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Published: March 5th 2008
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Chorrillo del Salto
Primeiro dia em Chaltén Meus caríssimos amigos,
Há um mês atrás, terminava uma das viagens mais fantásticas que já fiz, por exótica, pelas novidades, pelos locais inexplicáveis, por tantas coisas. Amanhã completa um mês que aterrissei em São Paulo, após 36 horas dentro de um ônibus de Rio Gallegos a Buenos Aires e míseras 3 horas de avião de Buenos Aires à capital paulista. Já cogitei a hipótese de não ter escrito mais a vocês pelo cansaço da volta, mas cheguei à conclusão de que o fator decisivo foi mesmo o carnaval, no Ecologíadas da Barra do Una. Voltar ao Brasil em plena folia, estar na praia (e poder mergulhar no mar sem congelar os dedos nem prejudicar minha descendência), rever amigos, pular, beber, passar a noite em claro!!!!! (isso mesmo, a volta foi também um reencontro com a noite, que eu praticamente não via há um mês). Todas essas coisas me fizeram sentir que a viagem de fato tinha terminado e, voltando à realidade, tratei de retomar os afazeres, organizar a minha vida, tocar o barco.
Acho saudável dar um tempo para as histórias amadurecerem em estórias. Passado um mês, sinto mais prazer em contar o que se passou no final da
Laguna Torre
Em formação de banda de rock, nos camuflamos de icebergs. Ao fundo, o Cerro Torre (a agulha mais alta) viagem, que já vem tomando, aos pouquinhos, o seu espaço entre os domínios da memória e da imaginação. Mas o fator decisivo para sentar e escrever foi a quantidade de gente que respondeu à minha pergunta "E aí, leu os emails?" assim: "Só recebi dois...". Essa sensação de algo inacabado, e o domínio global das trilogias... deram nisso:
Voltando do Parque Nacional Torres del Paine - CH, maravilhados com o circuito em torno da Cordilheira, o próximo destino seria El Chaltén, cidade com 600 habitantes considerada a capital argentina do trekking. Ainda em Puerto Natales, após um dia lavando as roupas e outro descansando, antecipamos a separação do grupo Volátil. Explico: É que eu e Mayra voltaríamos dia 27 ao Brasil, já com passagens compradas, enquanto Xuxa e Rô continuariam a viagem por mais um mês. Como o Xuxa queria comprar um fogareiro novo (Primus), depois do acidente com seu antigo coleman, e era Domingo, ele e o Rô ficaram mais um dia para esperar as lojas abrirem (os dois são os mais empolgados com equipamentos de aventura). Segunda, assim, eu e Má partimos rumo a Chaltén, onde pesquisaríamos as caminhadas possíveis para os próximos dias. Ok.
Por
Tchibum
Um rápido mergulho no Rio de Las Vueltas muita sorte ou sensatez das autoridades, há na cidade dois campings gratuitos e não é necessário pagar para entrar no Parque Nacional los Glaciares. Por sorte, fazemos questão de comer bem e compramos toda a comida em El Calafate, cidade onde fizemos baldeação até Chaltén. Todos esses fatores permitiram que pudéssemos curtir esse lugar lindo sem maiores problemas já que, por distração, nos esquecemos de levar dinheiro vivo para Chaltén, que não tem caixas eletrônicos. Assim, nossos gastos ficaram limitados aos poucos pesos que nos restavam e aos estabelecimentos que aceitavam pagamento com cartão. Nem por isso o Cerro Torre esteve menos imponente, tampouco a visão do Cerro Fitz Roy foi menos deslumbrante.
Digão e Xuxa chegaram na terça-feira, e no dia seguinte saímos cedo na caminhada de 3 horas até a Laguna Torre, próxima à montanha de mesmo nome. Ao longo da caminhada, os três picos em forma de agulha se escondem e tornam a aparecer diversas vezes, como tímidas entidades a evitar a exposição aos turistas estrangeiros. Quando se chega à melhor vista, que parece perfeita, só então a lagoa se mostra, brilhante a refletir o Sol nas águas vibrantes de vento e nos blocos soltos de
Antes...
momento de descrença com o Fitz Roy cinza... gelo nas margens, filhotes de icebergs.
