Pela Panamericana.


Advertisement
Colombia's flag
South America » Colombia » Bogota
January 5th 2006
Published: December 18th 2006
Edit Blog Post

...um aparte



Para viajar, escrevo!
Hoje resolvi escrever... escrever sobre uma viagem... escrever sobre uma minha viagem!

Desde que saí de Portugal vivi inúmeras experiências. Vi e vivi muita coisa, muita coisa que nunca vou escrever porque não faria qualquer sentido.
Agora, passado tanto tempo, quando escrevo, escrevo para recordar momentos que passei e sobre os quais nunca vou escrever pela razão supracitada. Escrevo também para partilhar com quem dá uma vista de olhos ao que escrevo. Faz-me sentir bem. Não deixa que me sinta sempre sozinho.

Há mais de um ano que não falo português, à excepção de três ocasiões:
- com um português emigrado em França que encontrei na Bolivia. O ‘Manel’;
- as 2 vezes que vi o Rodrigo, um amigo que trabalha em Buenos Aires;
- e a minha prima Joana que encontrei há mais de 1 mês de passagem por Buenos Aires.

Há mais de um ano que não reconheço uma cara na rua, que não me encontro com alguém que conheça há mais de 2 ou 3 meses;
Há mais de um ano que não tenho uma rotina, que tanto me assusta mas que tanto me ajuda;
Há mais de um
Villa de LeivaVilla de LeivaVilla de Leiva

Plaza Mayor
ano isto e aquilo;
Mas acima de tudo, há mais de um ano que não falo decentenmente com os meus pais ou que não discuto com as minhas irmãs.

Bom, mas para não me afastar muito do assunto da viagem, vou escrever. Escrever sobre a minha viagem. É para isso que aqui estou. Quero, em primeiro lugar, situar temporalmente os relatos deste blog. Pra que ninguém se perca, e para que todos me vejam no tempo.
A actualização que fiz sobre a Bolivia, Condorírí Track e Huyana Potosí, passou-se em Janeiro, e entre A Bolivia e a Colombia, a actualização anterior à boliviana, existem 3 meses de diferença. Para que melhor se entenda:

Abril - Agosto 2005 - Costa Rica e Panamá;
Agosto - Novembro 2005 - Colombia, Venezuela e Colombia (outra vez);
Novembro - Dezembro 2005 - Equador, Perú e Bolivia;
Dezembro 2005 - Janeiro 2006 - Bolivia e Chile;
Janeiro - Maio 2006 - Chile;
Maio - Outubro 2006 - Argentina e Uruguay.

Neste momento estou em Mendoza, Argentina, a trabalhar como guia de montanha e actividades de aventura, rappel, rafting, escalada, trekking etc. Quem pra estes lados vier.... já sabe!

Bom, hoje vou
Villa de LeivaVilla de LeivaVilla de Leiva

Plaza Mayor
voltar à Colombia que, admito, foi o pais que melhor me seduziu. Ou por ter visto pouco ou por ter visto muito. Ainda não sei.

Villa de Leiva



Pela Panamericana vindo de Noroeste, em direcção a Bogotá, Villa de Leiva é uma paragem rápida mas agradável.
A 4 horas de Bogotá e a 1 hora de Tunja, a pequena e bem conservada aldeia, nos Andes colombianos, é um atractivo e último fôlego antes de chegar a Bogotá.
Fundada em 1572, mantém a fachada temporal da época. Ruas empedradas, fachadas brancas, varandas com balustradas de madeira, vida própria, e o ocasional (salvo seja) ébrio a tropeçar nos próprios pés.
Encontrar onde ficar não foi difícil. Um dos passageiros que vinha connosco no autocarro explorava uma das pousadas em Villa de Leiva.
Primeira impressão: mercearia perto do terminal, restaurante ao lado dos bombeiros, retrosaria da irmã do comandante dos bombeiros, loja de lembranças, igreja na Plaza Mayor
A estalagem era muito mais do que estávamos à espera. Quartos com casa de banho, um jardim interior, nada de cães a morder os hóspedes, ou caixeiros viajantes que se levantam às 04 da manhã.
Se a dupla personalidade urbana existe, então em
Villa de LeivaVilla de LeivaVilla de Leiva

