Tunja


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South America » Colombia » Tunja
January 3rd 2006
Published: July 11th 2006
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Almacen PortugalAlmacen PortugalAlmacen Portugal

Mesmo em frente ao Hotel Saboy. Soube pelo actual dono que a anterior proprietária gostava muito de Portugal. Pouco romântico.

Tunja



Quem é que nunca quis ir a Tunja? Quem é que nunca se viu desembarcar, no terminal de Tunja e aventurar-se pela capital do Boyacá? Eu, pessoalmente, nunca tinha ouvido falar, mas ficava a caminho de Bogotá e parecia um atractivo porto de abrigo em direcção ao sul.
A viagem entre San Gil e Tunja foi, uma vez mais na minha vida, um momento agradável. Lá fora uma paisagem dramática, selva, picos cortados pelas nuvens, a estrada a serpentear a beira de vales, bananeiros, bananas, e as pessoas que apanham as bananas, bicicletas carregadas de bananas, carrinhos de mão escondidos pelas babanas. Tudo é intenso, e amarelo. Nas paragens de 15 minutos que fizemos em pequenas aldeias, barulho, côr, agitação, muito movimento. É díficil descontrair e simplesmente esticar as pernas. Somos constantemente olhados com curiosidade e frequentemente “assaltados” com perguntas... e roubam-nos respostas.
Chegados à “muy noble y muy hidalga ciudad de Tunja“, já de noite, foi encontrar guarida e sair a explorar. Não por muito tempo porque o cansaço multiplicou-se depois de jantar. A altitude começava também a fazer efeito, já que estamos agora a 2820 mt.

Acordámos no Hotel Saboy, antiga casa senhorial de 2 andares,
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Privacidade a todo o custo
tectos altos, páteo central onde uma enorme clarabóia deixa entrar a luz que se propaga por quase toda a casa, casas de banho equipadas com porcelanas antigas, cozinha de forno gigante, 12 quartos a darem para o páteo e onde um gigante e barulhento cão pastor corria e derrapava pelo chão de tijoleira. E mordia.
“Tunja es una ventana que se abre al siglo XVI... pasear por sus calles es meterse por los bastidores de la historia de la España virreynal en America. Tunja aparece como bello dibujo a plumilla repleto de recuerdos...”
Esta era a introdução do guia turítico que nos deu a dona do hotel.
Em papel amarelado e velho, mas apenas desembalado, era um guia personalizado onde se podia ler:
“Hotel Saboy - Cada huésped se sentirá como en su própria casa” Enfim, não foi bem assim! Cada vez que queríamos sair do quarto e o cão ouvia a porta, era vê-lo correr na nossa direcção e, das duas uma, se estivesse sem ançaime, fecha-se a porta novamente e grita-se por alguém, se estivesse com ançaime, espera-se que não o rebente.
Voltando ao guia, a qualidade gráfica, o aspecto e a preocupação evidente na qualidade de informação
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Colégio de Boyacá
para atrair turistas (se bem que é para isso que os guias servem), deixaram-me bem impressionado. Estava no entanto intrigado com o facto do raio do guia ser personalizado! O Hotel era simpático, ambiente familiar, um ar senhorial, mas com um guia personalizado? Com 24 páginas? A côres?
Obviamente que antes de sair a explorar Tunja decidi sentar-me e explorar o guia. Publicidade a licores e serviços turísticos da região, à Air France, sim senhor... qualidade. As fotografias não eram muito actuais, fizeram-me lembrar as fotografias que vi dos meus pais quando tinham a minha idade (não muito antigas), o mesmo tipo de penteado, o mesmo tipo de roupas, o mesmo nó de gravata, a mesma forma de cruzar as pernas.
Depois de muito folhear e de notar que os números de telefone dos locais anunciados no guia só tinham 4 dígitos (actualmente são 7) constatei o que já desconfiava. O guia era de 1974. Eu nasci em 1974. Há 32 anos. 32. Em 1974.
Quando me deram o guia eu vi-o ser desemblado de um plástico onde estavam resmas de outros guias, como que acabado de chegar da casa de imprensa, a forma como me foi entregue na mão
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Calle 19 - Fachada do Hotel Saboy, à esquerda
foi de uma actualidade inexplicável, de uma certeza e confiança que nada me levava a crer que o guia tinha a minha idade. Eu era o primeiro dono daquele “papiro” que a última vez que sentira o toque humano fora em 1974.
De facto o Hotel Saboy havia sido, há 32 anos, um lugar de eleição e destaque em Tunja. A dois passos da Plaza de Bolivar, numa rua peatonal, ainda se podia cheirar a traça de luxo que daqui nunca saiu. As mesmas pessoas continuavam orgulhosamente a gerir este hospitaleiro poiso com o mesmo orgulho de há 32 anos. Era encantador ver como lidavam com os hóspedes. Com educação, com estima, com o mesmo trato com que há 32 anos cuidavam do conforto de homens de negócios e familias de classe alta em férias. Só que agora, em vez de distintas familias o hóspede era mais freguês, o freguês pode servir-se da cozinha, partilhar a sala com os donos do hotel e até ser mordido pelo animal que para alí anda. Em vez de importantes homens de negócios os quartos, que agora são dormitórios, são ocupados por militares que prestam serviço na região, por caixeiros viajantes, ou professores universitários
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Frutaria
deslocados, enfim são mais moradores que outra coisa. A chegada de um turista, neste caso 4, e ainda para mais europeus (1 australiano, mas para o caso é irrevelante) foi um raio de felicidade. O Hotel Saboy voltou a ser o que era há 32 anos, fechou a cozinha ao freguês, sacou a televisão do páteo central, semi-prendeu o cão, e até familiares dos donos que já tinham estado na europa, há 32 anos, fizeram uma visita e falaram de Londres, Paris e Roma. Falaram do velho continente como eu hoje falo da Colombia. Com um brilho nos olhos.
Agora, tudo parecia fazer sentido, o guia com 32 anos, o tipo a ler o jornal que se cruzou comigo, na rua, na véspera, antes de entrar no hotel, o cão que ladrava, as pessoas que se apresentavam, as vidas que se despertaram. Tudo encaixava.
Mais sentido tudo fez quando, na rua, segui à risca o mapa do guia e, por estranho que pareça, estava actualizado, os monumentos com 300 anos estavam, no mesmo lugar e as previsões metereológicas “au point”. Tunja entrava na minha vida com o pé direito.

