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Quando decidimos incluir Macedônia e Albânia no roteiro, demos um tiro no escuro. Sem nunca ter ouvido falar de alguém que já tivesse ido para qualquer um desses países, e considerando que as noticias sobre ambos em jornais, revistas ou blogs de qualquer parte do mundo são mais do que escassas, não fazíamos idéia do que viria pela frente. Esperávamos cenário parecido em ambos, com alguma natureza bonita, dificuldade de locomoção e, certamente, desorganização, pobreza e sujeira.
Mais uma vez, estávamos errados. Apesar da fronteira comum e do passado comunista, são dois universos paralelos. No primeiro, limpeza, beleza, povo simpático e nada de pobreza à vista; no segundo, o oposto: sujeira e mais sujeira, gente da máfia em todo canto, mais Mercedez por metro quadrado do que é possível imaginar, alguns mendigos (em geral ciganos) e pouca, bem pouca, beleza natural - dizem que as praias do litoral sul são lindas, mas não pagamos pra ver...
Chegar aos dois países por si só já foi uma aventura. Daquelas de filmes, onde tudo se encaixa perfeitamente por mais que você esteja esperando o contrário. Depois de cortar a Bulgária por questões logísticas, imaginamos que nos transportar da Turquia para o
leste europeu seria um pouco mais simples. Não foi. A epopéia começou às 9h de um dia e só terminou às 17h do outro, depois de um trecho de uma hora de carro, mais outra de avião, longas horas num trem até a Grécia, outro trem dentro do país, um taxi até a fronteira grega com a Macedônia, uma caminhada de 400 metros em zona neutra, mais um taxi, um ônibus velho com velocidade média de 35 km/h, e ufa, finalmente atingimos a agradável Ohrid, cidade turística mais famosa da Macedônia, se é que é possível dizer isso.
Macedônia As surpresas começaram logo na fronteira. Morros com picos nevados por toda a parte, muito verde e um povo extremamente prestativo - o mesmo funcionário da alfândega que carimbou nossos passaportes se ofereceu para chamar um taxi pra nós e depois veio descrever o carro, avisando que chegaria em dez minutos e em qual dos banquinhos com vista para as montanhas deveríamos esperar. De lá até nosso destino final foram mais três horas em um ônibus muito lento e paisagens estonteantes.
Em Lake Ohrid (Ôcrid, como se pronuncia por aqui), as surpresas continuaram. Cidadezinha tranqüila, estupidamente barata (nível
Ásia), muito limpa, à beira de um lago lindo e vistas de tirar o fôlego. Escolhemos o local como base para descansar uns dias antes de continuar a viagem e encontrar cinco amigos brasileiros que vão se juntar a nós por um mês. Passamos aqui uma semana tranquila, fazendo turismo a conta gotas: duas igrejinhas num dia, catedral à beira do lago em outro, monastério de 1000 anos na quinta-feira, fortaleza da cidade na sexta, e por aí vai.
Diversas vezes nos sentimos como se voltando no tempo ou participando de um filme. Carros de 40 anos (ou mais) circulam por todo canto, cruzando muralhas e ruelas cheias de casas de pedra. Senhores conversam na praça vestindo seus ternos e chapéus dos anos 60. Todos se conhecem e se cumprimentam pelas ruas.
Com todo esse tempo para explorar a região, também pudemos observar com mais calma a cultura e rotina dos locais. Mais impressões positivas. Além das belezas naturais e antigas construções, nos surpreendeu a simpatia dos moradores e a limpeza do país. Recém liberados de visto para todos os países da comunidade européia, os macedônicos conseguiram, em poucos anos, atender às exigências feitas pela UE para conceder
tal benefício, como combate à corrupção e melhoria da infra-estrutura. Para se ter uma idéia, quatro outros países também foram avaliados no mesmo período (desde o começo da década). Dois deles, Bósnia e Montenegro, foram aprovados com ressalvas, e os outros, Albânia e Sérvia, negados, ainda precisam pagar para entrar em quase todos os vizinhos de continente.