Arquitectura
Villa de Leiva atinge um expoente bem elevado. Durante a semana é letárgica e adormecida e tudo muda nos fins de semana quando uma, aparente, classe média/alta de Bogotá invade a pacata vila. Se não lhe dá mais vida, pelo menos altera o quotidiano dos que ali vivem. Praças, ruas, restaurantes, bares, esplanadas e hóteis ou residênciais, enchem-se de vida. Enchem-se de gente. De vida ou de gente. Enchem-se.... pura e simplesmente.

Numa tarde de passeio pelas redondezas, podemos visitar um observatório astronómico Muiska ou o “famoso fóssil de kronosaurus”. Um réptil pré-histórico com 120 milhões de anos. Interessante, não? Eu não o vi.
Estas duas ofertas são propostas pelos guias de turísmo e pelos agentes turísticos locais (que felizmente não são muitos). Existem duas formas de chegar até estes dois “santuários”. Ou numa excursão ou pelo próprio pé. E se ambos os lugares são de certa forma desinteressantes, do meu ponto de vista, o melhor é optar pela volta a pé. A caminhada não vai desencantar ninguém, antes pelo contrário.
Villa de Leiva, vale a pena visitar durante a semana, conhecer o lugar e os seus habitantes.
Os pacotes turísticos são mais que muitos, apesar de práticos são
Villa de LeivaVilla de LeivaVilla de Leiva

Arquitectura II
bastante limitados. E anulam a possibilidade de explorar pelos nossos próprios meios. Por isso, a meu ver, é melhor seguir os conselhos de quem lá vive e, a cavalo ou a pé, seguir os conselhos gratuitos de quem melhor conhece.
Villa de Leiva é um lugar que vale a pena visitar, mas se quisermos ter uma noção do que realmente é (ou foi) então aconselho uma visita durante um dia de semana ou fora da época de férias.

Zipaquirá



Em direcção a Bogotá dois lugares de paragem obrigatória. Guatavita, onde podemos visitar a lagoa com o mesmo nome e Zipaquirá, para visitar a catedral de Sal.
3 horas e meia de viagem e chegámos a Zipaquirá (ou Zipa).
Cheguei de noite, e encontrar onde ficar foi bastante instintivo. Sem guia e sozinho, deixei a tralha no primeiro lugar que encontrei. Arrependi-me assim que paguei. 5 ou 6 raparigas de 20 e poucos anos eram as responsáveis pelo hotel. Dois tipos no hall de entrada com ar de skaters pareciam ser os namorados de algumas delas (ou de todas) e uma meia dúzia de crianças de entre 3 e 6 anos corriam e choravam pelos cantos. Aceitei o primeiro
Villa de LeivaVilla de LeivaVilla de Leiva

por dentro...
quarto que me deram, mas assim que saí para o duche (“baño compartido”) percebi que a porta do meu quarto nem fechadura tinha. Lá tentei mudar de quarto, o que não foi fácil porque o único quarto que me podiam oferecer era onde as meninas e os “skaters” passavam a noite. Depois de meia hora de discussão, em que me tentaram convencer de que não havia “otra habitación”, lá a mais velha das meninas me deu uma camarata de 4 camas. Só pra mim. Com fechadura e tudo. Depois de um duche pedi um mapa na recepção, escusado será dizer que nao tinham, mas um dos “skaters” lá me rascunhou um plano sobre como chegar ao centro. E eu que pensava que estava numa zona bastante central! Nada daquilo me deixou muito à vontade. Mas eu tinha que sair dali e explorar Zipa.
Lata de atum, tomate, queijo, pão e uma lata de cerveja alegraram-me o estômago e saí, seguindo as indicações que tinha. Imediatamente percebi que estava numa zona menos simpática da cidade, mas também percebi que, sem os meus “amigos loiros”, que ficaram em Villa de Leiva, também não dava nas vistas.
Apesar de pequena, agitação de Zipa
Villa de LeivaVilla de LeivaVilla de Leiva

...e por fora.
deu para perceber que Bogotá não estava longe.

