá pela ordem em que as crianças nascem na família. Via de regra, o filho ou filha mais velhos se chama Wayan, o que vier na sequência Made, o terceiro Nyoman e o quarto Ketut. Em bahasa indonesia, a língua nativa de Bali e do restante do país, esses nomes indicam, respectivamente, se o irmão é o numero 1, 2, 3 ou 4. Se por um acaso a mamãe balinesa tiver forças para uma quinta criança, o ciclo do batizado volta para o início e a criança tambem se chamará Wayan (ainda que nesse caso existam mais duas ou tres opções, como Putu). Confuso? Imagina como deve ser a chamada na escola....
Para facilitar um pouco a vida, os balineses ganham um segundo nome que serve para os locais se apresentarem para os turistas, ainda que a maioria dos que conhecemos chamava mesmo Wayan, Made, Nyoman ou Ketut. Essas classificações não param por aí. Graças à influência do hunduísmo, os balineses vivem em uma sociedade dividida por castas, em que os homens considerados santos - aqueles mesmos que lideram as cerimônias religiosas -, ocupam o topo da cadeia e a
classe operária, aqui representada por camponeses, fica lá atrás, para sempre, uma vez que a religião não permite a mobilidade no status, ainda que uma crianca nasça em uma fazenda de arroz e se torne um bem-sucedido homem de negócios. As meninas até têm uma chance maior de mudar de casta, mas casar com alguém com melhor "classificação" no ranking é tarefa difícil.
Mais curiosidades. Em cada casa de Bali há uma placa que indica o número de moradores. Algumas têm 16 pessoas, outras 22. Isso porque os filhos não saem de casa após o casamento, e novas habitações vão sendo construídas para acomodar todo mundo - os avós em uma casa mais alta, por respeito à hierarquia. As moças, por sua vez, passam a pertencer à familia dos maridos após o matrimônio. Divórcios até acontecem, mas apenas depois de o assunto ser discutido por toda a família.
Bizarro o suficiente? Bem-vindo a Bali, esse caldeirão cultural e de paisagens estonteantes em que os locais calçam "sapatus" e as criancas frequentam "sekolas" (herança portuguesa...), que nos prometia pouco e que depois de 10 dias intensos já entrou na nossa lista de lugares prediletos no mundo. Bali era nossa
primeira opção de Reveillón quando esboçamos um roteiro lá pelo meio do ano passado. Mas, ao contrário da maioria dos paises do Sudeste Asiático, a Indonésia sofre exatamente nessa época com as chuvas de monção e ficamos com receio de passar a virada de ano debaixo d'água. Da mesma forma que havia acontecido na nossa trip pelo mundo, resolvemos deixar a ilha para uma proxima oportunidade. Mas como resolvemos seguir o vento nessa viagem, acabamos parando aqui.
Como? Em resumo, após dois dias intensos em Yangon, chegamos à conclusão que seria arriscado continuar viagem em Myanmar. Além de a infraestrutura, como imaginávamos, ser bastante precária (um avião havia se acidentado no dia de Natal, com a consequente morte de turistas, porque havia neblina na pista na hora do pouso e falta de radares...), depois de quase duas semanas de Ásia, as bactérias ja começavam a mostrar suas garras. Estávamos com princípio de febre e bastante fracos e resolvemos não colocar nossas férias a perder nos infiltrando pelo interior do país dessa vez.
Consideramos mais prudente nos mover para um local mais seguro (no caso, Kuala Lumpur), nos recompormos por dois dias (aproveitando para subir nas Petronas Towers, visitar
alguns pontos turísticos ainda não conhecidos e rever uma amiga da NZ) e decidir para onde seguir. Chegamos a Bali. Essa ilha de aproximadamente 1,5 milhão de habitantes é uma espécie de país dentro de um país. No caso, da Indonesia, composta por mais de 17 mil ilhas e com uma população de 270 milhões de habitantes, nada mais nada menos do que a maior nação muçulmana do planeta. Por diversas razões históricas, Bali tornou-se uma especie de enclave hindu no país, e a combinação de uma religião tolerante, nativos hospitaleiros, ótimas ondas e uma natureza estonteante transformou essa ilha em um dos principais destinos turísticos de toda a Ásia.
