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Published: January 1st 2006
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Rio Táchira
Rio que separa a Venezuela da Colombia.
Os moços da foto vêm no sentido Venezuela-Colombia e eu vou no sentido oposto. Eles por baixo da ponte, eu por cima. Partida de Mérida
Confundo a enorme vontade de ficar com uma sensação estranha de bem estar. Partir, para mim, é mais do que uma vontade, é um dever e um desafio.
Por cada sitio que passo, provo sempre a mesma sensação de angústia, quando chega o momento de seguir. Há sempre mais para ver, mais para fazer, conhecer. São demasiadas razões que me levam a colocar sempre a hipótese de ficar mais um dia. E sempre que isto acontece recordo as vésperas da partida de Lisboa. Lembro-me dos mapas espalhados, rasgados, escritos. Lugares assinalados a marcador, livros e guias....tudo numa azáfama que recordo com um sorriso.
Até agora esta terapia tem funcionado, e continuo a girar.
Desta vez, sair da Venezuela, só foi fácil porque o objectivo era a Colombia.
Prometi a mim mesmo voltar, e queria cumprir a promessa para dormir descansado.
O objectivo era entrar pela zona centro, na fronteira San António del Táchira (do lado Venezuelano) - Cúcuta (do lado colombiano), e seguir terra adentro, parando e andando até chegar à fronteira com o Equador.
O percurso inclui, à partida, "meia dúzia" de cidades e
pueblitos, com desconto para eventuais oportunidades que surjam e que me
A movimentada fronteira
John e Jason antes de atravessarmos a fronteira. A pé. levem a alterar os planos. Um mês e meio é o limite (negociável comigo próprio e a qualquer altura) que tenho para
La Vuelta a la Colombia. Tudo começa bem quando tudo começa bem, e para poupar uma noite de dormida e chegar rápidamente ao primeiro destino, decidimos, Jo, Jason e eu, fazer a viagem até à fronteira de noite. Saindo de Mérida às 02h00, chegaremos a San Antonio del Táchira às 09h.
Acabámos por chegar às 10h porque sem razão aparente tivemos de trocar de autocarro a meio da noite 2 vezes.
Enquanto tratávamos das formalidades de saída da Venezuela, juntou-se a nós um australiano, John, que veio conosco "nos mesmos" autocarros desde Mérida.
Colombia
Cruzar a fronteira foi interessante.
Optámos por atravessar a pé a ponte sobre o rio Táchira, que separa a Venezuela da Colombia nesta região.
Enquanto efectuávamos a travessia pelo tabuleiro da ponte não pude deixar de observar os "artistas" que atravessavam, a mesma fronteira, mas "de lá para cá" e pelo rio. Com água pelo joelho empurrando uma bicicleta carregada sabe-se lá de quê!
Como não tenho nada a ver com isso, preferi não fazer perguntas e segui o meu
caminho.
Depois de perguntas respondidas, papelada preenchida e outras formalidades fronteiriças, atravessámos os "portões" de entrada na Colombia. Ainda a pé, somos "ovacionados" por quem passa de carro que obviamente não está habituado à visão de 4 "gringos" de mochila às costas por estas andanças.
Os mais corajosos, foram os primeiros a abordar-nos. De arma em punho e sorrisos no bolso, 3 representantes da Policia Fiscal Aduaneira aproximaram-se para satizfazer a curiosidade evidente. Apresentaram-se, posaram para a foto, sorriram e negociaram por nós um táxi, ameaçando o "pobre" motorista.
Da fronteira seguimos para o terminal de Cúcuta, primeira cidade depois da fronteira.
Ainda "verde" a descobrir uma Colombia que se sabe diferente da que já tinha conhecido, a costa caribenha, queria chegar a Bucamaranga, capital do Departamento de Santander, nesse mesmo dia, e, de preferência, sob a luz do sol. Algumas regiões são desanconselhadas para viajar de noite.
A partida que se esperava para as 13h passou para as 15h e, pelas mesmas razões, a viagem que devia ser de 6h passou a ser de 8h. Feitas as contas, chegámos a Bucaramanga "pouco" além da hora pretendida e com o sol do lado errado do planeta.
A união faz a força
E que bem recebido fui. Bucaramanga
Seguros e cheios de fome, chegámos ao hotel.
Jantar e cama, eis se não quando, o responsável do hotel me aparece no quarto a dizer que os "gringos" dos meus amigos querem sair à noite e que é preferível que
"vayam" com um Colombiano.