Cedo voltei ao hotel, porque cedo as ruas ficaram desertas. O regresso ao hotel foi bastante desagradável. Sabia que a porta estaria fechada, mas não sabia que não havia ninguém para a abrir. Bem bati naquela porta em vão. Durante 45 minutos pensei o pior. Ainda bem que consegui mudar de quarto. O primeiro quarto que recusei por causa da fechadura ficava no 1º andar e o novo, ficava no rés-do-chão e tinha uma janela para a rua. Para minha sorte uma das janelas estava entreaberta e ainda que do tamaho de uma gaveta, consegui enfiar-me, a custo, e revisitar o quarto tal como o tinha deixado. Tudo no lugar. Se bem que a fechadura era agora um problema invertido. Despido e pronto para dormir, precisava de sair. Precisava da casa de banho. Mas trancado por fora não tinha como sair.
Rapidamente percebi que passaria bem sem lavar os dentes, mas sem “fazer xixi” é que não, e não estava disposto a voltar a vestir-me, sair pela janela e, eventualmente, dadas as circunstâncias, sofrer de uma constrição do canal urinário e não conseguir fazer o tal “xixi”. Eu sabia que não
Villa de LeivaVilla de LeivaVilla de Leiva

um dia inteiro a cavalo... a Laura, o Jason, a Jo e o Guia
estava assim com tanta vontade, mas queria a opção de ser eu a decidir conscientemente e não pela força das circunstâncias. Não é como lavar os dentes.
Lá decidi bater na porta do quarto até alguém se lembrar de abrir. Mas até que isso acontecesse, procurei uma garrafa de plástico, tentei usar a mente para afastar a vontade, tentei distrair-me de todas as formas possiveis e imaginárias, enfim, tentei de tudo para um alívio. Meia hora depois de ter entrado, lá apareceu, de pijama, cheia de ramelas e a resmungar sozinha, a rapariga que deveria estar de plantão. Destrancou-me depois de incessantes porradas na porta e voltou para o quarto sem sequer tentar perceber como é que eu estava tracado dentro do meu próprio quarto quando a chave estava com ela. Também não me preocupei em explicar. “Gracias mi amor”.

No dia seguinte, e por acaso, lá me encontrei com os meus companheiros de viagem. Pelo caminho tinham recolhido a Laura, uma americana que tínhamos conhecido em Villa de Leiva e cujo o irmão é casado com uma portuguesa de Braga que conheceu na Alemanha quando os dois estudavam ciências nucleares ou fisica quântica, uma coisa assim. Não interessa.
Imediatamente mudei-me para o hotel deles muito mais central, limpo, simpático, com fechaduras e com alguém de plantão 24 horas para nos abrir a porta da rua.

Em Zipa, para além de visitar o mercado, onde conheci um tipo chamado Salvador Segundo, e deambulei pelas ruas, visitei o ex-líbris da cidade. A Catedral de Sal. Um monumento, literalmente, escavado numa, não menos literal, montanha de sal. Como se entrássemos numa mina, entramos numa impressionante obra subterrânea.
Esculpida dentro de uma montanha, corredores, camâras, capelas e altares, tudo escavado em sal, levam-nos até um gigantesco espaço, a capela príncipal. Bem no coração da montanha. Gostei.

Guatavita



A 1 hr de Zipa, e em direcção ao norte, visitei Guatavita Nueva que em 1960 fora inundada pelas águas de uma central hidroeléctrica. À primeira vista é um lugar pouco animado, com pouca vida. Contrastando com todos os outros lugares visitados na Colombia. Mas andar sozinho pelas ruas de uma vila aparentemente moderna, depois da reconstrução nos anos 60, tem algo de curioso. Sobí e descí ruas, dobrei esquinas, sentem-na na praça, e raramente vi vivalma.

