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O barco desliza ligeiro pelas aguas esverdeadas do Mekong. Leva mais "farang" (ou "falang", como aqui se pronuncia, que significa "brancos") do que Lao. E uma viagem de dois dias, rio abaixo rumo a Luang Prabang, com pernoita. O ritmo e sonolento, ao som do motor, e os passageiros dormitam aconchegados na brisa morna, fim da tarde. Das margens ameacam umas rochas negras e pontiagudas, que o homem ao leme evita habilmente, a frente do barco. E navegacao a vista! A rocha xistosa e a corrente forte do rio a serpentear nos montes faz-me imaginar rabelos a descer o Douro, carregados de vinho, num tempo sem estradas ou barragens. Aqui o rio ainda compete com as estradas. Dos rochedos pendem canas de bambu, armadilhas de pesca dos aldeaos. De repente, uma aldeia no meio do monte verde, as casas sao de bambu sobre estacas. Na margem, os meninos correm nus e salpicam e mergulham e gritam e acenam no rio. Na agua lava-se tudo: corpos, louca, roupa... e pesca-se. Uma menina Lao, pele escura cabelo desalinhado olho preto, observa calada uma menina loirinha alema muito conversadora, com uma boneca na mao. A mae chama. O barco para numa praia no meio
do mato. Poe-lhe um saco azul a cabeca que a faz curvar-se toda joelhos e costas, e seguem as duas, carregadas, por caminho de terra que se perde no meio das arvores e da montanha.
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Luang Prabang e um miminho colonial, com os templos budistas a relaxar eternamente a beira rio, onde os franceses deixaram baguetes e crepes. O ritmo da cidade e lento como um poema ao sol. Varandinhas deliciosas, jardins tropicais, ruelas. Os barcos parecem folhas longas e coloridas, esquecidas a deslizar no rio. Ainda cheguei a tempo de ver festa e bonitas procissoes do fnal de ano novo, com toda a gente trajada a rigor, a dar banho ao Buda em praca publica e depois a escolta-lo para a "sua casa" (num museu).
Mas a maior parte do tempo passei em Nong Kiaw, depois de subir o rio Nam Ou que corre entre floresta virgem e penhascos abruptos de rocha calcaria, natureza imponente. A aldeia viva, cheia de jovens, adormece ao luar, aninhada nas silhuetas negras das montanhas em redor. Muita paz. Tempestades repentinas seguidas de sol radiante. Acompanhar, no rio em espelho, os pescadores nas canoas ou a pe atras da comida
de cada dia. Os banhos no rio, com os locais em cavaqueira, ao final do dia, com cheiro a sabao. Lavar a roupa no rio. Caminhar pela selva, a simpatia e historias dos guias locais, partilhar a vida dura e simples das comunidades locais. As criancas em bandos, as gargalhadas quando eu tocava a flauta de bambu. Levei uma bola e baloes e foi uma alegria ate ao sol se por! Uma fogueira com os adultos. Lao-Lao (whisky de arroz). A senhora fia o algodao da plantacao. Os teares trabalham debaixo das casas nas horas mortas. Cedo erguer, plantar arroz na montanha, dores nas costas,calos nas maos, todos se divertem com o "falang". O arroz "sticky rice" e os sabores excelentes, e o prazer das refeicoes partilhadas e do convivio: saladas de ervas da selva, peixinho do rio acabado de pescar, algas, os insectos ficaram por provar... A simplicidade e o acolhimento generoso (Esta gente sabe viver!) e uma melodia calma e deliciosa que parece brotar da terra, das montanhas, dos rios, do bambu, das aldeias.
Hoje nao ha excessos mas o desenvolvimento esta a porta: investimento chines (barragens, pontes, os produtos,...) , daqui a 20 anos nao sei
se este pais se reconhece.
Deixo o Laos com saudade, olhando, pelo vidro do autocarro acoitado de gotas grossas da chuva, as montanhas verdes cheias de arvores, a terra queimada (agricultura de corte e queimada), as expressoes das pessoas. O autocarro ja vai cheio de chineses e de manhazinha estaremos na China, em Kunming.
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