"Mandelos con quien quiser señor", disse-lhe.
"De verdad, es mejor que se vayan con usted!" respondeu-me.
Julga que sou Colombiano.... uma honra....para o meu espanhol.
E para juntar ao meu reportório de saídas à noite (que não é tão vasto quanto deveria ser), lá preenchi o espaço em branco que tanto me atormentava por nunca ter saído à noite em Bucaramanga. "Ticked"...O lugar escolhido , a poucos quarteirões do hotel, não era mais do que um bordel de 5a categoria em que meia dúzia de sujeitos de comportamento moderadamente alterado arrastavavam o esqueleto, ora de encontra a parede ora de encontra os corpulentos corpos femininos.
Giron
Para o dia seguinte escolhemos como destino a Vila de Girón, descrita por um empregado de restaurante como a não perder. O que se comprovou e, de facto, valeu a visita.
1 hr. de autocarro e lá chegámos à pitoresca vila fundada em 1631, à
beira do Rio do Ouro e que guarda na arquitectura recordações passadas da época colonial quando chegaram os espanhóis. Por esta razão foi considerada há alguns anos como Monumento Nacional.
As ruas empedradas e estreitas dizem-nos mais que qualquer guia de viagem.
Toda a aura que transporta, foi tragicamente afectada pelas intensas chuvas que, à cerca de um ano, levou à subida do nível do rio e levou 56 familias, para além de outras 35.000 sem casa.
1 ano depois, o sentimento é de luto e os esforços para recuperar o ânimo dos habitantes bem como a vila, são evidentes.
Planeado 1 dia para a visita, o charme do lugar levou-nos a ficar 2 dias com pena de não serem 3 ou 4.
No melhor lugar para conhecer a "sociedade" local, optámos por visitar as tabernas da praça príncipal onde ficámos a perceber a intensidade com que ainda se vive o drama.
Nesse mesmo dia e numa dessas mesmas tabernas conheci Otto, arquitecto Colombiano que parecia ser um fervoroso conhecedor da história de Siza Vieira, Souto Moura e algumas obras de Manuel Mateus. Sem perceber nada do assunto e pouco poder opinar, admito que me deu uma enorme alegria.
Sem
razão aparente para os habitantes, o exército também marcou presença e desceu à rua. Há mais de 5 dias que patrulhava as ruas da tranquila vila. Os locais desconfiam que, talvez pela próximidade da guerrilha, nesta altura, os soldados da paz estejam em missão de segurança.
Curioso, tentei obter uma resposta dos protagonistas, que se mostraram muito mais interessados na minha visita do que prestar qualquer esclarecimento.
Mais tarde vim a saber, de fonte NÃO segura, que a guerrilha e para-militares fazem incursões a pequenos centros urbanos, de forma a cativar adeptos para as suas fileiras. Quando possível o exército adianta-se-lhes de forma a evitar que os grupos armados levem a melhor.
De regresso a Bucaramanga e com planos para seguir viagem, traçei o itinerário para os próximos dias saboreando a típica, saborosa e estaladiça formiga Culona. Uma formiga gigante que deve o seu nome à enorme parte traseira e altamente apreciada como aperitivo.
Barichara
Próximo destino: Barichara, a 2 hrs e 30 min. de Bucaramanga.
A viagem para Barichara correu pelo melhor e evitámos uma noite em San Gil, metrópole vizinha e sem grandes atractivos à primeira vista.
A colonialidade, o ambiente descrito e o imaginário
Chiva. Em Cúcuta
Carro tipico da Colombia com cabine de madeira. sobre Barichara eram muito mais atractivos.
Outra das pérolas da região, descrita como de côres e cheiros intensos, este encantador
pueblito, de essência avermelhada pela côr da terra, vestido de branco, pela côr da cal e verde, pelo campo que a rodeia, é o perfeito lugar para se sonhar acordado. A textura de pedra, as ruas tortuosas, o cheiro a terra, a barro e os melancólicos entardecer sobre o Vale do Suaréz fazem parte do encanto que envolve a vila.
Situada numa encosta, quando se sobe, as ruas parecem seguir para o céu e no sentido inverso, entrar pelo campo adentro.
E foi neste ambiente que passámos 4 dias bem agitados.
Quando, em San Gil, trocámos de autocarro para seguir para Barichara, percebemos que ia ser uma experiência diferente. Galinhas e cabras fizeram a viagem conosco suscitando alguma curiosidade. Já tinha viajado com galinhas e coelhos, mas dois "cabrões" dentro de uma saca de batatas, muito agitados mas bem seguros pelos cornos no corredor do autocarro, era para mim uma novidade do mundo moderno.