De Guatavita, e a 1h30 a pé, lá fui marcar o ponto à Laguna de Guatavita, outrora um lago sagrado da cultura Muiska.
De forma totalmente círcular, foi um centro ritual e alberga o mito de que, pela sua importância sagrada, os Muiskas ali depositaram ouro, muito ouro, quantidades incalculáveis de pedras preciosas e comida, tudo como oferenda aos seus deuses.
Mais tarde espanhóis e colombianos tentaram de tudo para conseguir extrair as riquezas das suas águas, sem grande sucesso. Apesar de apenas algumas peças de grande valor terem sido extraídas, julga-se que no fundo jaz ainda uma riqueza incalculável. O passeio vale a pena pela caminhada.

De volta a Zipaquirá, juntei-me à malta e, em plena praça principal, montámos banca. Vinho, atum, ovos cozidos, queijo, mayonese, fiambre e pão. Um jantar ao ar livre na véspera da partida para Bogotá.

Bogotá



Um mês e meio antes conheci em na pousada em Mérida, na Venezula, a Yolanda. Uma senhora com 50 anos que estava de férias com uma amiga e com os netos da amiga. Partilhámos frequentemente a mesma cozinha, os mesmos tachos, panelas, comida e até confidências. Tornámo-nos amigos. A Yolanda e a amiga adoravam-me. “Salvador práqui, Salvador prácolá”, enfim. Pra dizer a verdade, adoravam o Jason, que tinha mais
Villa de LeivaVilla de LeivaVilla de Leiva

A pousada.
paciência para elas e gostavam muito de mim porque era o único com quem conseguiam manter uma conversa. A mim queixavam-se das desgraças da vida, a mim contavam-me histórias e pediam-me para que as traduzisse, a mim pediam-me favores, a mim, a mim, a mim. Enfim. Mas éramos amigos.
Todos os dias me enchiam a paciência. Usavam todos os tachos e panelas da cozinha e todos os bicos do fogão. E levavam horas a cozinhar. E, para além disso, enquanto a refeição delas não estava pronta, assaltavam-me o que eu tinha comprado para aguentar a espera. Habituei-me a comprar queijo, pão e abacate para me entreter enquanto as via cozinhar e ouvia as histórias. Lembro-me que das primeiras vezes ainda lhes ofereci ou pão ou queijo, esperando que recusassem. Qual quê. Lá se ia o pão, o queijo e o abacate. A mais velha às vezes até perguntava:
- “No vas a terminar el queso?”; “No vas a comer mas pan?”
- “Voy voy, voy voy, tranquila tranquila!”
Ao terceiro dia, e de novo em fila de espera para cozinhar, deixei as convidar para a minha “merenda”, mas o primeiro convite que lhes fiz deve ter sido interpretado ad-eternum, sem
ZipaquiráZipaquiráZipaquirá

Mercado Central
qualquer tipo de problema, lá me iam sacando nacos de pão e queijo. E para me acalmar mais ainda, só queriam conversa e nada andava para a frente. Todas as refeições eram ou refugadas ou cozidas, todas eram especialidades, nada era simples.
Eu que não sou (ou melhor não era) grande cozinheiro (não é que agora o seja, mas melhorei bastante), só queria um tacho, uma frigideira e um bico do fogão e em 20 minutos estava despachado. A Yolanda e a amiga, que lamentavelmente não me lembro do nome, tinham tachos e panelas em fila de espera para os bicos do fogão que já estavam ocupados por outros tachos ou panelas. Todas delas. Cozinhavam para 10, comiam 4, e o que sobrava ficava para o dia seguinte. Nunca percebi porque é que no dia seguinte cozinhavam outra vez para 10, comiam outra vez 4 e sobravam outras 6 refeições, que a juntar às 6 do dia anterior eram agora 12. De vez em quando eu lá comia 2 dessas refeições e o Jason comia 3 ou 4. Mas durante 15 dias que partilhámos a cozinha, muitos “sancochos” e “guizos de carne con lentejas” me passaram pela frente.
Bom, para
ZipaquiráZipaquiráZipaquirá