Como qualquer outra cidade Colombiana, a principal referência urbana é
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Hotel Saboy
a Plaza de Bolivar, a dois passos do hotel. Aí pudemos visitar a Catedral, em tudo muito parecida (pra não dizer igual) a muitas outras catedrais em muitas outras Plazas de Bolivar e a Casa del Fundador Suarez Rendón que, lamentavelmente, não fui. A visita a Tunja foi em tudo mais social e de reconhecimento urbano. Um recorrido pela cidade, à conversa com sapateiros, merceeiros, com vendedores ambulantes, e “amena cavaquiera” nalgumas tabernas. Reconfirmei uma vez mais o bom humor, simpatia e inocência dos Colombianos. A forma como me receberam, como me deram indicações na rua, como se mostraram interessados pela minha presença, e como se orgulham do seu país, é contagiante. Deixa os mais tímidos em euforia.

Tunja é bastante acolhedor, sem nada de grandioso, de grande destaque cultural ou arquitectónico, é de uma sinceridade tão evidente que só nos apetece ficar. Resolvemos então seguir o conselho de locais e conhecer mais da região, desta vez sem guia e completamente fora do roteiro turístico.
Paipa e as águas termais, Duitama e o terminal de autocarros, Nobsa capital da lã, Sogamoso e Don Alfonso (de quem adiante vos vou falar), Aquitania e a Laguna de Tota, Mongui e a
Hotel SaboyHotel SaboyHotel Saboy

Inventário por quarto, Hotel Saboy
fábrica de bolas de futebol. Estes pareciam ser os lugares que não deveríamos deixar de visitar já que ali estávamos.

