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Se fosse possível ver exatamente onde a Garganta do Diabo, a maior das cachoeiras do complexo de Iguaçú e cujo nome é auto-explicativo, termina, o local seria provavelmente muito parecido com Ciudad del Este. Esta pequena cidade paraguaia, que faz parte da Tríplice Fronteira com Brasil e Argentina, está no imaginário muambeiro assim como Machu Picchu está no dos mochileiros. É um emaranhado de lojas, pessoas, outdoors e sacolas, uma grande 25 de Março com produtos que valem a pena, de preços inexplicáveis e cuja experiência chega a ser intensa.
Tudo começa na travessia da infame Ponte da Amizade. Enquanto a que separa Brasil e Argentina, a Tancredo Neves, é impecável, com as bandeiras dos dois países pintadas lado a lado indicando onde começa o território de um e termina o do outro, com um belo rio e turistas tirando fotos, a estrutura que liga Brasil e Paraguai é um inferno. Tivemos o azar de enfrentar uma tempestade, que deixou o cenário ainda mais horrendo. Dos dois lados, um trânsito de taxistas, ônibus de excursão, lotações e carros de locais indo e vindo na "fronteira". As aspas se devem ao fato de que você entra e sai do vizinho e
Cidade del Este
Paraíso do contrabando em nenhum momento te param ou pedem qualquer documento.
Isso sem contar o tráfego intenso de pedestres carregando suas sacolas e passando ao lado da Polícia Federal, que muitas vezes fazia vistas grossas. A ponte parece ter saído dos games Silent Hill. Começa com uma grade de proteção, que vai se tornando esburacada, enferrujada e decrépita até sumir, do lado paraguaio. A proteção contra queda é mínima, e olha que a distância até o rio abaixo é bastante considerável. Outra opção seria atravessar de carro, mas além de enfrentar uma longa fila, o seguro do automóvel não alcança o vizinho, e consta que a regra no Paraguai é na base do "la garantia soy yo". Não resolvemos arriscar.
Ciudad del Este em si, apesar de todas as descrições que ouvimos, não é assim tão tenebrosa. Lembra esses pontos de muamba em São Paulo. Mas como disse o Júlio, o que pega aqui é o clima. Tem-se a sensação de que a qualquer momento sua mochila pode ser arrancada ou que alguém pode te dar um golpe, o que de fato acontece. No mais, é tanta gente, carros, camelôs e shoppings que fica difícil decidir onde ir. As pessoas
Muambeiro
Rocco banda na sacola andam tão rápido que a sensação é que estão fugindo de alguém. Talvez da cidade. Depois de um tempo de ambientação, resolvemos relaxar e até tirar fotos.
Talvez pouca gente saiba, mas Foz e essa região da Tríplice Fronteira abrigam a maior comunidade muçulmana do Brasil. Vimos algumas mulheres com lenços cobrindo a cabeça, existe uma grande mesquita aberta para visitação e a maioria das lojas em Ciudad del Este é administrada por libaneses (nos disseram também coreanos, mas não vimos nenhum). Muitas também são tocadas por brasileiros, que moram em Foz, e farejamos as mais honestas e com preços convidativos para comprar alguns brinquedinhos. Tomamos um golpe aqui, uma proposta (recusada) de pagar 50% adiantado e receber a mercadoria no albergue sabe deus quando, mas no geral foi bem tranquilo.
De volta a Foz, um programa ultraturístico e um bem low profile e fora da rota. No primeiro, visitamos a hidroelétrica de Itaipú, considerada uma das sete maravilhas da engenharia moderna e cuja visita é mais do que recomendada. Para quem perdeu a aula de geografia, Itaipú é um projeto binacional iniciado nos anos 70 que fornece 90% de toda a energia consumida no Paraguai e 19%
da usada no Brasil. É um colosso de pedra e concreto, alimentado por um lago de 184 metros de profundidade. O passeio percorre, de ônibus, estradas que passam por todas as estruturas da usina, inclusive pelas comportas, que por uma sorte do destino, estavam abertas naquele dia (na verdade, apenas uma), já que em 90% das visitas elas são mantidas fechadas. É uma atração natural construída pelo homem, se é que isso é possível.
Fora da rota, passamos em um templo budista bem bacana nos arredores de Foz, com milhares de estátuas do mundo inteiro. Os monges são da China e Taiwan, outra característica dessa região que adora misturar povos e línguas. Moram por aqui imigrantes de mais de 85 países.
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Julio
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contrastes
Lembro bem dessas experiências contrastantes...em um dia, o inferno em ciudad del este com os muambeiros, no outro, uma calma celestial no templo budista com os monges que só ouvíamos cantando ao longe. Lembro também daquela bizarrice daquele "melhor shopping duty-free do mundo" entre Brasil e Argentina, onde os funcionários devidamente uniformizados, desde atendentes das lojas até os seguranças em cima daqueles carrinhos móveis controlados À mão, começavam a cantar ópera do nada e depois as senhoras tradicionalistas Argentinas com coláres de pérolas os aplaudiam. Seria o purgatório?