Almoço no Mercado Central
apresentar a Yolanda nada disto é essêncial, mas eu tinha que desabafar.
A preciosa Yolanda é de Bogotá e é taxista, ponto final.
Antes de sair de Zipaquirá cumpri a promessa e liguei. Avisei-a de que chegaria nessa mesma tarde a Bogotá.
A Yolanda deu-me indicações precisas para descer do autocarro no final da auto estrada, à entrada de Bogotá, debaixo de uma ponte, perto de um estacionamento em cilo e de um hiper-mercado. Essas eram as refências. E numa das principais entradas de Bogotá, uma cidade com 7 milhões de habitantes, estávamos os 5 plantados, à espera que a Yolanda aparecesse. A situação era no mínimo estranha para os transeuntes habituais. A grande maioria grupos de homens saídos de fábricas, que ali apanhavam o autocarro para casa ou se detinham a discutir sobre o dia de trabalho. A sensação era de que todos, mas literamente todos nos olhavam. Uns faziam comentários outros não sabiam o que dizer. 5 turistas, de mochila com tachos e sacos de cama pendurados, especados à beira de uma mais ou menos auto-estrada, com 5 faixas para cada lado e numa zona industriocomercial não parecia muito comum. Demorou bastante até a Yolanda aparecer e várias
ZipaquiráZipaquiráZipaquirá

Fritos.... no Mercado Central
vezes me questionei sobre a estupidez daquela combinação. Eu nem sequer sabia se estava no sitio certo, apesar das referências coincidirem. O que é facto é que 1 hora depois de ali estarmos lá um dos amarelos táxi se meteu pela berma a fazer sinais de luz e a buzinar e se aproximou até reconhecermos a Yolanda detrás do volante. A custo, conseguimos outro taxi e seguimos para o centro da cidade à procura de onde ficar. A Yolanda ia insistindo para que ficássemos em casa dela, mas não me senti confortável por estar com outras duas pessoas que ela não conhecia. O John e a Laura.
Tentámos encontrar lugar para os 5, mas devido a um encontro estudantil em Bogotá, estava tudo cheio. Lá aceitámos o convite da Yolanda.
Na periferia de Bogotá, vivia com uma filha, um neto, um filho e uma criada. E havia lugar ainda para mais 5 pessoas.
A Yolanda tinha 3 filhos, um casado e a viver fora de casa, uma filha recém-divorciada, com um filho, também ela taxista e um terceiro filho motorista de um milionário de Bogotá.
Todas as manhãs a Yolanda deixava-nos no centro, ia trabalhar durante o dia e apanháva-nos
ZipaquiráZipaquiráZipaquirá

Uma mercearia.
ao fim da tarde para nos trazer para casa. Os serões eram uma festa para todos. Para a Yolanda e familiares, éramos os primeiros amigos estrangeiros da familia, e quebrámos a monotonia do lugar. Para nós, uma novidade estarmos no seio de uma familia colombiana, recebidos como familia. O facto de nos termos conhecido antes permitiu que houvesse uma cumplicidade enorme e as piadas pessoais ajudaram a quebrar todas as barreiras.

Agora Bogotá. Bogotá é enorme. É enorme e está a cerca de 2.600 mt de altitude. É uma cidade barulhenta, que fervilha de movimento. Museus, arquitectura colonial e moderna, pedintes, e “ofertantes”, graffitis e fachadas coloridas, trânsito louco. Riqueza e pobreza, moderno e clássico, decadência e luxo, boémia e trabalho, avenidas enormes e ruas estreitas. Bogotá é uma cidade de contrastes. Uma cidade intensa, que me entrou na pele e me consumiu. É intensamente viva. Tudo me prendeu o olhar. Os bogoteños, gente com raça, com vida.
E, para confirmar o que se ia tornando uma certeza, os colombianos em geral, são o povo mais simpático e acolhedor com que me cruzei.