Paipa



Seguimos o conselho e numa manhã bem cedo partimos de autocarro para Paipa, a 40 min de Tunja, para uns mergulhos nas águas termais, o que acabou por não acontecer porque estávamos à espera que fosse uma fonte natural ao ar livre e infelizmente era mais um centro comercial de água. Massagens com água assim e assado, terapias para o sono, com água, jactos de água com mais potência ou com menos potência, jacuzzis, com água, e mais uma série de “banheiras” com bolhinhas que, apesar de serem em tudo iguais cada uma solucionava diferentes problemas de saúde. Ah e tudo isto a pagar... e bem!
Não faz mal porque também não queríamos muito, a não ser o Jason que achava que lhe ia fazer bem às costas. Mas acabou por se vir embora e passado meia-hora já não se queixava.

Nobsa



Próximo destino Nobsa, com escala em Duitama para trocar de autocarro.
À medida que nos afastávamos de Tunja e da Panamericana (a famosa estrada que percorre de norte a sul o continente americano)
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Pela rua...
a segurança começava a apertar, e eram frequentes os check-points militares. O exército à procura de eventuais desertores param frequentemente os autocarros e pedem identificação a todos os homens. Numa destas paragens o Jason foi desaconselhado a não usar os calções camuflados que levava para todo o lado. Apesar de bastante conscencioso (por vezes até demais) nunca deixou de os usar.
A escala em Duitama, deu pra dar uma volta ao quarteirão, e trocar de veículo.
Nobsa, capital da lã cá vamos nós. Em Nobsa o John, o tal que é australiano, queria comprar um tipo de samarra local para parecer mais local (nem com a cabeça enfiada debaixo de terra ele iria passar despercebido). Lá fomos, lá ele comprou a tal samarra e agora parecia ainda mais turista do que anteriormente. Mas como aquilo agasalhava, então também não fazia mal. Nobsa é uma pequena vila com uma acolhedora (advinhem?) Plaza de Bolivar, onde podemos ver uma (advinhem?) igreja matriz, e a economia é gerada em torno da lã. De tapetes, a samarras, gorros, meias e uma série de outros produtos finais, podemos encontrar de tudo nas inúmeras lojas viradas para esse comércio. Vêm gente de toda a região para
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Plaza de Bolivar com a catedral ao fundo.
aqui se prepararem para o frio. É também de Nobsa que se “exporta” para o resto do país.

Sogamoso



Depois de Nobsa veio a cidade do sol e do aço, Sogamoso, onde chegámos no dia seguinte, de noite. O facto de estarmos meio perdidos por não termos guia, sem saber para onde ir. Deixou-nos vulneráveis.
O Jason é um careca com 1.90 mt, com ocúlos amarelos e um brinco à pirata, O John é loiro com bochechas avermelhadas e de samarra e a Jo é também loira e com um ar típico inglês.
Por ser o único que fala castelhano e por saber que rodeado por estes “aliens” a coisa não ia ser fácil, tentei, em vão, que zarpássemos dalí para fora demonstrando que não estávamos de forma alguma perdidos e sabíamos muito bem para onde ir.
De repente vimo-nos rodeados de pessoas que não diziam uma palavra, só nos olhavam. O Jason ainda sabe umas palavras de espanhol, mas entende tudo ao contrário. E obviamente a maioria das conversas que mantém não fazem qualquer sentido. O John só sabe dizer “cerveza” e a Jo só se ri e diz “no entiendo, no entiendo!” Obviamente que quando o
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Plaza de Bolivar construção colonial
gelo quebrou e a multidão se aproximou, lá começou a sinfonia do costume:
A Jo, “no entiendo, no entiendo”, o John encolhia os ombros e a rir dizia, “cerveza, cerveja amigo” e o Jason, num castelhano mais evoluído pedia, “más despacio por favor, habla más despacio, poquito...”, mas ninguém queria saber se eles entendiam ou não, simplesmente queriam comunicar, estabelecer contacto. E eu sem saber pra onde me virar. Só queria sair da confusão, arrancar dali os meus “compinchas” e encontrar onde dormir. Não foi fácil, mas de alguma forma conseguimo-nos livrar da atenção e sair dali.
A busca de hotel era próximo objectivo. Sem guia, mapa ou qualquer indicação sobre a cidade era importante encontrar um lugar que não fosse caro, perto de restaurantes, numa zona segura. Precisavamos encontrar alguém informado que não nos seguisse e nos desse informações correctas e actualizadas. Precisávamos ser discretos para não atrair atenções (mais ainda) indesejadas.