Na Laguna torre encontramos novamente os amigos de São Carlos, Julia, Amanda e Feijão, com quem combinamos uma caminhada noturna para o dia seguinte. O destino: Cerro Fitz Roy, que durante 7 minutos, no arrebol, tem suas paredes coloridas por um vermelho intenso, em lugar do costumeiro acinzentado da rocha. Mas antes, a quinta-feira foi dia de tomar banho de rio!! Com o Sol forte, criamos coragem, os três homens, e caímos nas águas glaciais (originadas com o derretimento de geleiras alpinas) do Rio de Las Vueltas. De lavar a alma!!!
Era para termos dormido cedo, mas quem disse que dormimos? Com a saída prevista para a meia noite, quando desapareciam os últimos raios solares, sendo que é impossível tirar um cochilo à tarde com o Sol causticante, só cochilar foi possível. Para quem tentou, o que não foi o meu caso, nem o do Xuxa. A Lua cheia, o clima agradável, saímos à uma como quem vai passear no bosque. As lanternas nem eram necessárias, permanecendo apagadas quase todo o tempo. A caminhada é tranquila durante as primeiras três horas, mas depois começa a subida, que de repente se torna muito
...e depois
...e a explosão vermelha!! íngreme e num terreno difícil, composto por blocos soltos de pedra em um caminho marcado por estacas para evitar atalhos geradores de erosão. Em número de sete, teríamos sete minutos de Fitz Roy vermelho, e apressamos o passo. Chegamos às cinco ao mirante, recomendação dada pelo dono da companhia de ônibus, e nos posicionamos para o espetáculo. Passou meia hora. Passou uma hora. O corpo esfriou e colocamos todos os agasalhos que havíamos levado. O Sol dava sinais de que estava a caminho, mas da mesma forma avisava que não tinha pressa. 6:30, 7:00. A essa altura já não acreditávamos que a montanha ficaria vermelha, convictos de que as fotos nos postais eram forjadas e revoltados com o inventor do Photoshop. Foi então que, às 7:22, como por mágica, o topo do Cerro enrubesceu. Pasmamos. Aquela pontinha rubra começou a contagiar a montanha, descendo devagar até a colorir inteirinha. Nossa felicidade extravasou. É só olhar para as nossas caras na hora em que perdemos a esperança de ver o Fitz Roy vermelho e, momentos seguintes, quando o vimos assim, para entender.
Missão cumprida, então já poderíamos voltar, certo? Não com Los Volátiles. No último dia com o grupo reunido,
Próximo ao Rio Elétrico
caminhamos tanto que saímos dos limites do parque queríamos o Gran Finale. Nos lançamos em uma caminhada de mais 6 horas até o rio Elétrico. Cambaleantes, e satisfeitos, seguimos pelas matas de árvores enormes, muitas delas rachadas e caídas por terem sucumbido ao vento, e pelas rochas na beira dos rios, saltando-as quando necessário. Já esgotados, chegamos à propriedade particular que dava acesso a um glaciar recomendado pelo Erik, mas não tínhamos nem energia nem dinheiro para seguir. Então voltamos. No caminho de volta, alegria aflorada, voltamos a ser crianças, brincando pela mata, e até cantando algumas canções para não dormir em pé.
Terminava a mítica jornada de quatro amigos pelas terras geladas do Sul.
Uma amiga me disse que nunca havia se interessado pela Patagônia, mas que as nossas estórias a instigaram um bocado. Nas vezes em que viajei de bicicleta, alguns dos momentos de maior satisfação se deram ao me deparar com o olhar perplexo de uma criança ao ver chegarem os extravagantes forasteiros. No brilho dos olhos infantis, iminência de um desabrochar, eu me realizava. Despertar sonhos, de viagens e de tudo o mais, passou a ser, para mim, uma busca.
Que espero disseminar.
com abraços e beijos,
Rafael
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