Depois de uns dias em casa da Yolanda resolvemos mudar para um Hotel no centro,
ZipaquiráZipaquiráZipaquirá

Um restaurante.
para o meio da confusão.
Depois de muito procurarmos lá encontrámos o Hotel Zaragoza, uma pocilga, mas suportável. Suportável, até ao dia.... até ao terceiro dia.
Dia em que saímos para tomar o pequeno-almoço, e por uma enorme coincidência eu tive de voltar ao quarto do hotel. Entro no hotel, subo as escadas até ao quarto, abro a porta, e vejo um vulto sair pela janela. Vejo-lhe os sapatos e nada mais. Percebi logo que o cadeado da minha mochila tinha sido forçado e pedi à Jo, que estava comigo, que esperasse dentro do quarto enquanto eu ia chamar o Jason e o John. Quando voltámos, começou a confusão. O Jason foi ao quarto dele e viu que lhe tinham roubado 40 pesos colombianos que tinha deixado (segundo ele de propósito) em cima da televisão do quarto, e a Jo dizia que enquanto ficou de guarda ao meu quarto, o filho da dona do hotel tentou entrar pela janela e pirou-se assim que a viu.
O Jason saiu e foi chamar a policia e eu começei a avisar os outros clientes acerca dos larápios.
Entretanto aparece a mulher da limpeza que diz que deve ter sido o filho da dona
ZipaquiráZipaquiráZipaquirá

Uma refeiçao.
que mora no hotel com a namorada e que já meteu a mão ao que não lhe pertence muitas vezes.
Ainda a coçar a cabeça e a agradecer a Deus por não me terem roubado nada, descarrego as minhas emoções na primeira pessoa que vejo pelo corredor.
- Usted tenga cuidado porque me entraran por la habitación.
- Como, como? (Perguntava ele)
- Si, entraran dentro de mi habitación y intentaron robar mi mochila, tenga cuidado.
- blá blá blá, blá blá blá.
E enquanto eu denunciava os delatores, a Jo, ameaçadoramente, dizia:
- Awnoowfv ti oigvonv ti! (Queria com isto dizer que o tinha visto. Que sabia que era ele.)
Eu não percebi nem liguei ao que a Jo dizia e avisei-o para que tivesse cuidado com a vizinhança.
Entretanto aparece o Jason com a policia e como a dona do hotel não estava, a senhora da limpeza chamou o filho da patroa para resolver a querela. E para surpresa minha o filho da dona era o tipo que eu minutos antes tentara adverter, neste caso, dele próprio.
Com a maior cara de pau ouviu novamente a história toda, desta vez na presença da policia, como se fosse a
ZipaquiráZipaquiráZipaquirá

O meu quarto no 2o 'hotel'. Com o despertador a passear-se pelo lado de fora.
primeira vez que a estivesse a ouvir.
Ainda na presença da autoridade, devolveu o dinheiro ao Jason, pediu desculpas pelo sucedido e convidou-nos a permanecer no hotel. Ele próprio garantiria a nossa segurança.
Depois de tudo a Jo explicou-me o que é que “Awnoowfv ti oigvonv ti!” significava: Estava atentar dizer: “Eu vi-te e tu não me enganas”. Mas eu estava tão obstinado..... que nem liguei.
Decidimos mudar de hotel, e enquanto fazíamos as malas reapareceu a dona do hotel a quem contei o sucedido. Debaixo de lágrimas só se desculpou e disse-me que não pagasse a última noite. Aceitei porque tenho a certeza de que ela estava a par de tudo.
Do outro lado da rua esperáva-nos o Hotel Internacional.

A Laura seguiu nessa tarde para a Medellin e a Jo para Quito, no Equador. Os restantes, John, Jason e eu apostámos numa noite comemorativa e saímos à noite. Eu pela primeira vez, eles pela 14ª.
Nessa mesma noite, quando voltamos ao hotel, o John, o australiano, embirrou com o tipo da recepção por uma razão qualquer e saiu para a rua, às 4h da manhã, bêbado e de mochila às costas, a dizer que ia para Cali,
ZipaquiráZipaquiráZipaquirá