Mais orientada para a indústria e comércio do que para o turismo, Sogamoso peca pela oferta de alojamento, não existem pousadas ou pensões e se existem ou ninguém as conhece ou não nos queriam mandar para lá. Só conhecem hoteis. Taxistas, policias e transeuntes pareciam só
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Sapateiro
conhecer os mesmo lugares, como se só houvessem 4 ou 5 lugares onde púdessemos ficar. Parecia não haver muita oferta, o que complicou bastante a nossa missão. Abençoado seja quem nos indicou o Hotel Colonial. Um hotel que ainda ninguém tinha mencionado e que mais tarde percebemos porquê.
À primeira vista não tinha aspecto de hotel, o que para nós era bom. Hotel que não parece hotel é barato. Não tinha campainha, mais barato seria. Batemos à porta e nada, novamente, e nada... O letreiro, “Hotel Colonial”, não enganava. Era, ou tinha sido um hotel.
A decisão de esperar foi unânime, como também foi a de comprar alguma coisa para jantarmos ali mesmo. Apressei-me a comprar empanadas e fatias de pizza, o John disparou para a licoreria, e de lá veio com rum e cerveja, enquanto o Jason e a Jo guardavam as mochilas.
Quando voltei, estava montada um estrutura meio estranha, mochilas e tábuas de madeira serviam de mesa, um sofá de 2 lugares sem forro, o esqueleto de uma cadeira de escritório e um caixote ao alto eram os assentos. E alí, no meio do passeio à porta do Colonial, tínhamos uma mesa com lugares marcados (eu fiquei
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Venda ambulante...
com o caixote).
Ainda não havíamos começado o banquete quando começaram a chegar os primeiros convidados, que o John recebia com shots de rum, a Jo encantava-os pela presença e o Jason, pelo aspecto, era a grande actracção. Cerca de 8, 10 pessoas ali se juntaram, sentaram-se nos braços do sofá, encostaram-se à parede e nunca disseram que não a um shot de rum.
A senhora da mercearia do outro lado da rua apareceu do nada com um tacho com sopa e ovos estrelados a boiar, pousou-o ao lado da mesa, voltou a atravessar a rua a correr, regressou com pratos e colheres, voltou a atravessar, tudo isto sem nunca dizer uma palavra, voltou novamente, com pão e choriço numa mão e uma cadeira de plástico na outra, reatravessou mais uma vez para fechar o estabelecimento, voltou a voltar e começou a encher os pratos de sopa e a distribuí-los por quem ali estava. Por entre a alegria de uns, o espanto de outros (nós) e no meio de tanta azáfama, a senhora percebeu que o rum tinha secado. Voltou a atravessar a rua, e regressou com outra garrafa de rum. Por fim, juntou-se à malta e falou-nos sobre a
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...e mais venda ambulante...
vontade que desde há muito tinha de fazer este piquenique urbano.
Alí falamos da Colombia, do Boyacá, de Sogamoso, ou Sugamuxi, como fora conhecida quando capital do império Chibcha, falamos dos lugares que já conhecíamos na Colombia, dos que ainda queríamos visitar, e ali debatemos também o problema da dormida, que já não era problema porque todos os presentes tinham lugar para nós em suas casas.
Trazido pelo surrealismo de toda a cena, apareceu um senhor pequeno, de fato castanho escuro, cabelo meio desgrenhado mas bigode bem dimensionado, com um aspecto muito respeitável. Ar de namoradeiro/conquistador dos anos 30 e uma educação típica de um Senhor. Don Alfonso.
Don Alfonso era, para além de tudo o que sobre ele se possa dizer, o dono do Hotel Colonial. E dono de uma drogaria na mesma rua, onde estava mais frequentemente. Chegou-lhe aos ouvidos que havia um festim à porta do seu Colonial e que eram turistas à procura de abrigo. Ali se encontrou conosco e aceitou um copo de vinho, que havia trazido um dos convivas.
Levantado o “acampamento”, a circulação no passeio voltou à normalidade, os amigos desertaram e nós entrámos no hotel. Escusado será dizer que éramos os únicos
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...e...mais...!
clientes e provavelmente os primeiros desde há muito. Entretanto chegou também o filho do Don Alfonso, que tinha ficado a fechar as contas da drogaria. Havia agora que ligar o gerador, fazer as camas, esconder meia dúzia de caixotes cheios de papelada que estavam espalhados pelos corredores, trocar lâmpadas fundidas, tarefas que foram divididas entre todos.
A última lâmpada obrigou Don Alfonso a ir à drogaria e destinava-se ao placard luminoso da rua onde brilhava agora “Hotel Colonial”.
O lugar ressuscitou. Depois seguiu-se um brinde com um licôr qualquer e a história do hotel.
Comprado recentemente, não tinha em vista nenhuma ampliação, só melhoraria de espaços. Don Alfonso não queria de forma nenhuma uma torre com 10 andares e 60 quartos, queria qualidade. Manteria os dois páteos centrais que via como a alma da casa. E planeava para o jardim melhoramentos jardinais. Mas tinha um enorme problema.
Andava à tempos a lutar contra a construção de uma torre de betão que visivelmente já tinha ultrassado o limite de construção em altura, queria, com isso, preservar a privacidade dos hóspedes quando tivesse o seu jardim arranjado.
Queria ainda lençois de linho personalizados por quarto, queria recuperar a loiça de porcelana antiga das casas de banho, queria recuperar azulejos, queria que todos quisessem ali passar uns dias, por ser ali, queria que o Colonial fosse algo como o Copacabana Palace mas melhor, mais modesto. E queria que um dia o filho lhe desse um neto que conseguisse sempre o que quisesse mas que quisesse este lugar mais que tudo. Não queria muito mais que isto. Era um senhor em maiúsculas.
A maneira educada como tratava as pessoas na rua, como tratava a mulher, o filho, a empregada, tudo e todos, como falava do país, como se vestia, parecia sempre bem e respeitador.
E a caligrafia? Se não vos disse, a caligrafia era, lá está, de um senhor. Muito desenhada, de quem escreveu muitas cartas e ainda escreve. A letra saia pela ponta de uma caneta de tinta permanente como se fosse uma extensão do seu braço. E se o documento fosse mais formal, sentava-se em frente de uma Olivetti dos anos 50, alaranjada e com alguns pontos de ferrugem, e escrevia à máquina sem olhar para o teclado.

