Saint-Émilion: as pedras, os vinhedos e as cores do outono


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November 7th 2010
Published: May 7th 2012
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Dentre as inúmeras cidades que compõe a região vinícola do Bordelais, nenhuma é tão famosa quanto Saint-Émilion. Não bastasse estarem ali instalados alguns dos mais célebres châteaux da região (e, por consequência, do mundo), a cidade guarda suas características medievais e ainda tem um sistema de catacumbas subterrâneas que foram classificadas patrimônio mundial da humanidade pela UNESCO. Não são poucas prerrogativas, ainda mais para uma pequena cidade, que sequer possui 2500 habitantes.

Quem acompanha este blog (a esperança é a última que morre, como diz o ditado) deve lembrar que eu já fora apresentado a Saint-Émilion durante um passeio turístico com meus pais, quando visitamos as tais catacumbas (ver Introdução aos vinhos do Bordelais). No entanto, a visita naquela ocasião foi bem curta, e serviu apenas para aguçar minha vontade de voltar lá e curtir adequadamente.

A ocasião para isso surgiu antes mesmo do que eu imaginava, diante da chegada de mais um visitante ilustre: o Daniel. Para os que não conhecem, trata-se de um amigo de longa data (desde os tempos do primário). Ele também estava fazendo intercâmbio na França, na Côte d’Azur (ruim, não?), e tinha suas ‘férias de Toussaint’ durante a segunda semana de novembro - uma semana inteira! Ah, inveja! Como não conseguiu combinar nenhuma viagem com seus colegas de faculdade, ele resolveu ativar o Plano B (de Bordeaux) e vir conhecer a região da qual eu fazia tanta propaganda. Assim, mal eu voltara da viagem à Itália, já tive de me preparar para receber visita, que chegaria no sábado. Sorte que meu apartamento se resumia a 12m², então era bem fácil e rápido para limpar!

Daniel:

E a viagem pra Bordeaux começa!

Começando o sábado, acordei 9h30 pra pegar o trem das 13h50. Por que tão cedo? Porque era necessário terminar a mala, fazer o almoço, comer o almoço, andar até a Gare Routière de Sophia Antipolis e pegar o ônibus de 12h20 para Antibes. Cheguei na estação de trem de Antibes por volta de 13h, então tinha bastante tempo pra entender como funcionavam as coisas por lá.

Claro que a máquina que dá o ticket é self-service e só depois que tirei meu ticket que lembrei que esqueci a Carte 12-25 em casa… Como eu tinha comprado pela Internet usando essa carte, eu precisava dela pra embarcar. E agora? Falei com uma das atendentes lá e ela falou que só tinha duas soluções:
Eu e DanielEu e DanielEu e Daniel

A cidade ao fundo
ou eu ir pra casa buscar, perder o trem e marcar outra hora/outro dia, ou eu comprar uma duplicata da Carte por 8€. Pronto, minha viagem já encareceu 8€. Pelo menos embarquei.

O trem é muito confortável. Admito que o TGV é melhor (e mais rápido, obviamente), mas o trem era muito bom, confortável, silencioso e bonito. O caminho que ele seguiu foi Nice, Antibes (onde eu entrei), Cannes, Toulon, Marseille, Montpellier, Toulouse e Bordeaux. A primeira parte da viagem (Cannes, Toulon) eu fui assistindo a paisagem, porque é bonita, ele vai perto do mar. Entre Toulon e Marseille eu já liguei a música no iPod. Marseille começou a chover, aí tentei dormir. Quem me conhece sabe que eu não durmo sentado, então não consegui. Depois de Montpellier, os trajetos duravam pelo menos 2 horas cada (Montpellier-Toulouse e Toulouse-Bordeaux) e começou a escurecer também (17h). Então liguei o notebook pra assistir filme. Assisti a um filme e meio e desisti e fui procurar algo pra comer, porque já eram 20h30. Achei um sanduíche lá pra comprar (3.50€) e acreditem ou não, comi um sanduíche de 3 queijos! Sem presunto! É a fome…

Oito horas depois de ter pegado o trem em Antibes, finalmente desembarquei em Bordeaux e encontrei o Luis. A Gare de Bordeaux é muito bonita (e a de Marseille também). A temperatura estava na casa dos 13 graus (às 22h). Pegamos o tramway e fomos para o centro da cidade. De lá, andamos uma das ruas principais toda (1.5km) com as mochilas nas costas e depois pegamos o tramway de novo pra vir pra casa dele. Ah, jantamos num podrão de panini, muito bom também. O tempo estava feio, mas não choveu.

Luis:

O tempo naquele começo de novembro estava miserável. Como se não bastasse toda a chuva que eu pegara na Itália, a situação não fora muito diferente ao longo dessa primeira semana em Bordeaux. Tempo feio e chuvoso, intercalado aqui e ali por momentos de abertura de sol que duravam apenas o mínimo necessário para me fazer crer que a chuva enfim cessaria, mas que eram logo seguidos por mais pancadas. O domingo não começou diferente, mas pouco importava - o plano do dia era levar o Daniel para conhecer. Como eu teria de trabalhar durante a semana, a exploração de Bordeaux ficaria para depois - o destino do dia era Saint-Émilion.

Apesar de toda sua importância turística em função do vinho, os horários de trem para St-Émilion são poucos. Pretendíamos pegar o das 10h42, mas perdemos por poucos minutos. Não restava outra opção senão pegar o próximo... que saía só às 13h33! Nesse meio tempo, aproveitamos para passear por Bordeaux e andar de bike – durante o que o tempo mudou de chuva para sol umas três vezes, pelo menos!