Gabriel García Márquez
a 12 horas ao Bogotá. Eu farto de o aturar fui-me deitar e disse ao Jason que também fosse dormir. No dia seguinte percebemos que tinhamos perdido mais um elemento importante da “expedição”.
O que mais me preocupou foi o facto de ele ter saído sem destino às 4 da manhã, para o meio da rua, em Bogotá. De manhã apressei-me a ir à internet e ver se tinha noticias do John e nada, “rien de rien”, a única mensagem que tinha era da Yolanda. O filho foi assassinado. O filho, motorista do milionário, foi assassinado à saída do cinema na noite anterior. Estava com a namorada mas ela sobreviveu.
Na véspera de sairmos de casa da Yolanda ela resolveu abrir uma conta no hotmail para ficar em contacto connosco, e o primeiro mail que enviou para dar a primeira noticia aos primeiros amigos estrangeiros, foi a notícia da morte do filho.
Eu conheci o filho razoavelmente bem. Durante a estadia em casa da Yolanda, falámos sobre muita coisa. Falámos sobre medos e inseguranças do trabalho dele, sobre o fascínio que me trouxe à Colombia, sobre as minhas viagens, sobre a vida em geral. Sobre mulheres e férias de verão.
ZipaquiráZipaquiráZipaquirá

Salvador Segundo. O Bilhete de Identidade nao engana.
E depois disso foi assassinado.
Sem dúvida que este facto marcou a minha passagem por Bogotá. Era o filho de uma amiga minha. O filho de quem tanto ouvi falar meses antes na Venezuela, o filho que conheci em casa dela, o filho com quem passei bastante tempo à conversa.
Aconteceu em Bogotá como poderia acontecer em qualquer outro lugar.

O resto da visita ficou emsombrada por este acontecimento. De turista em Bogotá levo pouco. Palaza Bolivar (claro), uma visita à Donación Botero, uma subida ao cerro Monserrate para ver o pôr do sol, uma visita à parte mais rica e segura da cidade, a zona rosa, vários passeios pelo centro da cidade, pela zona da candelária, mercado de San Alejo, cemitérios e pouco mais.

Um dia volto.



Additional photos below
Photos: 87, Displayed: 38


Advertisement

ZipaquiráZipaquirá
Zipaquirá

..........


18th December 2006

Bom Natal e 2007!!
Salvador, Bom Natal e Grande 2007!! Como vais fazer este ano? "Entras" por aí? Parabéns pelas descrições.. quite improved! Grande abraço t.Betú
18th December 2006

Bom Natal
Grande Salvador. Como sempre, excelente texto!!! Só mesmo para te desejar um Natal excelente e um começo de 2007 em grande. Um abraço, Manuel
20th December 2006

Apetece-me chamar-te mas não te sigo é madrugada agora e diluo-me de te não ter Das janelas dos teus olhos nasceu uma vela branca e a tua língua escorreu uma gaivota Os teus braços desfraldaram mares de espuma e um medo azul ancorou-me a este cais onde aceno sem partir... Amanheceu e eu já não sou. ...será que um dia te voltaremos a chamar?
25th December 2006

Que tenhas mais um ano de revelações, acompanhado de boa sorte e saúde (dão sempre jeito). Adoro os teus relatos. És um bom contador de histórias. Teresa Manafaia - GCP
5th January 2007

...que (es)corra Sal.que seja um Novo Ano imenso e cheio de mais e mais...e muito mais. nunca ausente.sempre aqui.doces memórias.
10th January 2007

Ai portuga, qual é??? Criou vergonha e postou no blog? Quando vai chegar a saga Uyuni-Atacama? Ainda estas em BA? Fui pro nordeste do Brasil, cortei 8 estados, 5.000 kilometros por terra. Com a D-50, novinha. Alias, vc falou português comigo a um ano, ou brazuca não conta? Abraços.
18th January 2007

shame on you!
do you know how meny people is waiting for you? youare egoist.... you just desapear and know you play "cuitadinho" have bols and back to the persons who you left without say WHY? im one of them who really miss you sol.... geave to as chance!

Tot: 0.243s; Tpl: 0.018s; cc: 17; qc: 100; dbt: 0.1114s; 1; m:domysql w:travelblog (10.17.0.13); sld: 1; ; mem: 1.4mb