Além disso, o país tem um programa governamental para baratear tratamentos médicos e odontológicos que atinge não só locais como todos os visitantes. O resultado disso é que ingleses, alemães e australianos deixam seus países e vêem à Macedônia apenas para voltar para casa com a boca recauchutada. Felipe, já que estava de passagem, foi um dos beneficiados. Gastou US$13 e acabou com a dor que o incomodava há uns quatro dias.
No geral, com o perdão do trocadilho, a informalidade aqui é a regra. Na van lotada, com malas, sacolas e pessoas amontoadas, tiazinhas sentam no cantinho de bancos já ocupados sem pedir licença enquanto turistas (no caso, Felipe) fazem as vezes dos cobradores; na feira livre, sem entender uma palavra que não seja de macedônico, a feirante chama o amigo da banca ao lado pra ajudar na venda aos
turistas; no local onde nos hospedamos, o dono da pensão discorre uma hora e meia sobre sua mais recente decepção amorosa ao se despedir dos visitantes (nós) que conheceu há cinco dias e sua mãe nos instrui a regar as plantas da varanda.
Para completar nossas surpresas, encontramos aqui o viajante mais pitoresco que já cruzou nosso caminho. Tony, um inglês de 31 anos, já conhece 50 países do globo, incluindo aí todos os estados dos EUA. Dorme em albergues, gasta o mínimo possível e anda de ônibus pra todo canto. Tudo como um mochileiro normal, não fosse um simples detalhe: Tony é totalmente cego e 80%!s(MISSING)urdo desde que nasceu. Sempre contando com a ajuda de locais por onde passa, tem registros fotográficos e escritos de todas as suas aventuras e registra tudo isso num blog. Para quem tiver curiosidade de conhecer um pouco mais sobre ele, segue o endereço:
www.tonythetraveller.com.
Albânia De um monastério na divisa dos países à beira do lago já dá pra perceber que a Albânia é, no mínimo, um lugar mais humilde que a Macedônia só de observar duas cidades vizinhas, uma de cada lado da fronteira. Depois, não são precisos
mais do que dez metros em solo albanês para perceber que mudamos de país. Lixo se acumula nos cantos da estrada, cemitérios de carros, furgões remendados e prédios feios dominam o visual.
Sem exagerar, podemos dizer que nos sentimos quase como que voltando à Ásia. Sujo, caótico e à primeira vista sem regras - sejam elas de trânsito, de vendas ou de qualquer outra coisa -, o país tenta renascer de uma guerra civil recém-terminada. Tirana, a capital, está inteira em construção. Há um plano para modernizar os prédios e construir projetos com arquitetura revolucionária. Por enquanto, tudo no papel.
Hoje, Tirana é uma cidade ainda sem pontos turísticos bacanas e até feinha. A maior atração são as fachadas dos prédios coloridas ou pintadas com diferentes desenhos. Essa foi a forma criativa que os moradores encontraram para quebrar um pouco o cinza deixado em todas as construções por tantos anos de comunismo, tido à época como o mais fechado do planeta.
Algumas poucas ruas se salvam. Tomadas de bares moderninhos, ficam lotadas o dia inteiro, não importa se segunda ou sábado, de jovens bebendo, conversando e exibindo seus Mercedez. A pergunta é: de onde vem o dinheiro
dessa gente, que joga conversa fora 17 horas por dia e não trabalha, num país pobre e em reconstrução? São os “filhos” da máfia, a segunda maior da Europa, que, segundo boatos, é hoje quem comanda o país enquanto faz negócios com Itália, Rússia e outros.
Ao que tudo indica, vai demorar uns bons anos ainda para que a Albânia consiga atingir todas metas da EU. O povo tenta fazer sua parte. Simpáticos, ainda que carrancudos, contam histórias e tentam convencer todos os viajantes a passar pelas belas praias do sul, o destaque do país. Não foi dessa vez. Quem sabe daqui uns dez anos...
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Heather
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I couldn't read your post but I really enjoyed your photos! I've always wanted to go to Macedonia, and it looks beautiful! Heather :) dirty-hippies.blogspot.com