Advertisement
Published: October 4th 2010
Edit Blog Post
Com o final de semana se aproximando e a
carte jeune enfim feita, comecei a planejar o próximo passeio. A ideia original era passar os dois dias em Bayonne, a capital do País Basco francês, mas deparei-me com a falta de uma hospedagem disponível e barata. Tentei ainda o couchsurfing, mas como estava meio em cima da hora e eu estava sem internet em casa, não deu certo. Felizmente, eu tinha o meu “plano B” - não era um grande plano, na verdade: havia visto sugestões de passeios com os trens locais (os
TER Aquitaine ), dentre as quais
Dax, famosa como a primeira cidade termal da França. Na hora pus na minha cabeça uma cidade repleta de piscinas e fontes, e visualizei-me relaxando numa delas. Era verão ainda, estava quente, então ótimo!
A viagem de trem, cerca de 1h20, atravessa o
Parc Régional des Landes de Gascone, essencialmente uma enorme floresta de pinheiros...
artificial. Antigamente o terreno era um imenso areal, desértico e movediço, de forma que o próprio imperador Napoleão III ordenou o plantio de pinheiros a fim de secar o solo e tornar a região aproveitável. Atualmente, trata-se da mais vasta floresta europeia, mas essencialmente uma ‘floresta de
produção’, onde predominam a indústria da resina e atividades agropecuárias. Assim, a paisagem da janela resumia-se à floresta de pinheiros, entrecortada aqui e ali por plantações, especialmente de milho. No trajeto, a alternância entre sol e neblina forte fizeram a paisagem, em princípio monótona, ganhar mais variações.
Dax, cidade termal
“Un légionnaire romain, en garnison à Dax, partant combattre en Espagne, jeta dans l’Adour son vieux chien, perclus de rhumatisme. À son retour, il fut accueilli par son chien gambadant. Les sources chaudes des berges du fleuve où la bête avait échouée avaient accomplit ce miracle. La nouvelle se propagea à Rome et l’impératrice Julia Augusta profita du bienfait des eaux. Dax, cité thermale, était née.”
Dax situa-se às margens do rio Adour, no sul do departamento de Landes, sudoeste da França, e possui ampla reputação como centro termal. Diz-se que os benefícios das águas da cidade vêm desde a época dos romanos, e foram descobertos acidentalmente por um soldado após este ter seu cão miraculosamente curado de um terrível reumatismo. Independente se lenda ou não, isto é o que está registrado no chão da praça da catedral, ao lado de uma simpática estátua de um soldado de joelhos sendo saudado por seu cão (que faz tanto sucesso com as crianças que nem cheguei a tirar foto).
O símbolo da cidade é a
”Fontaine Chaude”, ou fonte quente, que se localiza em pleno centro e deve sua fama (e seu nome) às suas águas que afloram, com uma vazão de 2.400.000 L/dia, a uma temperatura de
64°C!
Não crente de que eles deixariam uma água quente assim tão à disposição, tive que pôr a minha mão para conferir... deixo a cargo de vocês imaginarem a cena. Felizmente eu não era o único turista desconfiado ali, e observar as variadas reações das demais pessoas foi, sem dúvida, muito engraçado! Os arredores da praça, hoje uma área turística, com bares e lojas de lembrancinhas, eram antes a região dos açougueiros, que se aproveitavam da fonte para cozinhar os ovos e depenar as aves.
Nas manhãs de sábado ocorre o grande mercado da cidade, distribuído ao longo de algumas praças e ruas. A princípio, ainda mais considerando a experiência em Bordeaux, a ideia que me vinha ao pensar em um mercado francês era inúmeras barracas coloridas vendendo legumes, frutas, pães e produtos típicos da região, como algum queijo ou patê. Ou seja: comida, essencialmente. Qual não foi a minha surpresa ao, logo na chegada, deparar-me com barracas de bolsas e toalhas, esquisitíssimas, por sinal. Um pouco adiante... sapatos. Livros. Carteiras. Panelas. Mais adiante, numa outra praça, sim, surgiram os vendedores de produtos regionais (como o foie gras e cremes terapêuticos). Ufa! Ainda mais adiante havia ainda uma ala de
verduras e uma seção de flores. Saí dali com a sensação de ter passado num Carrefour a céu aberto, tamanha era a variedade de produtos à venda!
Após ver tantas tentações, nada melhor do que almoçar. Parei numa creperia situada no
‘Balcon de l’Adour’, uma espécie de terraço construído às margens do rio, local com aspecto simpático e visual agradável. Para compensar a minha ‘não ida’ ao País Basco, pedi uma entrada com
‘Jambon de Bayonne’, uma espécie de presunto típico de lá, bem saboroso.
Pela proximidade, percebe-se fortemente influências bascas e espanholas na cultura local, o que é evidenciado não apenas nos menus dos restaurantes, mas sobretudo pela presença de uma arena de touros na área central. Com capacidade para 8000 pessoas, o local ainda abriga inúmeras atividades, especialmente competições de
“Course landaise”: um esporte (digamos assim) tradicional que consiste em desviar do animal de todas as maneiras possíveis, desde lateralmente até saltando sobre ele! A presença dessa mistura cultural ficou explícita ao observar, na praça da Arena, um grupo de senhores (de boina!) jogando
pétanque, um esporte tipicamente francês. Poderia dar uma bela foto, mas na hora as condições (iluminação, enquadramento) não eram favoráveis, então fica a
Uma rua na cidade
Com a estátua "L'écarteur", que mostra uma das formas de se desviar do animal na Course Landaise. dica para uma próxima vez. Imagino que seja uma cena comum nos finais de semana.
Falando nisso, as tardes de sábado, em uma cidade como essa, de interior, são o momento em que as pessoas se reúnem nas praças - todo o tipo de pessoas. Parei uma hora na praça em frente à prefeitura e fiquei observando: senhoras descansavam e tricotavam nos bancos, jovens reuniam-se à sombra para conversar, e num canto convidados arrumados e curiosos saudavam os noivos recém-casados. Enquanto o casal partia em uma bela limousine branca, uma menininha de vestido pôs-se a correr atrás da bola no gramado. Eu ali, saboreando o meu ‘piquenique’ (uma maçã e um chocolate). Cada um à sua maneira, estávamos todos serenos, aproveitando o final da tarde - é o que importa, afinal.
Do meu banho nas piscinas termais antes imaginado, não consegui mais do que molhar as mãos e o rosto nas fontes (felizmente nem todas eram quentes), mas valeu o passeio. Fui seco, voltei seco, é verdade. Mas cheguei em casa, tomei um banho, e estava resolvido o problema. 😱
Advertisement
Tot: 0.073s; Tpl: 0.011s; cc: 13; qc: 29; dbt: 0.0289s; 1; m:domysql w:travelblog (10.17.0.13); sld: 1;
; mem: 1.1mb
Angela Vega
non-member comment
França de braços abertos!
Oi Luis, tenho lido o seu blog e fico muito feliz ao saber que você tem aproveitado bastante. Alem disso, tenho a oportunidade de aprender e conhecer a cultura das cidades através dos seus passeios. Tudo muito bem escrito ! Um grande beijo e muito sucesso para você . Semana que vem embarco para Paris e depois vou ao encontro do Daniel matar as saudades. Angela Vega