Em um daqueles insights que surgem de vez em quando e se mostram mais do que bem-vindos, resolvemos deixar as famosas praias de lado e apostar no interior da ilha, notadamente a região de Ubud. Esse vilarejo é considerado o berço cultural dos balineses e nos últimos anos foi tomado por clínicas de massagem, lojas e restaurantes descolados, spas, gurus, terapias holisticas, chacras e um sem número de mulheres de todas as idades procurando o eu-interior e seguindo os passos de Julia Roberts em Comer, Rezar, Amar. Tivemos nosso
momento de futilidade que envolveu pimenta, iogurte e banho de flores, mas é melhor deixar isso para lá.
Nos demos um upgrade e nos hospedamos logo por oito noites no meio de uma floresta, num resort que custaria pelo menos 10 vezes mais no litoral Norte de São Paulo. A decisão foi certeira. Encravados no meio de arrozais e dos vilarejos, pudemos conhecer a fundo uma cultura bem distante da nossa, mas que não deixa de ser fascinante em seus pequenos detalhes. Bem longe do litoral (na verdade a uma hora e meia), vimos como a colheita do arroz é vital para a sobrevivência de um povo (é a principal fonte de renda de Bali, maior até do que o turismo) e como o contato com apenas um de uma centena de deuses é feito ainda hoje de maneira tão primitiva, com milhares de oferendas, insensos, vestimentas especiais, meditações que varam a madrugada e rituais diversos.
Todas as casas de Bali contam com um templo familiar, todos estilizados com seus deuses e guardiões, e o efeito do tempo (erosão, musgos, etc) nessas construções de pedras dão a sensação de que estamos viajando por uma civilização que parou no
tempo. Nesses 10 dias vimos de perto pelo menos quatro importantes cerimônias, com homens trajando sarongs (uma espécie de saia amarrada na cintura com uma fita) e um enfeite na cabeça e mulheres colocando (em quantidades maiores do que as já feitas no dia-a-dia) oferendas feitas com flores e insensos nas entradas das casas, dos comércios e dos templos. Chegamos até mesmo a participar de uma dessas cerimônias.
Conhecemos pelo menos 10 grandes templos, alguns repletos de macacos, outros à beira de lagos idílicos, todos rodeados por vilarejos e campos de arroz, montanhas e rios. Acordamos de madrugada para uma escalada em um dos dois vulcões da ilha, com vistas alucinantes de um lago logo abaixo. Não foi preciso mais do que alguns minutos para nos darmos conta de que alugar um carro estava fora de cogitação. Primeiro porque as vilas e arrozais vão se misturando em um verdadeiro labirinto estreito e sem sinalização. Depois porque os balineses dirigem insanamente por essas ruelas apertadas em que quem buzina antes tem a preferência em curvas que sem muito esforço podem ocasionar alguns acidentes fatais.
Sem carro próprio, optamos pelos serviços de motorista do nosso hotel. Outra decisão certeira, daquelas
que transformam o turista em viajante. Como não havia ninguém hospedado além de nós, fizemos amizade com todos os funcionários (que obviamente se chamavam Wayan, Made, Nyoman, Ketut...) e pudemos aprender mais e mais detalhes do dia-a-dia desse povo tão boa gente. E bota boa gente nisso. Não houve um momento em que cruzamos com um local mal-humorado e mesmo os mais pilantras (taxistas e subespécies) se mostravam bacanas quando puxávamos conversa.
CONTINUA...
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Julio
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Nossa...é um outro mundo!!! Quando eu ouvia falar de Bali, sempre imaginava algo tipo as praias famosas da Tailândia...não sabia que tinha esse outro lado. E que outro mundo...deve ter sido muito legal participar da cerimônia. Então eles são só hinduístas? Achei que eram budistas! abreijo