A viagem é bem rápida (nem 45 minutos), mas o trem não nos deixa na cidade, já que a gare de St.-Émilion fica na área rural, distante cerca de 1,5 km do centro. Sabendo-se que para se atravessar a cidade de norte a sul não é preciso andar nem 700 metros, isso poderia até parecer longe (em especial para as excursões de 3ª idade). Já para qualquer um que esteja em condições de andar, essa caminhada é extremamente recomendada.

Por quê? Ok, eu adoro andar, mas dessa vez até o Daniel há de concordar comigo. A cidade de Saint-Émilion é praticamente uma ilha em meio a um mar de videiras. Ela fica em uma colina, cercada por todos os lados por plantações de uva e por inúmeros châteaux cujos nomes têm status no meio enológico. A estrada para chegar lá não poderia ser diferente – há plantações em ambas as margens, e é possível ver bem de perto os pés sem precisar pagar uma visita para isso. Conseguimos até encontrar alguns pequenos cachos, mesmo sendo após a época da colheita (final de setembro / começo de outubro).

Logo chegamos à cidade, que é bem pequena, mas extremamente charmosa, com suas construções e ruas em pedra, e o vinho presente em todos os cantos. Não faltam lojas de revendedores, de artigos relacionados à bebida e locais para degustação. Para os enólogos e demais amantes do vinho, a cidade é um verdadeiro paraíso. É possível inclusive encontrar exemplares com mais de meio século de idade!

O panorama da cidade é dominado por duas torres, ambas visitáveis: a Tour du Roy e a torre do sino, a mais alta, com 133 m de altura. Sim, é a torre da igreja subterrânea, aquela mesma que visitei na ocasião anterior - ah, as antíteses da Idade Média!

O ingresso para a torre do sino só pode ser comprado no Office de Tourisme, então lá fomos nós. O que se espera num caso desses? Que ganharíamos um tíquete, para apresentar ao devido funcionário no local. Mas não, para que gastar com um monte de papel e com mais funcionários? Mais fácil é dar logo a chave da porta da torre!

Saímos praticamente com o rei na barriga, como se estivéssemos de posse das chaves da cidade (estilo Rei Momo no Carnaval), e fomos direto para a torre. Mas eis que a chave entrou, girou, mas a porta não abriu. (!) Tentamos de novo, com jeitinho, e nada. Como toda boa porta medieval, além da fechadura ela possuía uma barra de trava interna, que estava trancada. De certo alguém queria privacidade lá em cima, e bloqueou o acesso aos demais visitantes. Pas cool!

Por sorte o tempo estava bom, então fazer hora dando mais umas voltas pela cidade não foi de fato um problema. Falando em tempo (e em sorte), vale dizer que desembarcamos na gare sob chuva e tempo bem fechado. Pouco após nossa chegada a chuva parou e o tempo começou a dar sinais de melhora, de forma que tínhamos agora uma bela tarde de sol. Mas, diante da instabilidade desse começo de novembro e da minha incrível
MulticoloridoMulticoloridoMulticolorido

Amarelo, verde, laranja, vermelho...
habilidade de fazer o tempo nublar toda vez que subo em algum observatório (como aconteceu no Farol de Biarritz, só para dar um exemplo), nada estava garantido.

Passou-se um tempo (e algumas tentativas frustradas de acesso), até que enfim liberaram a porta. Corremos degraus acima (literalmente não, senão o Daniel tinha morrido =P) e, ao chegar ao topo, o visual era magnífico. Nossa espera fora recompensada, pois o sol continuava firme, e ressaltava as variações de cor trazidas pelo outono às folhas das videiras. As pedras das construções da cidade contrastavam com o azul do céu e com o colorido dos campos que se estendiam até o horizonte, numa paisagem que parecia uma verdadeira pintura. Lá do alto a vista é de 360°, e de todos os ângulos o panorama impressionava. As fotos aqui dão uma ideia, mas não há nada como presenciar ao vivo o espetáculo!

Ficamos um bom tempo lá em cima, e ao descer já era praticamente hora de tomar o rumo da gare, afinal dessa vez não queríamos perder o trem. No caminho, pareceu que estávamos rebobinando o dia, pois de repente surgiram umas nuvens carregadas e o dia escureceu. Logo após chegarmos à
Após o pôr-do-sol há uma tempestadeApós o pôr-do-sol há uma tempestadeApós o pôr-do-sol há uma tempestade

Felizmente chegamos à estação antes dela!
estação voltou a chover, mas agora já não importava mais. Para completar a sorte do dia, ainda voltamos de graça, pois a estação de St.-Émilion não possuía guichê para venda de bilhetes, e não vimos nenhum controleur dentro do trem para vender a passagem.

Daniel:

Brasileiro que é brasileiro anda de Supervia de graça até na roça francesa! 😊


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A chuva indo emboraA chuva indo embora
A chuva indo embora

Pouco após chegarmos à gare de St.-Émilion
Paisagens de St.-ÉmilionPaisagens de St.-Émilion
Paisagens de St.-Émilion

No caminho da gare até a cidade
La GaffelièreLa Gaffelière
La Gaffelière

Um dos distritos de St.-Émilion
Campos de uvaCampos de uva
Campos de uva

No caminho da gare até a cidade
Achei um cachoAchei um cacho
Achei um cacho

Merlot, talvez?


7th May 2012

Finalmente!
E o dia chegou! Mesmo depois de completar o intercâmbio, viajar a Europa, nos encontrarmos inúmeras vezes, mudar (mais uma vez) de cidade no Brasil e até trocar ambos presidentes do Brasil E da França, apareci no seu blog! Mas valeu a pena a espera e de fato os nossos relatórios não refletem a impressionante visita a St-Émilion, praticamente esquecida e enterrada nos campos de videiras há centenas de anos...
11th October 2015

Great photography!
My wife and I have also visited but not for as long as you did since we were on our way further east.

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