No dia seguinte conhecemos a mulher do Don Alfonso. Mais moderna. Estudou pintura em Paris nos anos 60, viveu a arte e viveu da arte. Mais tarde, quando regressou à Colombia, talvez pelo talento (ou falta dele) ou outras circunstâncias da vida, eu cá não sei, a pouco e pouco foi deixando de pintar. Casou-se, mudou-se de Bogotá para Sogamoso e montou um salão de beleza. Um dia resolvi visitar a drogaria com o John e a Jo. Ver o que é que se passava. Quando chegamos insistiu que subíssemos a casa dela, por cima do estabelecimento, para conhecer a veia artística de que tanto nos falara.
Os quadros estavam quase todos por detrás de um armário. Adivinhem quem trepou para sacar dali toda a galeira? Claro....
Bom, entre o armário e a parede havia um espaço de mais de um metro onde estavam enfiados uma série de quadros empoeirados com diferentes tamanhos. Entre os quadros haviam algumas telas soltas. Ali, em cima do armário, a minha missão era conseguir enfiar o braço por entre vários quadros, puxar um ao acaso, mostrar uma parte da pintura e a senhora (de quem não me lembro o nome) dizia: “Ese sí, ese no!”. Tudo isto em equilibrio em coma do armário, evitando cair ou rasgar uma das telas, algumas das quais com mais de 1.5
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Há verduras
m x 1.5 m, com molduras de madeira maciça, um peso absurdo. Às vezes puxava um quadro e vinham 3, outras vezes, desses 3 caiam 2 e a senhora saltava. “no me los rompas, no me los rompas!!!” Eu nem os queria ver, pra ser sincero, mas, enfim. Mais de 1 hora estivemos ali a ver e ouvir “histórias, quandos e porquês”. Não nego que, apesar de os quadros não me dizerem muito, a emoção e a determinação com que a senhora falava prenderam a minha atenção. Mas tive que voltar a pôr os quadros todos de onde os tirara e esse encanto passou para segundo lugar.
Como sou péssimo a dizer que não, a Jo e o John conseguiram desertar e eu desci novamente à drograria por insistência da artista. Passámos para as trazeiras onde “jazia” um salão de beleza. Uma série de produtos de beleza antigos, cadeiras giratórias, anúncios ao Pantene, L’Oreal, etc, nas paredes. Tudo muito amarelado. Explicou-me que fechara o salão às uns 10 anos. Agora dedicava-se à drogaria e estava a pensar voltar a pintar. Ali estavam os esboços que tinha feito em Paris, esboços que lhe quiseram comprar mas que nunca vendeu, por amor,
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Imagem frequente nos restaurantes
ali estavam também, entre frascos de shampoo e descolorantes (ou colorantes) de cabelo, quadros mais pequenos e, acreditem, todos tinham uma história. E eu não conseguia dizer que não. Ouvia as histórias e só sabia dizer “Ah sí, ah sí?” Eventualmente, lá senhora se fartou e consegui sair. Hoje já não ali estou, e só lá queria estar.

