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Published: September 2nd 2006
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A nossa curiosidade nos deu a brilhante idéia de passar as férias de verão na itália. Todos nos recomendavam o norte da Sardenha, chamado “o top”, a ilha mais chic. Vimos umas fotos: “wooow!” ... la fomos nós!
Sempre gostei de viajar de navio, especialmente se você pode embarcar junto com o carro... Isso mesmo, eles o chamam de
Traghetto (Balsa). Partimos felizes rumo ao porto a 2 horas de Roma e chegando lá nos posicionamos com outros 500 carros perfeitamente organizados em zig-zag.
Nosso navio chegou com 2h 30m de atraso.
Finalmente abriram os portões e começamos a nos mover ao som dos gritos ameaçadores dos controladores de bordo e socos no capô do carro. Subimos para o salão do navio onde ficam as poltronas, o bar e os banheiros vomitados da viagem anterior.
Foram 4h 30m de pura diversão adivinhando as raças dos cachorros que circulavam pelos corredores e o sobe-desce de crianças para o deck. Pena que não deu para escutar o filme que passou no telão, pois eles não distribuem fones de ouvido: “senão roubam!”, justificaram.
Chegamos ao porto de “Golfo Aranci” e atravessamos mais 2h 30m de carro até o nosso primeiro destino: “Stintino”.
Cidade de 800 habitantes, orgulhosa pelos 100 anos de matança de atum do passado, hoje extintos naquelas áquas, com direito a museu e tudo. Vive exclusivamente do turismo de verão, ou seja, da grana que conseguem extorquir dos turistas em 3/4 meses para durar o ano todo e assim vocês podem imaginar quanto custam as coisas por alí.
A famosa cidadezinha não oferece nada de interessante e tem uma estrutura turística péssima em todos os sentidos. Apesar de dois pequenos portos, não conseguimos encontrar nos restaurantes locais um simples prato de peixe fresco que fosse. Tudo porque os pescadores da cidade usam seus barcos para passear com os turistas. Dinheiro fácil, como eles gostam aqui!
A única praia de areia da cidade, a “Pelosa”, é distante uns 3 kms do centrinho. O desafio de conseguir estacionar na rua da praia custa R$ 4,80 por hora: você tem de adivinhar o tempo que vai querer ficar na praia, que os fiscais escrevem num papel tipo Zona Azul, pagar antecipado e depois controlar o relógio para ir embora na hora certa. Os guardinhas ficam de plantão 24 hs pra faturar com as multas. Um verdadeiro estresse!
A “Pelosa” é
considerada uma das mais belas praias da italia e não vi por quê. São uns poucos metros de areia que está diminuindo, porque nos anos 60 retiraram dali as dunas que a alimentavam, para construir hotéis horrorosos e ruas de acesso. Mínima infra-estrutura e 50 pessoas por metro quadrado. O mar é lindo, mas extremamente salgado e muito gelado. A parte mais bonita da praia eles ocupam com guarda-sóis e cadeirinhas arrumadinhos como num teatro, chamado
lido e que alugam pela bagatela de R$ 63,00 ao dia. E nunca tinha lugar!!! Esticamos nossas toalhas, mas fomos logo cobertos pela areia que espirrava dos chinelos da multidão. Notei que temos uma certa ética para caminhar na areia no Brasil.
Impossível também não reparar no lixo de todo tipo espalhado pelo chão e nos arbustos que se transformam em banheiro público. Que nojo!!!!
Tentamos fugir da carneficina e nossos amigos nos levaram para o “Mare di fuori”. Praia rochosa, fedida, cheia de farofeiros.... vento gelado ... Não gosto nem de lembrar.
Vamos pra outra: “Le Saline”. Uma antiga salina abandonada, mar de tombo, coberta de pedrinhas redondas misturadas com algas gosmentas, que sem as nossas providenciais Havaianas nao se podia
Praia a "Pelosa"
Alguém ve a areia? caminhar. Lotada com apenas uma barraquinha e um banheiro químico imundo e trancado a cadeado. Fila para PAGAR e pegar a chave.
Tentamos então ir para a praia “Coscia di Donna”, sempre de rochas e... farofeiros... muitos farofeiros... Profissionais!!!! Barraca, geladeiras de isopor, mesas, louça, cadeiras, churrasqueira, brinquedos, macarrão, lixo!!! Nunca vi nada parecido...
Entendo porque não tem uma CONAR aqui! Propaganda enganosa na italia é a lama do negócio!!!!
Proximo destino: “Alghero”. Uma cidadezinha portuária deliciosa que preserva muito a colonização espanhola da Sardenha. Até o dialeto que eles falam é quase catalão. A influência é bem visível também na culinária e na arquitetura. Finalmente tivemos jantares deliciosos a base de peixe e crustáceos. As maiores lagostas que vi por aqui. E como praia de cidade portuária não é la grande coisa fomos procurar outras distrações, incluindo um passeio de barco-submarino de cujas janelinhas se podia ver o fundo do mar. Lembro de um desses quando era criança no Guarujá! Aqui é NOVIDADE! Conseguimos ver uma família de medusas, muitas algas e uns peixinhos prateados ... Snif! “Os enormes peixes coloridos são privilégio das águas tropicais”, me explica o capitão. No retorno subimos para o deck e
Banhista na "Pelosa"
"Saco! Ainda nao inventaram a televisao inflavel?" terminamos o passeio admirando a paisagem externa, que era mais interessante.
Desistimos de praia e fomos visitar o que a itália tem de mais interessante: as ruinas.
