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Published: September 26th 2010
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Desde os tempos da faculdade de História que tenho vontade de conhecer as missões jesuíticas. Várias vezes planejei ir com meus amigos até São Miguel Arcanjo, no Rio Grande do Sul, pra ver de perto as ambições dos padres que chegaram ao Brasil no século XVIII e aqui pretenderam criar uma sociedade cristã utópica.
Mas até hoje essa viagem não saiu, então tive que ir sozinha conhecer as missões paraguaias. Foi uma viagem meio estranha, meio incomum (por causa da falta de estrutura turística do país), mas nem por isso menos interessante.
1º DIA
(sábado, 16/01)
Comecei o dia saindo de Posadas, na Argentina, e indo até a cidade de Encarnación, do outro lado da fronteira. Como sai cedo do albergue, tive que tomar café na rua - e como estava sem dinheiro, tive que me contentar com chipas. A primeira vez que comi chipas foi na aduana, quando desci do ônibus pra carimbar os formulários de entrada. Comprei um saquinho por dois mil guaranis e, imediatamente, me apaixonei por aquilo.
Chipas é como um pão de queijo sem o queijo; um bolinho de polvilho assado, que pode ou não vir com erva doce. Muito bom - ou
talvez tenha sido a minha fome. O preço das chipas ia diminuindo conforme eu entrava no país, e eu aproveitei pra fazer a festa. Voltei para Argentina com dois sacos enormes do pãozinho. Até consegui uma receita com uma paraguaia que conheci, mas minha memória não me ajudou nessa e eu esqueci completamente.
Voltando. Depois de passar pela fronteira e trocar alguns pesos por alguns guaranis, fui procurar a rodoviária de Encarnación e comprar passagem (5.000 guaranis) para ir até Santisima Trinidad. A rodoviária era caótica, lotada de pessoas esperando ônibus, cheias de sacolas, e vendendo tudo que eu podia imaginar. A toda hora saiam linhas sentido Asunción e Ciudad del Este, e foi num desses que entrei.
Ele se parecia com um ônibus de turismo antigo (bem antigo mesmo, que não vejo circular pelo Brasil a um bom tempo), com estofados rotos e um corredor minúsculo, que mal cabia uma pessoa em pé. Falo isso porque pouco tempo depois os assentos acabaram, e eles começaram a colocar passageiros em pé - além do cobrador, que andava pra lá e pra cá pegando o dinheiro de quem ainda não tinha pago.
A viagem demorou aproximadamente duas horas,
e a vista da janela era como uma cidade do interior de Minas Gerais. Por isso fiquei surpresa quando o cobrador me disse que eu tinha que descer no próximo ponto e virar a direita pra chegar até as ruínas. Não tinha nada nos arredores, como podia ser lá?
Fui na fé e desci do ônibus, no meio de uma estradinha sem nada ao redor, sem carros, sem posto de gasolina, supermercados, hotéis ou qualquer coisa que encontramos em locais turísticos. Subi uma ruazinha de terra, passei por uma plantação de mate e criações de galinha e finalmente cheguei.
É enorme. O tamanho das ruínas e o fato de não ter absolutamente nada perto delas dá um clima grandioso, como se eu estivesse dentro de um cenário de filme épico. O silêncio e a falta de pessoas (guias, guardas e turistas) contribuíram pra deixar a impressão de estar viajando por um lugar desconhecido, que poucas pessoas tiveram o prazer de visitar e desvendar. Um ótimo exercício mental, na minha opinião, é se sentar no topo do campanário e tentar imaginar como seria tudo aquilo se os jesuítas tivessem conseguido terminar as obras da redução. Demais.
Pra entrar
nas duas reduções paguei aproximadamente 7.000 guaranis, e isso me deu direito ao passeio guiado. Não encontrei nenhum guia por lá, mas não senti falta disso, não. Gosto de estudar muito bem o meu destino antes de sair de casa, e quando estou nele fico um bom tempo contemplando em silêncio. ; )
Ainda em Santíssima Trinidad encontrei dois viajantes, Todd e Blanca (USA e Paraguay, respectivamente), e fomos juntos para a outra ruína. Pagamos 5.000 guaranis por um ônibus que nos levou 10 km pra dentro do mato, do lado esquerdo da rodovia, e que teve que dar partida no tranco. Pois é, NO TRANCO! O olhar cúmplice de pavor que troquei com o Todd assim que começamos a descer a colina com o ônibus desligado vai ficar pra sempre na minha memória!
Aliás, esse ônibus é digno de nota... Além de antigo, ele estava totalmente acabado, enferrujado, com as janelas sujas (de barro - a estrada era de terra), estofado rasgado, motor barulhento e portas que não fechavam. Não tirei nenhuma foto dele, infelizmente; mas
a Raya tirou quando foi pra lá e me deixou pegar emprestado uma! Thanks!
A outra ruína está bem mais conservada,
mas achei menos interessante que a de Santíssima Trinidad. Ela é bonita, claro, e também é muito grande - mas a primeira é muito mais grandiosa. Passei menos tempo conhecendo o lugar, mas fiquei algumas horas sentada sob as árvores conversando com o casal que tinha encontrado.
Voltar pra Encarnación foi difícil. Esperamos duas horas por um ônibus, vendo a chuva se formar sobre nossas cabeças, e nada de passar um... Eu estava ficando preocupada, pois já era noite e estava muito longe da segurança do albergue, mas os moradores que aguardavam no ponto conosco nem se preocupavam. Segundo eles, é normal um ônibus atrasar desse jeito, principalmente ônibus sentido Encarnación. E eles esperavam com tanta calma e paciência que me senti mal por estar com pressa.
Consegui voltar pra Argentina debaixo de chuva.
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