Advertisement
Published: January 27th 2013
Edit Blog Post
Ponte Internacional da Amizade, manhã do dia 26 de dezembro. Passado o Natal, começam as promoções. É hora dos movimentos migratórios rumo aos menores preços. Ou, em Foz do Iguaçu, é hora de cruzar a ponte em busca das barganhas paraguaias. Assim, mal dera 8h da manhã e lá estávamos nós – eu, a mãe e minha irmã Duda – em uma van prestes a cruzar a ponte. Mas nosso objetivo não eram os eletrônicos, perfumes, bebidas nem nada disso. Era simplesmente matar a curiosidade, e ver com nossos próprios olhos o inferno que nos era descrito como Ciudad Del Este.
Segundo os relatos que ouvira de quem já tinha passado por lá, tratava-se de um local feio, sujo, desorganizado e perigoso. Uma espécie de enorme camelódromo, onde se podia encontrar de tudo um pouco e os produtos tinham origem duvidosa. Até o pessoal da agência que organizava o transporte para o “tour de compras” era categórico: “vocês serão deixados em frente ao shopping, lá é seguro e confiável. A van para o retorno sairá do mesmo local. Não perambulem muito por aí. Se quiserem olhar outras lojas é por sua conta e risco”.
Eram 7h da manhã (horário
Rio Paraná
À esquerda Brasil (Foz), à direita o Paraguai (CdE) do Paraguai) quando cruzamos a ponte e pisamos oficialmente em território paraguaio, sem precisar realizar nenhuma espécie de controle de fronteira. A van nos deixou em frente ao Shopping Del Este, que fica colado à ponte. Lá é possível realizar compras em dólares ou reais e a maioria dos vendedores, habituados que são aos brasileiros, falam portunhol com maestria (fora os que efetivamente se viravam no português). A sensação era a de estar em um free shop de um aeroporto internacional do Brasil.
Tínhamos quatro horas até a saída do primeiro transporte de retorno, e a menor intenção de passar esse tempo enfurnado naquele shopping (que é pequeno, diga-se de passagem). Uma rápida olhada para ter ideia dos preços (que, realmente, são interessantes em diversos artigos), uma pausa para um café e pronto, saímos para ver a rua.
A via principal do centro de Ciudad Del Este é a continuação da Ponte da Amizade, e no pequeno trecho que vai da ponte até a rotatória da Rua/Avenida General Bernardino Caballero é onde se concentram as lojas e, consequentemente, os ‘turistas’ brasileiros. Aqui se encontra todo tipo de comércio: dos shoppings internacionais, que dão nota fiscal e garantem a
Barraquinhas
Camisas de quase todos os times brasileiros procedência de suas mercadorias, aos camelôs, com suas barraquinhas apinhadas, sem falar nos ambulantes e sua enorme (e inusitada) variedade de ofertas:
- Cuecas, señor! (quem é que compra cuecas no meio da rua?)
- Cintos, braceletes, bijuterias? (No, gracias!)
- Pen-drive! (Esses eles distribuem de um jeito que a gente quase pega achando que é santinho)
- Medidor de pressão? (Como é que é?!)
Verdade seja dita, haja quinquilharia! Para citar dois exemplos, quem nunca quis ter um urso de pelúcia que dança hip hop (ele ficava de cabeça para baixo, rodopiando e mexendo as pernas) ou um porquinho de borracha que se aperta até os olhos esbugalharem? Isso sem falar nos falsificados, opa, ‘genéricos’, como o console de videogame “Poly-Station” ou as camisas “DRI-FIT” da “REBOK”.
No final das contas, enquanto as pessoas passavam por nós com sacolas e mais sacolas, nossas compras do dia foram duas camisetas de futebol (uma do Olímpia de Assunção, e outra da seleção paraguaia – diretamente do camelô, obtida após intensa negociação) para a Duda, um relógio de pulso para minha outra irmã e... um fantástico descascador de batatas (!?). Vá saber, coisas de mãe!
Avenida principal
Com seus canteiros Ainda tivemos tempo para uma passada rápida no posto de informações turísticas, que fica junto à aduana, na ponte, onde tive uma grata surpresa. Embora quase ninguém vá ao Paraguai fazer turismo, e até mesmo na internet seja difícil se encontrarem informações confiáveis e completas sobre as atrações do país, o posto de informações tinha uma razoável coletânea de materiais informativos e uma funcionária bem solícita. Saí de lá de mão cheia, e mais determinado a levar adiante meu plano.
Dos nossos vizinhos sul-americanos, imagino que o Paraguai seja aquele que os brasileiros mais visitam, mas menos conhecem. Para a grande maioria, o Paraguai é sinônimo de Ciudad Del Este. Ou, pior ainda, do centro desta, a grande zona comercial próxima à fronteira. Como diria o Guia do Viajante para a América do Sul, “
predomina aquela ideia de que o Paraguai é nada mais do que um centro de comércio muambeiro, paraíso de produtos falsificados e destino de carros brasileiros roubados”. De fato, o centro de Ciudad Del Este é sujo e caótico. Esperava que fosse mais feio – na verdade, a rua central é larga e arborizada e, se não fosse a sujeira, seria até agradável. Também não
Guaranis
Moeda paraguaia tive a “sensação de insegurança” de que tanto ouvira falar. Se por um lado não posso dizer que as histórias e mitos que ouvira sobre a cidade estivessem de todo errados, devo admitir que houve sim um certo exagero – eu, pelo menos, tinha me preparado para algo bem pior.
Ainda como diria o livro, “
resumir o país por suas peculiaridades contrabandistas demonstra uma posição simplista e desconhecida do que ele tem para oferecer.” Por isso, passada a desmistificação, vinha a missão: ir ao sul conhecer dois sítios arqueológicos jesuítas considerados patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO. Diferentemente da maioria dos brasileiros, eu queria poder dizer que de fato visitara o Paraguai. Voltei para Foz, me despedi da família (que tinha o voo de retorno para aquela tarde), preparei a mochila, comprei guaranis¹ e parti rumo a minha pequena aventura de final de ano.
1. O guarani é a moeda local paraguaia. Na época, a cotação estava em torno de R$ 1 = 2.000 G$. No geral, o câmbio no centro de Ciudad Del Este é mais desfavorável, e saiu mais em conta realizar a transação no centro de Foz do Iguaçu.
Advertisement
Tot: 0.263s; Tpl: 0.01s; cc: 21; qc: 140; dbt: 0.138s; 1; m:domysql w:travelblog (10.17.0.13); sld: 1;
; mem: 1.5mb