“Fertilia” é uma cidade inventada pelo fascismo, esquálida por definiçao, mas acolhe um acervo arqueológico não indiferente, que foi ignorado pelo regime.
Visitamos primeiro a necrópole de “Anghelu Ruju”, um apanhado de grutas artificiais de tipos poço e corredores em forma de “T”, escavado a mão e utilizado por diversas culturas de 3.300 a.C. a 1.500 a.C.
Entrando nas tumbas ainda é possivel ver incisões em forma de cabeça de touro que te dá arrepios se você pensa que foram feitos 5.300 anos atrás.
Fomos à “Palmavera” um dos complexos nurágicos mais importantes da Sardenha. Um Nurague é um tipo de cabana de pedra circular de aproximadamente 5 m de diâmetro, coberta por uma cúpula em fibra natural. “Palmavera” é uma vila que teria sido habitada em 3 fases culturais distintas dais quais a primeira remonta a 1.500 a.C. Nas diversas campanhas de escavação encontraram exemplos de uma comunidade precisa e organizada e pesquisas recentes descobriram evidências de um incêndio que devastou a vila no fim do VIII séc. a.C.
Banhistas na "Pelosa"
pouco espaço = mais respeito ao proximo
Loooooogico!
Biquini e calção embaixo das roupas nos faziam cócegas e dalí partimos para “Punta Negra”, uma recomendada prainha muito bonita e tranqüila, sempre de água em tons de azul turquesa, mas decepcionantemente esclusiva do único hotel 5 estrelas da cidade. Que abuso!!!!
Resolvemos “beber para esquecer” e carregamos as tralhas diretamente para as cantinas “Sella&Mosca”, um império do vinho sardo. Um palácio maravilhoso em meio a alqueires e mais alqueires de parreiras. Visitamos, degustamos e compramos várias garrafas de tintos e brancos que não se encontram na nossa região.
Ja chutando o pau da barraca, passamos das ruínas ao medioeval, só para não sentir saudades de casa e fomos para "Castelsardo". Pitoresca cidadezinha de mar, sempre com um pequeno porto e nada de praia, mas com um importante castelo construído no pico de uma colina pela família "Doria", no séc. XII. Mistura incomum. Uma cidade medieval dificilmente era construída assim tão perto do mar, pois ficava mais vulnerável a invasões.
Bem, mais alguns dias de “praia” e chegou a hora de ir embora. GRAÇAS A DEUS!!!!
Nosso navio EXPRESSO partia às 20h30 e considerando a viagem até o porto e o tempo de embarque, às
17h30 já estávamos na estrada. Foi quando nos telefonaram da companhia de transporte naval:
- "Sou fulana da Sardinia Ferries, o seu navio quebrou e a viagem foi cancelada."
- "Como?"
- "É isso ae que a Senhora ouviu. Temos o último navio COMUM que parte às 23h30 mas atraca em Livorno às 7h30 de amanhã e não temos cabines disponíveis."
- "Mas eu tenho navio expresso, cabine dupla... sao 8 horas de viagem e Livorno está a 500 kms de Roma!!! Quais são as alternativas????"
- "Nenhuma! Até logo, tenho outras ligações a fazer!"
Chocados, não trocamos palavra durante o resto da viagem.
Ameaçava um temporal. A única lanchonete do porto era indigna e assim passamos 7 horas de espera, dentro do carro, como todos os outros, assistindo ao acúmulo infinito de veículos e passageiros das duas balsas.
Partimos com mais e ainda que a base de tapa, nos arrumaram duas poltronas na sala em cima do motor e percorremos as 8 horas de viagem trepidando o cérebro.
O navio era lento, mas gigantesco, bonito, com vários bares e restaurantes, música ao vivo e um pequeno cassino, mas estavamos super cansados e era difícil circular. Tinha
"Mare di Fuori"
Dificil era disfarçar a cara de decepçao... acho que nao consegui, né? gente deitada em cada centímetro de carpete junto com cachorros de todos os tamanhos, que eu ainda não entendi porque vão juntos com as pessoas.
No banheiro não se podia respirar!!! Vocês nao fazem idéia do que era!!! E quando reclamei da nojeira o tripulante responsavel me diz:
- "... a Senhora TEM DE ENTENDER que nos tivemos 1.300 pessoas na viagem anterior!"
- "O que???? E' o SENHOR que TEM DE ENTENDER que o cliente aqui sou eu e que paguei muito caro para esperar HOOOORAS neste porto HORROROSO, entrar num banheiro NOJENTO e ouvir a sua resposta RIDICULA!!!!!
Quinze minutos depois o banheiro foi (meio) limpo! Ahhh... Nada como saber comunicar-se...
No primeiro minuto da chegada, ainda com as portas de saída trancadas, as 3.000 pessoas a bordo entupiram as escadas com seus respectivos cachorros, crianças e outros animais e continuavam a se acotovelar por um pouco de oxigênio, mesmo se dos autofalantes davam constantes advertências para esperarem nos salões.
Desembarcamos em Livorno e tivemos que enfrentar mais 3 horas de viagem tensa com o sono e o cansaço piorando tudo. Chegamos em coma depois de um total de 20 horas de viagem!
Vamos ter
Praia "Coscia di Donna"
Farofeiros de profissao! de tirar férias para descansar destas férias.
Praia na Italia? NUNCA MAIS!!
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leticia
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arquitetura da sardenha
tudo muito bem só q. faltou fotos das construções na sardenha que são veradeiras casas organicas e maravilhosas ,muito no q. se chama progressive architecture. se alguém tiver por favor adicione. obrigada