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tempestade
isso foi soh o comeco, ficou pior minutos depois Primeiro, sobre como não chegamos a Olympos. Pegamos um ônibus tenebroso da Capadoccia e, muitas horas mal-dormidas depois, chegamos ao aeroporto de Antalya, centro-sul da Turquia. Por sorte, não iríamos voar, mas pegar um carro que havíamos alugado dias antes por um preço bem razoável na Internet. O objetivo era dirigir, pelos próximos 11 dias, por todo o litoral turco que realmente interessa, da famosa Riviera Turquesa até um pouco mais acima, perto da Grécia, no Mar Egeu.
Deixamos Antalya de lado e caímos na estrada, felizes por termos um porta-malas, o que significava poder arrumar as nossas malas de qualquer jeito (e jogar todo o resto lá dentro), e um companheiro que nos permitiria chegar a rincões mais isolados sem a necessidade de ter de arrumar transporte a cada dois ou três dias. Meia hora depois, já excitados com uma paisagem de altas montanhas rochosas, picos nevados e um mar de água azulzinha que começava a se descortinar à nossa frente, avistamos as primeiras nuvens carregadas. Tínhamos pouco mais de 100 km até nosso destino, e já que a chuva não vinha, decidimos continuar, ainda sem preocupação.
Mas o cinza do céu se transformou em preto, e as
primeiras gotas tornaram-se tempestade em poucos minutos. A nossa atenção redobrada (a Turquia tem o segundo maior índice de acidentes automobilísticos da Europa) virou apreensão quando as primeiras pedras começaram a atingir o carro. Eram granizos, e dos grandes, que caíram ininterruptamente por uns 25 minutos. Na dúvida, já bem nervosos, decidimos seguir os turcos, e paramos quando todos pararam, tentando nos esconder, inutilmente, debaixo de algumas árvores. Quando o granizo deu uma trégua, ainda atrás dos locais, seguimos adiante. Talvez fosse melhor termos ficado estacionados.
Chovera ao menos o quádruplo de pedras na direção em que dirigíamos e a estrada estava completamente branca de gelo. Não sabíamos o que era pior: quando ele, evaporando, provocava uma névoa branca que nos impedia de enxergar o carro da frente, ou quando, derretido, fazia todos os carros patinarem. Para piorar, rochas começaram a cair das montanhas do lado da estrada e virar obstáculos pelo caminho. Mas Deus não quer mesmo que morramos nesta viagem e, após uma boa hora e meia de pânico, com turcos malucos derrapando e ultrapassando pela direita, o céu começou a abrir.
Com as nuvens negras nos seguindo, sair da estrada principal e cair em uma
secundária em direção a Olympos não parecia uma idéia apropriada para o dia e, fora do roteiro, fomos para Finike, nossa primeira parada na costa. Surpresa relativamente agradável, Finike é a primeira de ao menos cinco ou seis cidades da Riviera que vivem basicamente de turismo. Além do mar, atraem boa parcela de viajantes por causa de suas ruínas (aqui era a antiga Lycia, uma federação de cidades que data de 168 antes de Cristo e com princípios democráticos tão vanguardistas para a época que até influenciaram a Constituição dos Estados Unidos).
Agora, sobre como chegamos a Olympos. Uma estrada de 9km no meio das montanhas leva a uma delícia de vilarejo chamado Olympos. O cenário é sonho de consumo de qualquer hippie. Florestas dominam as grandes montanhas e um rio de água clara corta o vilarejo ao meio, fazendo com que as pessoas tenham de cruzá-lo (de carro, ônibus ou a pé) para chegar até as pousadas. Uma lei local impede o uso de cimento, e todas as construções são feitas de madeira. Casas em árvores são algumas das atrações locais. Todo esse cenário já tornaria o lugar um ótimo refúgio de inverno. Somando-se a isso, seguindo o
rio no meio de tumbas, portais e paredes de uma cidade da antiguidade, chega-se a uma praia que explica o porquê de a região ser conhecida como a Riviera Turquesa. Um clima zen domina o lugar, invadido pela moçada turca mais alternativa.
Foi aqui também que fizemos um dos passeios mais inusitados da viagem. Às nove da noite o motorista da van chegou à pousada. Dirigimos meia-hora ziguezagueando pelas montanhas e, após cruzar um vilarejo vizinho, paramos. Com lanternas na mão, começamos uma trilha morro acima. A recompensa veio meia-hora depois. Jatos de fogo saem de buracos na pedra, segundo dizem, pela alta concentração de gases nas camadas rochosas. O fogo de Chimera, que faz parte da mitologia grega como um monstro de três cabeças, perdeu um pouco da intensidade nos últimos tempos, mas está ativo há milhares de anos e ainda atrai muitos malucos para uma roda de violão aquecida por uma fogueira natural. Faltou apenas uma bica com vinho barato para Olympos ganhar o título de capital mundial do bixo-grilo.
Com o dedo na Kumluca Depois de todo o cansaço do ônibus da Cappadocia, da direção na neve e, vamos ser sinceros, depois de quase
três meses na estrada, nosso organismo resolveu dar outra travada. Conversando com a assessora para Assuntos de Saúde do blog, Dra Neuci Barboza Chiquetto, resolvemos que era hora de fazer um exame para saber se estávamos com algum verme no intestino que nos dava fraqueza e, para bom entendedor, deixava tudo meio mole. Mas como fazer um exame desse no sul da Turquia, onde as pessoas mal falam bom dia em inglês? Segue a epopéia...
Apo, o prestativo dono da pousada em Olympus, tinha um amigo que trabalhava no hospital de Finike que nos auxiliaria com o exame e daria o resultado no mesmo dia. Dirigimos de volta para a cidade que nem sabíamos que existia antes dos granizos, mas como era feriado, explicou o médico, o laboratório estava fechado e só reabriria em dois dias. Estamos na merda, pensamos. Mas o amigo tinha um amigo em outra cidade, Kumluca, que estava trabalhando naquele dia. Kumluca é aquele tipo de cidade que você se sente infeliz só pelo fato de ter de cruzá-la, um misto de prédios turcos horrorosos e locais esquisitos. Ter de usar uma latrina por lá não era uma perspectiva muito animadora. Mas lá fomos nós
para o abate. O médico nos examinou, incluiu um exame de sangue na Clarice, e deu o resultado: estamos firmes e fortes, sem nada no organismo. Detalhe: ele não fala qualquer palavra em inglês. É por essas e outras que concluímos: viajar pelo mundo é fácil, difícil é fazer exame de fezes em Kumluca e ainda entender o diagnóstico em turco.
Para completar o festival de bizarrices dessa etapa, um dia depois da tempestade, duas alemãs meio hippies, meio ciganas, se ofereceram para uma carona em nosso carro. Tinham chegado no local das ruínas, distante diversos quilômetros da cidade mais perto, com um amigo e sido deixadas lá. Como fomos os únicos a aparecer horas depois, sobrou pra gente deixar a dupla em um local civilizado. Mais uma vez, Finike foi incluída no trajeto.
Próxima parada: só Deus sabe Próximas férias: Disneylândia
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Juninho
non-member comment
Pirei !!