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No ataque
Próxima vítima Começar um texto pelo vôo é um péssimo sinal, mas foi assim que a história teve início. O caminho para o aeroporto foi tranquilo e sem trânsito, apesar de falarmos da véspera de um feriado prolongado pelas ruas de São Paulo. Não havia ninguém na fila do check-in (ninguém significando nenhuma pessoa). Tudo muito redondindo, dando certo, o que para os mais pessimistas pode significar que algo agourento está por vir. Pois é. Na hora do embarque, fomos os últimos a entrar no avião. Nossos assentos, já tomados. Se não houvesse ninguém ocupando nossas vagas, sentaríamos, afivelaríamos os cintos e chegaríamos, algumas horas depois, a Fortaleza. Nada de errado, não fosse nosso destino Foz do Iguaçú...
Corremos para o avião correto e iniciamos a tranquila viagem rumo às cataratas. Por uma hora, tudo certo. Daí pra frente, a série de relâmpagos no horizonte deu um ar sinistro ao céu, já bastante carregado de nuvens, e o aviso de turbulência nos deixou em alerta, moderado, porém em alerta. Quando o comandante avisou que estávamos preparados para descer, não bastou um minuto a mais para o avião começar a chacoalhar intensamente. De súbito, despencou no ar por alguns segundos. Silêncio total na
aeronave. Tombou com força para um lado, depois para o outro, ainda meio caindo. Ouve-se o ligar de uma turbina forte, as luzes de emergência acendem, a nave começa a subir muito e de sopetão (não íamos pousar?); de repente tomba para um dos lados. A tentativa do piloto de estabilizar o avião fazia com que a máquina tombasse para a esquerda e a direita, como se estívessemos viajando no La Bamba a 10 mil pés de altutude.
Os passageiros mudos e tensos, alguns choramingos aqui e ali, Felipe inerte de cabeça abaixada, Clarice tentando imaginar se morrer ia doer muito, Júlio em seu mundo particular tentando iluminar o piloto. Quando a certeza de que cairíamos (fato) e de que iríamos nos acidentar (praticamente certo) e morrer (possível) tomava nossos pensamentos, veio o anúncio: "pouso autorizado". E do jeito TAM de ser, chegamos a Iguaçu...
Iguaçu, a parte brasileira que abriga a famosa Tríplice Fronteira com Paraguai e Argentina, é daquelas cidades bonitinhas, de gente simpática e com cara de interior, e que estava fadada a ser uma cidade interiorana para sempre não fossem as esplendorosas cataratas que levam o nome da cidade. Estas, por sua vez, fazem
parte de um parque nacional de beleza rara e organização de primeiro mundo que segue até o lado argentino. Para ser ter uma perspectiva completa do que se está vendo, é recomendável visitar o lado brasileiro. Para sentir a força e ficar mais próximo das quedas, o passeio ao lado argentino é mais recompensador. Ambos os parques são obrigatórios e não à toa as cataratas são finalistas na nova lista das sete maravilhas do mundo e eleitas pelo inglês The Guardian como "O" destino internacional de 2010.
A quantidade de água é tanta (e isso porque abril é o mês de menor vazão), os cenários tão esplendorosos, com precipícios, rochas, vegetação abundante, centenas de arco-íris se formando e desaparecendo em segundos, animais como tartarugas, peixes e quatis atacando sacolas de turistas, que quatro dias de visita não são suficientes para conhecer tudo. Demos sorte no lado brasileiro. O céu estava azul e com um sol de rachar, e o número de visitantes foi bem abaixo do esperado. Deu para percorrer as trilhas com calma e não foi preciso muita manobra para conseguir contemplar o cenário e tirar algumas fotos.
Em compensação, o lado argentino foi uma típica excursão
CVC: 13 mil pessoas, o recorde em um único dia no parque (na parte hermana) em 2011 - que até agora é o ano de maior visitação da história. Como o passeio desse lado é quase todo feito em passarelas de ferro, suspensas e estreitas, ir e vir era uma batalha. Conseguir um espaço nos mirantes também foi tarefa difícil. Mas os visuais são tão impressionantes que o desgaste recompensa. Vimos exatamente o que foi visitado do lado brasileiro, mas desta vez caminhando praticamente por cima das cachoeiras. O passeio termina na famosa Garganta do Diabo, que é uma atração quase que sensorial dado o barulho, a beleza e a quantidade de valor d'água que levanta ao atingir seu fundo (que é impossível de ver, diga-se).
Falando em turistas, tem de tudo. Muitos estrangeiros, de casais de mais idade a mochileiros fazendo toda a América do Sul. Brasileiros que voltam ao local pela quinta ou sexta vez na vida e argentinos e paraguaios passando o dia com a família. E, claro, gente tosca também, que joga garrafa nas cachoeiras e alimenta quatis com copos de plástico. No Parque das Aves, um complexo que reúne mais de dois mil desses
animais bem ao lado da entrada de Iguaçu, e também altamente recomendável, um tucano havia morrido um dia antes porque alguém o alimentou com uma pilha!
Cataratas e animais à parte, a região da Tríplice Fronteira é um barato. Foz é maior e funciona sem depender do turismo. Ciudad del Este é Ciudad del Este e merece um post separado. Iguazu, no lado argentino, é charmosa e basicamente vive dos viajantes. Tem mais pousadas, hotéis, albergues, lojas de souvenir, bares e restaurantes bacanas e de ótima relação custo-benefício. Cruzar as fronteiras é fácil e não deixa de ser divertido, com um carro nas mãos, atravessar três países em questão de meia hora. E ver, também, como as influências alteram o dia-a-dia da região. O portunhol é língua oficial. O taxista com cara de paraguaio é brasileiro, o restaurante em Foz toca cumbia, enquanto o argentino tem dupla tocando música sertaneja.
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Júlio
non-member comment
tudo
Absolutamente Impressionante. Realmente essa região, com as cataratas e tudo, merece no mínimo uns 4 dias para se conhecer o básico. Pra gente ainda ficou faltando a trilha do macuco e o circuito inferior, entre outras cositas más. Teremos que voltar né? =) E da próxima vez, que bons ventos nos levem...