Tudo explicado quando "desembarcámos" e percebemos que a agitação era geral na vila. É a semana da festa anual de Barichara, uma espécie de Ovibeja, uma
Benvindo
Palcas incrustadas no passeio. festa de gado, bêbados, música e muita poeira. Hmmmm!
Já de noite e depois de instalados subimos ao morro da vila e demos conta da importância e tema do evento. Cabras, vacas, cavaleiros e cavaleiras.... uns para baixo outro p'arriba. A vila estava virada para a festa.
O recinto poeirento, rodeado de tendas amarelas, a côr do patrocinio, era o palco de umas largas centenas de pessoas que exibiam os seus dotes de dançarinos ou simplesmente, como em qualquer festa, se bamboleavam de cerveja ou garrafa de rum na mão até encontrarem no chão um perfeito lugar para passar a noite. Foram precisamente alguns destes "artistas" os primeiros a abordar-nos, já que os restantes, sóbrios, ainda nos olhavam como extra-terrestres.... se bem que eu acho que sempre fui olhado como normal, mas o Jason realmente sobressaiu por todas as razões. Perguntas, perguntas, perguntas.... a certa altura pareceia que a banda eramos nós. As pessoas acercavam-se umas para falar e outras simplesmente andavam à nossa volta como satélites. Era ver-nos deambular pelo recinto e uns quantos personagens sempre presentes no mesmo cenário, por onde quer que andássemos. Cedo percebemos que esperavam uma oportunidade de contacto, e assim foi: abrimos-lhes a porta
com um: -
Hola que tal? e era vê-los a chegar e falar, cada vez mais, curiosos e atentos, sem dúvida fizeram dos nossos dias em Barichara os melhores que poderíamos ter tido. Nunca hei-de esquecer a simpatia e a atenção que nos dedicaram durante os 4 dias.
Cedo me retirei, deixando os "party-boys" na festa. Na manhã seguinte percebi que o John e o Jason foram a atracção da festa, sendo até que o Jason foi convidado ao palco para dizer umas palavras de agradecimento, perante mais de 1000 pessoas e num espanhol que lhe conheço aberrante, falou sobre o "nosso" interesse turistico em Barichara. Fosse ele qual fosse.
Infelizmente e por falta de informação em relação à Colombia, as pessoas optam ou por não a visitar de todo ou por deixar de fora do itinerário lugares de eleição como este.
Neste segundo dia, as pessoas chamávam-nos na rua, convidavam-nos para cerveja, várias conversas de ocasião nas tabernas e na praça, pessoas que queriam combinar uma hora de encontro no recinto para jantar. Um reconhecimento geral.
A feira de dia tinha uma aspecto diferente. Se bem que alguns "ébrios bamboleantes" ou adormecidos no chão marcavam presença, era evidentemente a
hora de exibir o gado e as bestas. A cavalo ou de cabra em punho, lá fomos assistindo ao desfile.
Para quem não estava comprador ou vendedor, o jogo da malha parecia ser a solução numa festa que de dia se via maioritáriamente masculina.
Guane
Respeitando o guia de viagem, a visita a Barichara deveria incluir uma ida a Guane, as duas vilas ligadas por um Caminho Real, também declarado Manumento Nacional. De entre muitas outras curiosidades, Guane destaca-se por uma igreja do sec. XVII e um museu arqueológico com uma importante colecção de fosseis marinhos. Tão longe da água não é de estranhar que seja interessante.
Acabámos só por almoçar e visitar a casa de uma senhora que estendia tabaco. Perdemos o transporte de volta e viémos à boleia.
Mais uma noite e um dia em Barichara, em tudo igual aos anteriores, e parti com saudade. 1 dia volto, não tenho dúvidas.
San Gil
A 45 minutos de Barichara fica San Gil, uma cidade onde pude visitar o mercado, as cascatas de Juan-Curi e um quarto de hotel inacreditável. Dois dias em que pouco fiz, limitei-me a perder-me pelas ruas e conhecer mais de uma
Foto da praxe
Vaidosos e envergonhados. Colombia que tanto me atrai.
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António Castro Caldas
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Oye como va!
Parabéns amigo, as tuas crónicas são estimulantes e as fotografias estão a ficar cada vez melhores. Abraços ACC