Aquitania



Nos 3 dias que ficámos em Sogamoso, subimos a Aquitania, aldeia à beira da Laguna de Tota, onde fomos escoltados por grupos de crianças para todo o lado. Ali tivemos também um encontro com o exército que estava de guarda na área por ser já perto de zonas de guerrilha. Mais uma vez, desaconselharam Jason de usar shorts militares. Ele diz que sim, que sim, mas nunca comprou outros.
No dia seguinte e debaixo de muita chuva visitámos Mongui. Também tem uma Plaza de Bolivar mas é famosa pela fábrica de bolas de futebol.
Regressámos a Tunja, conscientes de que deixámos para trás muitas pessoas a falar sobre nós.


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Em Paipa, enquanto caminhava, dei com estes bovinos a descansarem no recinto desportivo. Achei graça!


29th July 2006

Pacificação das guerrilhas por um binóculo
Hola! Como vai tudo? A Colômbia podia ser 1 país riquíssimo... Quando falo em riqueza refiro-me a uma economia que abraçasse toda a população. Têm um solo fantástico para a agricultura que é aproveitado para plantações de coca que só beneficiam alguns... Não conheço a Colômbia pelos meus próprios olhos, só pelas palavras indignadas de uma colombiana com quem tive o prazer de partilhar casa durante alguns meses. De tudo o que ouvi, as condições luxuosas em que se encontram aqueles que mais proveito tiram do comércio da droga foi o que mais me perturbou. Enfim... Histórias de uma humanidade pútrida à qual já me começo a habituar. Continuação de grandes aventuras e espero poder ver-te em breve. 1 Beijo
19th August 2006

Esses Homens...
"Esses Homens(...) constituem a prova cabal de que tudo pode ser tirado a um Homem, excepto uma coisa, a última das liberdades humanas: escolher a sua atitude em qualquer tipo de circunstância, escolher o seu próprio caminho..." - ao ler este texto de Vitor Frankl, pensei em ti e por isso aqui fica registado. Continua a Aproveitar bem a Vida e tudo de bom, DIVERTE-TE. Força aí...aí onde quer que estejas. Beijos.
1st September 2006

FORÇA!!!
Ta tudo jóia? há uns tempos q n vejo as descrições das tuas aventuras...mas queria mandar te um grd bj de força e saudades p os momentos em q as coisas correm menos bem...isso deve ser um enriquecimento brutal a todos os niveis (menos monetário) ;) mas cm n e disso q tou a falar...n ha crise! adoro ler as aventuras e admiro a tua coragem...adorava ter só um bocadinho...pelo menos tas a fazer o q gostas! (espero eu!) bem, deixo me de lérias...um grd beijo da tua prima matilde entretanto faz hoje 5meses q fui operada (2ª x), ta tudo naice!!! beijinhos e boa sorte!!! diverte-te!!!
1st December 2006

Que bom!
Que bom que conheceram sei la....uma parte escondida de Boyaca e nao aquela parte que e sempre amostrada para os turistas como Villa de Leyva e seus aredores...Gostei de viagem..hahaha...mesmo eu sendo Boyacense nunca fui em algum de esses lugares...quando volte vou tentar fazer uma viagem de esse tipo. Obrigado e espero que tevesem gostado de minha terrinha. Diego

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